Page 108 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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careca, cada vez mais gordo se sente em mostrar seus retratos quando era moço e estava na flor
da idade.
— Minha voz está fora de forma — desculpou-se. — E, honestamente estou enjoado de ouvir
a mim mesmo.
Ambos tomaram um gole da bebida.
— Disseram-me que você está formidável nesse filme — disse ela. — É verdade que você
trabalhou nele de graça?
— Apenas uni pagamento simbólico — replicou Johnny.
Ele se levantou para encher novamente de conhaque o copo dela, deu-lhe um cigarro com o
monograma de ouro e fez funcionar o isqueiro a fim de acendê-lo. A garota tirou uma baforada,
tomou um gole de bebida, e ele sentou-se ao seu lado. O copo dele tinha muito mais conhaque do
que o dela, Johnny precisava da bebida para esquentar-se, para animar-se, para embriagar-se. A
situação dele era o inverso do que normalmente ocorre. Tinha de embriagar-se em lugar da
garota. Geralmente as garotas desejavam muito o que ele não desejava. Os dois últimos anos
haviam sido um inferno para o seu ego, e ele usava esse meio simples para recuperá-lo,
dormindo uma noite com uma garota apetitosa, levando-a para jantar algumas vezes, ofertando-
lhe um presente caro e depois dando-lhe o fora da maneira mais delicada possível para não
melindrá-la. E depois elas poderiam sempre dizer que tiveram um “caso” com o grande Johnny
Fontane. Não era amor verdadeiro, mas não se podia deixar de falar nele se a garota era bonita e
realmente simpática. Johnny detestava aquelas mulheres antipáticas, prostituídas, que queriam
fazer amor com ele e depois corriam para dizer que tinham trepado com o grande Johnny
Fontane, acrescentando sempre que tinham gozado mais. O que o espantava mais do que
qualquer outra coisa em sua carreira eram os maridos condescendentes que quase lhe diziam no
rosto que perdoavam às esposas, pois que era permitido até mesmo à mulher casada mais
virtuosa ser infiel com um grande cantor e artista de cinema como Johnny Fontane. Isso
realmente o desconcertava.
Johnny gostava de Ella Fitzgerald em discos. Gostava desse tipo de canto limpo, desse tipo de
linguagem limpa. Era a única coisa na vida que ele realmente entendia, e sabia que entendia
melhor do que qualquer outra pessoa no mundo. Agora, deitado de costas no divã, com o
conhaque aquecendo-lhe a garganta, ele sentia um desejo de cantar, não música, mas de
pronunciar as palavras com os discos, embora isso fosse uma coisa impossível de se fazer na
frente de uma outra pessoa. Pôs a sua mão livre no colo de Sharon, tomando a bebida que
segurava com a outra mão. Sem qualquer malícia, mas com a sensualidade de uma criança
buscando carinho, a sua mão que estava no colo da garota levantou-lhe o vestido de seda,
deixando à mostra a coxa branca como leite acima da meia de pura malha de ouro e, como
sempre, apesar de todas as mulheres, de todos os anos, de toda a familiaridade, Johnny sentiu o
calor fluido pegajoso correr pelo seu corpo à vista disso. O milagre ainda acontecia, e que faria
ele quando isso lhe falhasse como a sua voz estava falhando?
Ele estava pronto agora. Pôs o copo de bebida na comprida mesa de coquetel embutida e
virou o corpo para ela. Johnny era muito seguro, muito decidido e contudo delicado. Não havia
nada malicioso nem de exageradamente lascivo em seus carinhos. Ele beijou-lhe os lábios
enquanto suas mãos subiam para os seios de Sharon. A sua mão não caiu em suas coxas quentes,
cuja pele ele sentia ser tão macia. O beijo que ela deu nele era quente, mas não apaixonado, e
ele preferia que fosse assim naquele momento. Detestava garotas que se inflamavam de repente,
procurando o gozo rápido, através de movimentos mecânicos.
Depois ele fez uma coisa que sempre fazia, e que até então nunca deixara de excitá-lo.
Delicadamente, e tão leve quanto era possível, introduziu a ponta de seu dedo médio entre as
coxas de Sharon. Algumas garotas nem mesmo sentiam esse movimento inicial para a cópula.
Outras ficavam atordoadas, sem terem certeza de que era um contato físico porque ao mesmo
tempo ele sempre as beijava ardentemente na boca. Outras ainda pareciam sugar-lhe o dedo ou
fazê-lo entrar mais com um impulso pélvico. E naturalmente, antes de ele se tomar famoso,
algumas garotas esbofetearam-lhe o rosto por causa disso. Era uma técnica especial sua e,