Page 114 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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visando alguma vantagem econômica ou os favores do seu famoso marido.
Johnny não receava que ela esperasse uma reconciliação porque ele quisera dormir com ela
na noite anterior. Nenhum dos dois pretendia renovar o extinto casamento. Ela compreendia a
fome de beleza do ex-marido, seu impulso irresistível para mulheres novas muito mais bonitas do
que ela. Era sabido que ele sempre dormia com suas companheiras de estrelato pelo menos uma
vez. O seu encanto juvenil era irresistível para elas, tal como a beleza era para ele.
— Você tem de começar a se vestir daqui a pouco — disse ela. — O avião de Tom está para
chegar.
Ela pôs as filhas para fora do quarto.
— Sim — respondeu Johnny. — A propósito, Ginny, você sabe que estou tratando de me
divorciar? Vou ser um homem livre novamente.
Ela o observou vestir-se. Ele sempre tinha roupa limpa na casa de Virginia desde que
fizeram um novo acordo depois do casamento da filha de Don Corleone.
— O Natal está apenas a duas semanas — disse ela. — Posso contar com você aqui?
Era a primeira vez que ele pensava em feriados. Quando a sua voz estava em forma, os
feriados eram dias lucrativos para cantar, mas mesmo então o Natal era sagrado. Se ele faltasse
a esse, seria o segundo. No ano anterior estivera cortejando a sua segunda mulher na Espanha,
procurando convencê-la a se casar com ele.
— Sim — respondeu ele. — Na véspera e no dia de Natal.
Não mencionou a véspera do Ano-Novo. Essa seria uma das noites excepcionais de que ele
precisava de vez em quando para tomar um pileque com os amigos, e não queria uma mulher
consigo então. Não sentia qualquer remorso por isso.
Virginia o ajudou a vestir o paletó e o escovou. Ele era sempre extremamente exigente no
vestir. Começou logo a reclamar porque a camisa que pusera não estava lavada a seu gosto, as
abotoaduras, um par que ele não usara durante algum tempo, estavam um pouco espalhafatosas
para o seu modo atual de vestir. Ela sorriu tranqüilamente e disse:
— Tom não notará a diferença.
As três mulheres da família acompanharam-no até a porta e depois até o local em que o seu
carro estava estacionado. As duas meninas seguravam as mãos dele, uma de cada lado. Virginia
ia um pouco atrás. Quando chegaram junto do carro, Johnny virou-se e atirou cada uma das
meninas separadamente para o alto, beijando-a quando a aparava na descida. Depois beijou a
mulher e entrou no carro. Ele não gostava de despedidas prolongadas.
As providências necessárias tinham sido tomadas pelo seu relações-públicas e ajudante.
Diante de casa, encontrou à sua espera um carro alugado com motorista. Nele estavam o seu
relações-públicas e outro elemento de seu séquito. Johnny estacionou o seu carro e entrou no
outro, e eles partiram para o aeroporto. Esperou dentro do veículo enquanto o relações-públicas
saía para aguardar o avião de Tom Hagen. Quando Tom entrou no carro, eles trocaram um
aperto de mão e seguiram com destino à casa de Johnny.
Finalmente ele e Tom ficaram a sós na sala de estar. Havia certa frieza entre os dois. Johnny
nunca perdoara Hagen por ter servido de obstáculo para que ele entrasse em contato com Don
Corleone quando este estava zangado com o ator, naqueles maus tempos antes do casamento de
Connie. Hagen jamais se desculpava de suas ações. Não podia fazê-lo. Era parte de sua função
servir de pára-raios para os ressentimentos que as pessoas não tinham a coragem de sentir com
respeito ao próprio Don Corleone, embora ele os merecesse.
— Seu Padrinho mandou-me aqui para dar-lhe uma ajuda em certas coisas — anunciou
Hagen. — Desejaria que tudo ficasse resolvido antes do Natal.
Johnny Fontane deu de ombros.
— O filme está terminado. O diretor foi um cara direito e me tratou bem. Minhas cenas são
muito importantes para serem cortadas apenas para que Woltz se vingue de mim. Ele não pode
estragar um filme de dez milhões de dólares. Assim, tudo depende agora de como a gente boa