Page 98 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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simples. Você voltará perfeitamente são e salvo. Nós é que sofreremos o diabo depois.
    — Será que a situação ficará assim tão ruim? — perguntou Michael.
    — Muito ruim — respondeu Clemenza. — Significa uma guerra total com a Família Tattaglia
  contra  a  Família  Corleone.  Quase  todas  as  outras  formarão  ao  lado  dos  Tattaglia.  O
  Departamento  Sanitário  vai  encontrar  um  bocado  de  cadáveres  nesse  inverno.  —  Ele  deu  de
  ombros. Essas coisas têm de acontecer uma vez em cada dez anos ou coisa parecida. Elimina o
  sangue ruim. Além disso, se deixarmos que eles dominem nas coisas pequenas, dentro em pouco
  vão querer tomar conta de tudo. Temos de pará-los no começo. Tal como deviam ter parado
  Hitler em Munique, nunca deviam tê-lo deixado fazer aquilo, pois assim estavam criando uma
  enorme confusão.
    Michael ouvira o pai dizer a mesma coisa antes, só que isso foi em 1939, antes de a guerra
  ter  realmente  começado.  Se  as  Famílias  dirigissem  o  Departamento  de  Estado,  jamais  teria
  havido a II Guerra Mundial, pensou ele com um sorriso forçado.
    Voltaram  de  carro  para  a  alameda  e  para  a  casa  de  Don  Corleone,  onde  Sonny  ainda
  mantinha o seu quartel-general. Michael não sabia por quanto tempo Sonny poderia permanecer
  encurralado  no  território  seguro  da  alameda.  Finalmente,  ele  teria  de  arriscar  a  sair.
  Encontraram  Sonny  tirando  um  cochilo  no  divã.  Na  mesa  do  café  estavam  os  restos  de  seu
  almoço tardio: sobras de bife, migalhas de pão e uma garrafa de uísque pela metade
    O  escritório  do  pai,  geralmente  limpo,  começava  a  tomar  o  aspecto  de  um  quarto
  desarrumado. Michael sacudiu o irmão para acordá-lo e perguntou:
    — Por que não deixa de viver como vagabundo e manda limpar esta sala?
    Sonny bocejou:
    — Quem diabo é você, o inspetor do quartel? Mike, ainda não recebemos informações sobre
  o lugar para o qual eles pretendem levar você, esses patifes do Sollozzo e do McCluskey. Se não
  descobrirmos isso, como diabo vamos fazer chegar a arma a você?
    — Não posso levá-la comigo? — perguntou Michael. — Talvez não me revistem, e se me
  revistarem talvez não encontrem se formos bastante espertos. E mesmo que a encontrem... isso
  não será nada de mais. Apenas a tirarão de mim e não me farão nenhum mal.
    Sonny balançou a cabeça.
    — Não — falou. — Temos de fazer disso um golpe seguro no patife do Sollozzo. Lembre-se,
  atire primeiro nele se você puder. McCluskey é mais lerdo e mais estúpido. Você terá bastante
  tempo para acertar nele. Clemenza lhe falou para você deixar cair a arma?
    — Um milhão de vezes — respondeu Michael.
    Sonny levantou-se do sofá e espreguiçou-se.
    — Como vai a sua cara, garoto?
    — Muito mal — respondeu Michael. O lado esquerdo do seu rosto doía horrivelmente.
    Ele apanhou a garrafa de uísque que estava em cima da mesa e bebeu diretamente dela. A
  dor abrandou.
    — Calma, Mike, agora não é hora de tomar-se lerdo com bebida — advertiu Sonny.
    —  Por  Deus,  Sonny,  pare  de  bancar  o  irmão  mais  velho  —  retrucou  Michael.  —  Estive
  lutando contra sujeitos mais duros do que Sollozzo e em piores condições. Onde diabo estão os
  seus morteiros? Por acaso ele tem cobertura aérea? Artilharia pesada? Minas terrestres? Ele é
  apenas um bom filho da puta com um figurão da polícia como companheiro. Desde que alguém
  tome  a  decisão  de  matá-los,  não  há  problema.  Isso  é  a  parte  difícil,  tomar  a  decisão.  Nunca
  saberão o que os atingiu.
    Tom Hagen entrou na sala. Cumprimentou-os com um aceno de cabeça e foi diretamente ao
  telefone  falsamente  mencionado  no  catálogo.  Chamou  algumas  vezes  e  depois  balançou  a
  cabeça para Sonny.
    — Nem um sussurro — disse ele. — Sollozzo está mantendo o segredo tanto quanto possível.
    O telefone tocou. Sonny atendeu-o e levantou a mão como que para fazer sinal de silêncio,
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