Page 109 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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geralmente, lhe trazia bons resultados.
A reação de Sharon foi esquisita. Ela aceitou tudo, o contato do dedo, o beijo, depois afastou
seus lábios dos dele, afastou o corpo deslizando levemente para trás ao longo do sofá, e pegou o
seu copo de bebida. Era uma recusa fria, mas decisiva. Acontecia às vezes. Raramente; mas
acontecia. Johnny pegou o seu copo de bebida e acendeu um cigarro.
Sharon começou a falar de maneira meiga, muito suave:
— Não é que eu não goste de você, Johnny, você é muito mais agradável do que eu pensava.
E não é porque eu não seja esse tipo de garota. Ë que eu preciso ser excitada para fazer isso com
um homem, você entende o que quero dizer?
Johnny Fontane sorriu para ela. Ele ainda gostava dela.
— E eu não a excitei?
Ela mostrou-se um tanto embaraçada.
— Bem, você sabe, quando você já era um grande ator e cantor, eu ainda era uma menina
pequena. Em relação a você, eu era a geração seguinte; Honestamente, não é que eu queira
fazer-me de “gostosa”. Se você fosse James Dean ou alguém mais ou menos da minha idade, eu
tiraria as calças num segundo.
Johnny já não gostava tanto dela agora. Ela era meiga, espirituosa, inteligente. Não ficara
ansiosa para trepar com ele ou procurara excitá-lo porque as suas relações de amizade o
ajudariam na vida artística. Era realmente uma garota direita. Mas havia outra coisa ainda que
ele devia reconhecer. Isso acontecera algumas vezes antes. Muitas garotas tinham comparecido
a encontros com ele com o espírito prevenido para não ir para a cama, pouco importando quanto
gostassem dele, apenas para contar às amigas — e, mais, a si mesmas — que recusaram a
oportunidade de trepar com o grande Johnny Fontane. Era uma coisa que ele compreendia,
agora que estava mais velho, e com a qual não se aborrecia.
E agora que se desinteressara por ela, sentiu-se mais tranqüilizado. Bebeu um gole de
conhaque e começou a contemplar o Oceano Pacífico. Ela falou então:
— Espero que você não esteja magoado, Johnny. Acho que sou antiquada, acho que em
Hollywood se espera que uma garota tire as calças com a mesma facilidade com que dá boa-
noite ao namorado. Estou aqui há pouco tempo.
Johnny sorriu para ela e deu-lhe um tapinha na face. Ele desceu a mão para puxar a sua saia
discretamente a fim de esconder-lhe os joelhos redondos e sedosos.
— Não estou magoado, não — respondeu ele. — É bom encontrai uma garota antiquada.
Porém não lhe disse o que sentia: o alívio de não ter de provar que era um grande amante, de
não ter de corresponder exatamente à sua imagem divina apresentada na tela. Não ter de ouvir a
garota procurando reagir como se ele realmente tivesse correspondido a essa imagem, fazendo o
máximo de um simples ato de rotina, o que realmente isso era.
Beberam mais um pouco, trocaram mais alguns beijos frios, e então ela resolveu ir embora.
Johnny perguntou delicadamente:
— Posso convidar você para jantar outra noite?
Ela agiu com franqueza e honestidade à medida que a coisa se aproximava do fim.
— Sei que você não quer perder seu tempo e depois ficar decepcionado — respondeu ela. —
Obrigada pela noite maravilhosa. Algum dia contarei a meus filhos que ceei com o grande
Johnny Fontane inteiramente só em seu apartamento.
Ele sorriu para ela.
— E que você não cedeu — retrucou ele.
Ambos sorriram.
— Eles nunca acreditarão nisso — disse ela.
E então Johnny, sendo um pouco falso por sua vez, perguntou:
— Eu lhe darei isso por escrito, você quer?
Ela balançou a cabeça. Ele continuou então: