Page 96 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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criaria qualquer dificuldade para conseguir uns trocados a mais, pois ele se sentia satisfeito com a
  parte  que  lhe  destinavam.  Seu  nome  estava  na  lista  juntamente  com  os  outros  e  ele  nunca
  procurava conseguir dinheiro extra. Era um policial decente que só recebia “gaita” limpa por
  fora e sua ascensão no departamento de polícia foi firme, se não espetacular.
    Durante esse tempo, ele sustentava uma família composta de quatro filhos, dos quais nenhum
  se tornou policial. Todos foram para a Universidade Fordham, e desde que por essa época Mark
  McCluskey foi promovido de sargento a tenente e finalmente a capitão, nada lhes faltava. Foi
  durante  esse  período  que  McCluskey  ganhou  a  reputação  de  ser  um  grande  “tomador  de
  dinheiro”. Os bookmakers de sua zona pagavam uma proteção mais cara do que os de qualquer
  outra  parte  da  cidade,  mas  talvez  isso  fosse  devido  à  despesa  decorrente  de  manter  quatro
  rapazes na faculdade.
    O próprio McCluskey achava que não havia nada de errado em receber uma “gaita” limpa
  por fora. Por que diabo os rapazes deviam ir para uma escola estadual ou uma faculdade barata
  do Sul, apenas porque o departamento de polícia não pagava aos funcionários dinheiro bastante
  com que pudessem viver e sustentar a família decentemente? Ele protegia toda essa gente com o
  risco  da  própria  vida,  e  em  sua  ficha  constavam  citações  por  troca  de  tiros  com  assaltantes,
  guarda-costas violentos e exploradores de prostitutas. Derrotou todos eles. Manteve o seu setor
  limpo e garantido para a gente comum, e certamente ele merecia mais do que aquela nojenta
  nota  de  cem  dólares  por  semana.  Mas  não  se  sentia  revoltado  com  esse  salário  baixo,
  compreendia que todo mundo tinha obrigação de cuidar de si mesmo.
    Bruno  Tattaglia  era  um  velho  amigo  seu.  Bruno  freqüentara  a  Universidade  Fordham
  juntamente  com  um  de  seus  filhos,  depois  abrira  seu  cabaré,  e  toda  vez  que  a  família  de
  McCluskey resolvia passar uma noite esporádica na cidade podia desfrutar o cabaré com bebida
  e comida — tudo por conta da casa. Na véspera do Ano-Novo, os McCluskey recebiam convite
  impresso  para  comparecer  como  convidados  da  gerência  e  sempre  sentavam  numa  das
  melhores mesas. Bruno sempre fazia questão de apresentá-los às celebridades que se exibiam no
  cabaré, algumas delas famosos cantores e artistas de Hollywood. Às vezes ele pedia um pequeno
  favor, como por exemplo limpar a ficha de um empregado para obter licença a fim de trabalhar
  em cabaré, geralmente uma garota bonita com um dossiê da polícia como punguista ou vigarista.
  Mc Cluskey tinha prazer em atender a tais pedidos.
    McCluskey  adotava  o  princípio  de  jamais  demonstrar  que  compreendia  o  que  as  outras
  pessoas desejavam dele. Quando Sollozzo o procurou com a proposta de deixar o velho Corleone
  “descoberto” no hospital, McCluskey não perguntou o motivo. Quis saber apenas quanto levaria
  em dinheiro. Quando Sollozzo disse que eram dez mil dólares, McCluskey sabia por quê. Não
  hesitou. Corleone era um dos maiores homens da Máfia do país, com mais ligações políticas do
  que  AL  Capone  jamais  tivera.  Quem  o  liquidasse  faria  um  grande  favor  ao  país.  McCluskey
  recebeu  o  dinheiro  adiantado  e  fez  o  serviço.  Quando  recebeu  o  telefonema  de  Sollozzo
  informando-o  de  que  havia  ainda  dois  dos  homens  de  Corleone  em  frente  ao  hospital,  partiu
  furioso. Tinha trancafiado todos os capangas de Tessio e retirado toda a guarda de detetives da
  porta do quarto de Corleone. E agora, sendo um homem de princípios, teria de devolver os dez
  mil dólares, dinheiro que ele já havia destinado para garantir a educação dos seus netos. Foi com
  essa fúria que ele tinha ido ao hospital e atacado Michael Corleone.
    Porém tudo marchara para o melhor que se podia esperar. Ele se encontrara com Sollozzo
  no cabaré de Tattaglia e os dois fizeram um trato ainda melhor. Outra vez McCluskey não fez
  perguntas, pois sabia todas as respostas. Apenas garantia a sua “bolada”. Nunca lhe  ocorreu que
  ele  próprio  poderia  estar  em  perigo.  Que  alguém  considerasse,  mesmo  por  um  momento,  a
  possibilidade  de  matar  um  capitão  da  polícia  de  Nova  York  parecia  uma  coisa  fantástica.  O
  bandido  mais  duro  da  Máfia  tinha  de  agüentar  quieto  se  o  policial  mais  baixo  resolvesse
  esbofeteá-lo. Não havia absolutamente qualquer vantagem em matar policiais. Por que então de
  repente um bocado de bandidos seria assassinado por resistir à prisão ou por tentar fugir do local
  do crime, e quem diabo iria fazer alguma coisa com respeito a isso?
    McCluskey  deu  um  suspiro  e  se  aprontou  para  deixar  o  distrito.  Problemas,  sempre
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