Page 97 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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problemas. A irmã de sua mulher tinha morrido, na Irlanda, após muitos anos de luta contra o
  câncer, e a doença tinha-lhe custado uma boa nota. Agora o enterro lhe custaria mais um pouco.
  Os seus próprios tios e tias no velho continente precisavam de uma pequena ajuda de vez em
  quando para manter suas plantações de batatas, e ele mandava dinheiro para esse fim. Não se
  queixava disso. E quando ele e a mulher visitaram a Irlanda foram tratados como rei e rainha.
  Talvez fossem novamente nesse verão, agora que a guerra havia terminado e com todo aquele
  dinheiro extra entrando. McCluskey disse ao seu ajudante onde estaria se precisassem dele. Não
  achou necessário tomar qualquer precaução. Podia sempre alegar que Sollozzo era um alcagüete
  que se encontrava com ele. Saindo do distrito policial, andou alguns quarteirões e depois pegou
  um táxi até a casa onde iria encontrar-se com Sollozzo.
    Era  Tom  Hagen  que  tinha  de  tomar  as  providências  para  Michael  deixar  o  país,  seu
  passaporte falso, seu cartão de marítimo, seu beliche num cargueiro italiano que atracaria num
  porto da Sicília. Emissários haviam sido enviados naquele mesmo dia por avião para a Sicília, a
  fim de preparar um esconderijo com o chefe da Máfia na região das montanhas.
    Sonny  arranjou  um  carro  e  um  motorista  de  absoluta  confiança  para  ficar  à  espera  de
  Michael  quando  ele  saísse  do  restaurante  em  que  seria  realizada  a  reunião  com  Sollozzo.  O
  motorista seria o próprio Tessio, que se ofereceu voluntariamente para o serviço. Seria um carro
  amassado, mas com um bom motor. Teria uma chapa “fria” e seria impossível identificar-se o
  seu proprietário. Tinha sido poupado para um serviço especial que exigisse o que houvesse de
  melhor.
    Michael  passou  o  dia  com  Clemenza,  praticando  com  a  pequena  arma  que  lhe  seria
  confiada.  Era  uma  arma  de  calibre  22,  carregada  com  balas  de  ponta  mole  que  abriam
  minúsculos  orifícios  ao  entrar  e  deixavam  buracos  escancarados  quando  saíam  do  corpo
  humano. Verificou que ela apresentava precisão até a cinco passos de distância do alvo. Depois
  disso, as balas podiam ir para qualquer lugar. O gatilho estava duro, mas Clemenza trabalhou nele
  com  algumas  ferramentas,  de  forma  que  podia  ser  puxado  facilmente.  Decidiram  deixá-lo
  barulhento. Não queriam que um espectador inocente interpretasse mal a situação e interviesse
  movido por um gesto impensado. O disparo da arma manteria todos afastados de Michael.
    Clemenza continuou a instruí-lo durante a sessão de treinamento
    — Deixe cair a arma logo que você acabar de usá-la. Simplesmente deixe a sua mão cair
  para  o  lado  e  a  arma  escapulirá.  Ninguém  notará.  Todo  mundo  pensará  que  você  ainda  está
  armado. Olharão fixamente para o seu rosto. Saia do lugar muito rapidamente, mas não corra.
  Não  encare  as  pessoas  diretamente,  nem  tampouco  desvie  os  olhos  delas.  Lembre-se,  terão
  medo de você, acredite-me, terão medo de você. Ninguém intervirá. Assim que você chegar lá
  fora, Tessio estará no carro esperando por você. Entre no carro e deixe o resto por conta dele.
  Não  se  preocupe  com  acidentes.  Você  ficará  surpreso  ao  ver  como  as  coisas  correrão  bem.
  Agora ponha esse chapéu e vejamos como fica.
    Enfiou-lhe  um  chapéu  de  feltro  na  cabeça.  Michael,  que  nunca  usara  chapéu,  fez  uma
  careta. Clemenza tranqüilizou-o.
    — Isso dificulta a identificação quando procurarem esclarecimento. Lembre-se, Mike, não
  se  preocupe  com  impressões  digitais.  A  coronha  e  o  gatilho  estão  recobertos  com  uma  fita
  especial. Não toque em nenhuma outra parte da arma, lembre-se disso.
    — Sonny já descobriu para onde Sollozzo vai me levar? — perguntou Michael.
    Clemenza deu de ombros.
    — Ainda não. Sollozzo está sendo muito cauteloso. Mas não se preocupe com o fato de que
  ele possa fazer-lhe algum mal. O intermediário fica em osso poder até você voltar são e salvo. Se
  alguma coisa acontecer a você, o intermediário pagará.
    — Por que diabo ele se expõe a tamanho risco? — indagou Michael.
    —  Ele  vai  receber  uma  enorme  recompensa  —  respondeu  Clemenza.  —  Urna  pequena
  fortuna.  Além  disso,  é  um  homem  importante  das  Famílias.  Ele  sabe  que  Sollozzo  não  pode
  deixar que lhe aconteça algo. A sua vida não vale a vida do intermediário para Sollozzo. Muito
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