Page 107 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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CAPÍTULO 12
    JOHNNY FONTANE despediu-se despreocupadamente do criado dizendo:
    — Até amanha de manhã, Billy.
    O mordomo preto baixou a cabeça respeitosamente e retirou-se do enorme salão, misto de
  living e sala de  jantar,  com  vista  para  o  Oceano  Pacífico.  Era  uma  espécie  de  cumprimento
  amistoso de despedida, não o cumprimento servil de um criado, e dado somente porque Johnny
  Fontane tinha companhia para o jantar.
    A companhia de Johnny era uma garota chamada Sharon Moore, de Greenwich Viliage,
  Nova  York,  que  viera  a  Hollywood  tentar  um  pequeno  papel  num  filme  que  estava  sendo
  produzido por um antigo namorado que obtivera êxito na capital do cinema. Ela visitara o estúdio
  no  momento  em  que  Johnny  estava  trabalhando  no  filme  de  Woltz.  Johnny  achou-a  jovem,
  simpática, encantadora e espirituosa, e a convidara a ir ao seu apartamento para jantar com ele
  naquela  noite.  Os  convites  para  jantar  de  Johnny  já  eram  famosos,  sendo  considerados  um
  privilégio, e ela evidentemente aceitou.
    Sharon Moore obviamente esperava que ele viesse com uma conversa muito forte devido à
  sua reputação, mas Johnny detestava o método grosseiramente “carnal” de Hollywood. Jamais
  dormia  com  uma  pequena  a  não  ser  que  houvesse  nela  algo  de  que  ele  realmente  gostasse.
  Exceto, evidentemente, às vezes, quando ele estava muito bêbedo e ao acordar se via na cama
  com uma garota que ele nem mesmo se lembrava de ter encontrado ou de ter visto antes. E
  agora  que  estava  com  35  anos  de  idade,  divorciado  uma  vez  e  separado  da  segunda  mulher,
  talvez  com  mil  troféus  notórios  de  conquistas  amorosas,  ele  simplesmente  não  se  achava  tão
  ansioso.  Mas  havia  algo  em  Sharon  Moore  que  lhe  despertou  alguma  paixão  e  assim  ele  a
  convidou para jantar.
    Johnny  jamais  comia  muito,  mas  sabia  que  as  moças  bonitas  passavam  fome  a  fim  de
  comprar roupas bonitas, e geralmente comiam bastante quando eram convidadas, de forma que
  havia comida em abundância na mesa. Havia também muita bebida; champanha num balde,
  uísque,  conhaque  e  licores  no  aparador.  Johnny  serviu  as  bebidas  e  os  pratos  de  comida  já
  preparados. Quando acabaram de comer, ele a levou para a enorme sala de estar com a sua
  parede de vidro, pela qual se tinha uma magnífica vista sobre o mar. Pôs uma pilha de discos de
  Ella  Fitzgerald  no hi-fi  e  instalou-se  no  divã  com  Sharon.  Bateu  um  papo  com  a  moça,
  procurando descobrir o que ela fora quando criança, se tinha sido masculinizada ou louca por
  meninos,  se  tinha  sido  feia  ou  bonita,  triste  ou  alegre.  Ele  sempre  achava  esses  detalhes
  emocionantes,  isso  sempre  lhe  evocava  o  carinho  que  ele  precisava  para  deitar  com  uma
  mulher.
    Eles aconchegaram-se no sofá, cordial e confortavelmente. Johnny beijou-lhe os lábios, um
  beijo cordialmente frio, e como ela continuasse a se comportar desse jeito ele deixou que a coisa
  ficasse  assim.  Através  da  enorme  janela  panorâmica,  ele  podia  ver  o  lençol  azul-escuro  do
  Pacífico deitado horizontalmente sob o luar.
    — Por que não botou um de seus discos para tocar? — perguntou Sharon.
    Sua voz era irritante. Johnny sorriu para ela. Achava graça por ela querer irritá-lo.
    — Não sou desse tipo de Hollywood — respondeu ele.
    — Toque algum para mim — pediu ela. — Ou então cante. Você sabe, como no cinema.
  Vou me babar e me derreter toda por você tal como aquelas garotas fazem na tela.
    Johnny deu uma boa gargalhada. Quando era mais moço, fazia justamente essas coisas e o
  resultado era sempre teatral, as garotas procurando mostrar-se sensuais e derretendo-se, fazendo
  os  olhos  transbordar  de  desejo  para  uma  câmara  cinematográfica  imaginária.  Ele  jamais
  pensaria em cantar para uma pequena agora; simplesmente, porque há meses não cantava, não
  tinha  confiança  em  sua  voz.  Além  disso,  os  amadores  não  imaginam  como  os  profissionais
  dependem de ajuda técnica para parecerem tão bons como são. Ele podia tocar os seus discos,
  mas  sentia  a  mesma  timidez  em  ouvir  sua  voz  apaixonada  de  rapaz  que  um  homem  idoso,
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