Page 115 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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julgar a minha interpretação.
— Ganhar o Oscar da Academia — perguntou Hagen cautelosamente — é realmente tão
importante para a carreira de um ator, ou é apenas essa besteira de publicidade que na verdade
não significa nada de um modo ou de outro? — Fez uma pausa e acrescentou prontamente: —
Exceto naturalmente a glória, todo mundo gosta de glória.
Johnny Fontane arreganhou os dentes para ele e respondeu:
— Exceto meu Padrinho. E você. Não, Tom, não é apenas um monte de besteiras. Um
prêmio da Academia pode garantir um artista por dez anos. Ele pode escolher os papéis. O
público vai vê-lo. Não é tudo, mas para um artista é a coisa mais importante da profissão. Estou
contando ganhá-lo. Não porque eu seja um artista tão grande, mas porque sou conhecido
principalmente como cantor e o papel é estupendo. E me saí muito bem nele, fora de
brincadeira.
Tom Hagen deu de ombros e disse:
— Seu Padrinho me falou que da maneira que as coisas estão agora você não tem qualquer
possibilidade de ganhar o prêmio.
Johnny ficou zangado.
— Que diabo está você dizendo? O filme ainda nem foi cortado, muito menos exibido. E Don
Corleone nem está no negócio do cinema. Por que diabo você voou quase cinco mil quilômetros
para me dizer essa bobagem?
Ele ficou tão abalado que quase chorou.
— Johnny, nada sei a respeito de toda essa droga de filme — replicou Hagen gravemente. —
Lembre-se, sou apenas um mensageiro de Don Corleone. Mas discutimos todo o seu caso muitas
vezes. Ele se preocupa com você, a respeito de seu futuro. Sente que você precisa da ajuda dele
e ele quer resolver o seu problema de uma vez para sempre. Esse é o motivo por que estou aqui,
para pôr a coisa em ação. Mas você precisa começar a crescer, Johnny. Precisa deixar de
pensar em você como cantor ou como artista de cinema. Tem de começar a pensar em você
como organizador, como um sujeito forte.
Johnny Fontane deu uma gargalhada e encheu o seu copo.
— Se eu não ganhar esse Oscar, serei tão forte como qualquer uma das minhas filhas. Perdi
a voz; se eu a recuperasse poderia conseguir muita coisa. Com os diabos! Como é que meu
Padrinho sabe que não ganharei o prêmio? Está bem, eu acredito que ele saiba. Ele nunca erra.
Hagen acendeu uma cigarrilha.
— Fomos informados de que Jack Woltz não vai gastar dinheiro do estúdio para apoiar a sua
candidatura. De fato, ele não mandou avisar a todos os votantes que não quer que você vença.
Mas recusando dar dinheiro para publicidade e coisas semelhantes, ele conseguirá o seu intento.
Está também trabalhando para que outro sujeito obtenha tantos votos da oposição quantos ele
puder angariar. Está utilizando toda a sorte de suborno: empregos, dinheiro, mulheres, tudo. E está
procurando fazer isso sem prejudicar o filme ou prejudicando o mínimo possível.
Johnny Fontane deu de ombros. Encheu de uísque o seu copo e bebeu-o.
— Então eu estou morto.
Hagen observava-o fazendo um gesto de desagrado com a boca.
— Beber não lhe adianta nada — ponderou.
— Foda-se! — respondeu Johnny.
O rosto de Hagen de repente tomou-se serenamente impassível. Então ele disse:
— Muito bem, vou pôr isso na conta do seu descontrole.
Johnny Fontane largou o corpo de bebida e foi postar-se em frente a Hagen.
— Lamento ter dito aquilo — falou ele. — Por Deus, eu lamento. Estou desabafando em
cima de você porque quero matar esse canalha do Jack Woltz, mas tenho medo de complicar o
meu Padrinho. Assim eu me zanguei com você.
Havia lágrimas nos seus olhos. Ele atirou o copo de uísque vazio de encontro à parede, mas