Page 95 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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CAPÍTULO 11
O CAPITÃO MARK MCCLUSKEY estava sentado em seu gabinete, manuseando três
envelopes cheios de talões de apostas. Franzia as sobrancelhas e desejava poder decifrar as
anotações constantes dos talões. Era muito importante que conseguisse isso. Os envelopes eram
os talões de apostas que a sua caravana policial havia apreendido numa batida a um dos
bookmakers na noite anterior. Agora o bookmaker teria de comprar os talões na mão dele para
que os apostadores não pudessem alegar que tinham ganho e levá-lo à ruína.
Era importante que o Capitão McCluskey decifrasse os talões porque não queria ser tapeado
quando os vendesse ao bookmaker. Se houvesse cinqüenta mil dólares em jogo, talvez pudesse
vendê-los por cinco mil. Mas se houvesse um bocado de apostas altas e os talões representassem
cem mil dólares ou talvez mesmo duzentos mil, então o preço seria bem mais elevado. Mc
Cluskey brincou algum tempo com o “envelope” e depois resolveu deixar que o bookmaker
suasse um pouco e fizesse a primeira oferta. Isso podia dar alguma idéia sobre o valor real da
coisa.
McCluskey olhou para o relógio da parede de seu gabinete. Era hora de apanhar aquele
seboso turco, Sollozzo, e levá-lo até onde ele iria encontrar-se com a Família Corleone.
McCluskey foi até o seu armário e começou a trocar o seu uniforme por uma roupa à paisana.
Quando terminou, telefonou para a mulher dizendo que não iria jantar em casa aquela noite,
porque estaria de serviço na rua. Não confiava na mulher para coisa alguma. Ela pensava que
eles viviam daquele modo graças ao salário da polícia. McCluskey rosnou de alegria. A mãe dele
pensava a mesma coisa, mas ele aprendera cedo. O pai lhe ensinara a viver.
O pai tinha sido sargento da policia, e toda semana pai e filho percorriam a jurisdição do
velho, enquanto este ia apresentando o filho de seis anos de idade aos donos de lojas e armazéns
dizendo:
— Este é o meu garotinho.
Os donos de lojas e armazéns apertavam-lhe a mão e o cumprimentavam de modo
significativo, fazendo tilintar as suas caixas registradoras a fim de abri-las para dar ao garotinho
um presente de cinco ou dez dólares. No fim do dia, o pequeno Mark McCluskey tinha todos os
bolsos de sua roupa abarrotados de notas e sentia-se muito orgulhoso porque os amigos do pai
gostavam dele o bastante para dar-lhe um presente toda vez que o viam. Naturalmente, o pai
punha o dinheiro no banco para ele, para a sua educação escolar, e o pequeno Mark ficava no
máximo com uma moeda de cinqüenta centavos para ele mesmo gastar.
Depois, quando Mark voltava para casa, seus tios, também policiais, perguntavam-lhe o que
ele queria ser quando crescesse, e ele balbuciava infantilmente: “Polícia.” Eles davam gostosas
gargalhadas. E mais tarde naturalmente, embora o pai quisesse que ele fosse para a faculdade
primeiro, Mark, depois de concluir o curso secundário, preparou-se para ingressar diretamente na
força policial.
Ele fora um bom policial, um valente policial. Os desordeiros que aterrorizavam as esquinas
das ruas fugiam quando ele se aproximava e finalmente desapareceram por completo de sua
zona. Mark era um policial duro e cortês. Nunca levava o filho para visitar os donos de lojas e
armazéns a fim de arrecadar presentes em dinheiro, para não tomar conhecimento de violações
de colocação de lixo e violações de estacionamento; ele apanhava o dinheiro diretamente com a
própria mão, diretamente porque achava que o tinha ganho. Nunca penetrava num cinema ou
entrava por engano em restaurante, quando estava fazendo a ronda a pé, como os outros policiais
faziam, especialmente nas noites de inverno. Sempre cumpria os seus deveres. Dava às lojas e
armazéns uma proteção eficiente, fazendo um bom trabalho. Quando bêbados vindos do Bowery
se infiltravam em sua zona para pedir dinheiro, ele os escorraçava de modo tão violento que eles
nunca mais voltavam. Os comerciantes de sua zona eram-lhe muito gratos. E gostavam de
demonstrar sua gratidão.
Ele também obedecia ao sistema. Os bookmakers de sua zona sabiam que McCluskey jamais