Page 103 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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Sollozzo disse brandamente para o capitão:
— Vou falar italiano com Mike, não porque eu não confie em você, mas porque não posso
explicar-me muito bem em inglês e quero convencer Mike de que estou bem intencionado, que é
vantagem para todos nós que cheguemos a um acordo esta noite. Não se ofenda com isso, não é
que eu não confie em você.
O Capitão McCluskey respondeu rindo ironicamente para os dois:
— Certamente, vocês dois podem conversar à vontade. Vou-me concentrar na vitela com
espaguete.
Sollozzo começou a falar para Michael rapidamente em siciliano:
— Você deve compreender que o que aconteceu entre mim e seu pai foi uma questão
estritamente de negócio. Tenho um grande respeito por Don Corleone e gostaria de ter a
oportunidade de trabalhar para ele. Mas você deve compreender que seu pai é um homem
antiquado. Atrapalha a marcha do progresso. O negócio em que estou agora é que vai dar
dinheiro, é a onda do futuro, há milhões de dólares para todo mundo ganhar. Mas o seu pai
atrapalha a marcha do negócio por causa de certos escrúpulos fictícios. Procedendo assim, quer
impor sua vontade a homens como eu. Sim, sim, eu sei, ele diz para mim: “Mete os peitos, é seu
negócio”, mas nós dois sabemos que isso é artificial. Temos que pisar no calo um do outro. O que
ele realmente quer é dizer-me que não posso trabalhar com o meu negócio. Sou um homem que
respeita a si mesmo e não pode esperar que outro homem me imponha sua vontade; assim, o que
tinha de acontecer realmente aconteceu. Deixe-me dizer que eu tinha o apoio, o apoio tácito de
todas as Famílias de Nova York. E os membros da Família Tattaglia tornaram-se meus sócios. Se
a briga continuar, então a Família Corleone vai ficar sozinha contra todo mundo. Talvez se seu pai
estivesse bem, isso pudesse ser feito. Mas o filho mais velho não é homem igual ao Padrinho,
sem qualquer intenção de desrespeito. E o consigliori irlandês, Hagen, não é um homem igual ao
que era Genco Abbandando, que Deus o guarde. Assim, proponho uma paz, uma trégua. Vamos
cessar todas as hostilidades até que seu pai fique bom novamente e possa tomar parte nas
negociações. A Família Tattaglia concorda, graças à minhas persuasões e minhas indenizações,
em se abster de exigir justiça por seu filho Bruno. Teremos paz. Enquanto isso, preciso ganhar a
vida e farei alguma transação no meu negócio. Não peço a colaboração de vocês, mas peço a
vocês, a toda a Família Corleone, para não se meter. Estas são as minhas propostas. Suponho que
você tem autoridade para entrar num acordo, para fazer um trato.
Michael respondeu também em siciliano:
— Diga-me mais alguma coisa sobre como você pretende começar o negócio, exatamente
que papel deve a minha Família desempenhar nele e que lucro podemos tirar desse negócio.
— Você quer toda a proposta detalhadamente, então? — perguntou Sollozzo.
Michael replicou com gravidade:
— O mais importante de tudo é que devo ter garantias completas de que não serão feitos
novos atentados contra a vida de meu pai.
Sollozzo levantou a mão expressivamente retrucando:
— Que garantia posso dar a você? Sou o perseguido, o caçado. Perdi a minha oportunidade.
Você faz um juízo muito alto de mim, meu amigo. Não sou tão esperto assim.
Michael tinha agora a certeza de que a entrevista era apenas para ganhar alguns dias. Que
Sollozzo faria outra tentativa para matar Don Corleone. Bonito era que o turco o havia
subestimado como um menino inofensivo. Michael sentiu aquele delicioso e esquisito frio
percorrer-lhe o corpo. Fez o seu rosto denotar a aflição. Sollozzo perguntou prontamente:
— Que é que há?
Michael respondeu com um ar embaraçado:
— O vinho desceu-me diretamente para a bexiga. Estou segurando há algum tempo. É bom
que eu vá agora ao banheiro.
Sollozzo examinava-lhe o rosto atentamente com seus olhos pretos. Es tendeu a mão e
grosseiramente começou a apalpar a virilha de Michael, passando a mão por baixo e em torno