Page 117 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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Johnny manteve-se calado por algum tempo. Depois perguntou tranqüilamente:
— Mais alguma coisa?
Hagen sorriu.
— Você quer dizer, vai ter de fazer algum favor em troca de um empréstimo de vinte
milhões de dólares? Certamente vai. — Esperou que Johnny dissesse alguma coisa e depois
concluiu: — Nada que você não pudesse fazer, de qualquer modo, se Don Corleone pedisse a
você que fizesse.
— O próprio Don Corleone tem de me pedir se for algo muito sério — frisou Johnny. —
Você entende o que quero dizer? Não atenderei a pedido seu ou de Sonny.
Hagen ficou surpreso com esse bom senso. Finalmente, Fontane tinha algum miolo. Tinha
senso para saber que Don Corleone gostava muito dele e era muito esperto para não pedir a ele
que fizesse algo arriscado, enquanto Sonny o faria.
— Deixe-me assegurar-lhe uma coisa — acentuou Hagen. — Seu Padrinho deu a mim e a
Sonny instruções rigorosas para não envolvê-lo, de qualquer modo, em algo que possa resultar
em publicidade desfavorável para você em virtude de alguma falha nossa. E ele próprio jamais
fará isso. Posso garantir que qualquer favor que ele lhe pedir, você lhe oferecerá, antes mesmo
que ele solicite. Está bem?
Johnny sorriu.
— Está bem — respondeu.
— Don Corleone também tem confiança em você — acrescentou Hagen. — Acha que você
tem cabeça e, assim, pensa que o banco fará dinheiro com o investimento, o que significa que ele
ganhará dinheiro com isso. Assim é realmente um negócio, não esqueça isso. Não vá gastar esse
dinheiro com mulheres. Você pode ser seu afilhado predileto, mas vinte milhões de dólares é um
bocado de grana. Ele vai ter de se arriscar muito para conseguir esse dinheiro para você.
— Diga a ele que não se preocupe — respondeu Johnny. — Se um cara como Jack Woltz
pode ser um grande gênio do cinema, qualquer pessoa pode.
— Isso é o que pensa o Padrinho — retrucou Hagen. — Você pode providenciar um carro
para me levar de volta ao aeroporto? Já disse tudo o que tinha a dizer. Quando você começar a
assinar contratos para tudo, arranje os seus próprios advogados, não quero estar metido nisso.
Mas gostaria de ver tudo antes de você assinar, se você concordar com tal coisa. Além disso,
você nunca terá qualquer dificuldade trabalhista. Isso reduzirá os custos de seus filmes até certo
ponto. Assim, quando os contadores introduzirem alguma quantia por conta disso, não faça caso
dela.
— Terei de conseguir a sua aprovação para qualquer outra coisa, roteiros, artistas, coisas
assim? — indagou Johnny cauteloso.
Hagen balançou a cabeça.
— Não. Pode acontecer que Don Corleone se oponha a algo mas falará diretamente com
você, se isso ocorrer. Mas não posso imaginar o que seja. Os filmes não o afetam em nada, de
qualquer forma, assim ele não tem interesse. E ele não acredita em intromissão, isso posso
garantir a você por experiência própria.
— Bem — disse Johnny. — Eu mesmo o levarei de carro ao aeroporto. E agradeça ao
Padrinho por mim. Eu poderia telefonar para ele a fim agradecer, mas ele nunca atende o
telefone. A propósito, por que isso?
Hagen deu de ombros.
— Don Corleone raramente fala pelo telefone. Não quer a sua voz gravada, mesmo dizendo
algo completamente inocente. Receia que possam alterar as suas palavras de forma que pareça
que está dizendo outra coisa inteiramente diferente. Penso que é este o motivo. De qualquer
modo, sua única preocupação é que venha algum dia a ser enquadrado pelas autoridades. Assim,
ele não quer dar margem.
Entraram no carro de Johnny e partiram para o aeroporto. Hagen estava pensando que
Johnny era um sujeito melhor do que imaginara. Ele já aprendera alguma coisa, e o fato de