Page 91 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
P. 91
Impossível.
— Então é preciso liquidar Sollozzo imediatamente — atalhou Michael. Não podemos
esperar. O tipo é muito perigoso. Daqui a pouco ele vem com uma idéia nova. Lembre-se, o
importante para ele é livrar-se do velho. Ele sabe disso, mas sabe que agora é muito difícil, assim
está querendo aceitar a derrota em troca de sua vida. Mas se ele vai ser assassinado de qualquer
modo tentará novamente matar Don Corleone. E, com o seu capitão da polícia ajudando-o, quem
sabe que diabo poderá acontecer? Não podemos correr esse isco. Temos de liquidar Sollozzo
imediatamente.
Sonny estava coçando o queixo pensativamente.
— Você tem razão, garoto — disse ele. — Você atingiu o alvo em cheio. Não podemos
permitir que Sollozzo tente novamente matar o velho.
— E o Capitão McCluskey? — perguntou Hagen calmamente.
Sonny voltou-se para Michael com um sorriso meio esquisito.
— Sim, garoto, e esse duro capitão da polícia?
Michael respondeu de modo vagaroso.
— Está bem, é uma coisa extrema. Mas há ocasiões em que as medidas mais extremas são
justificáveis. Vamos pensar então que teremos de matar McCluskey. O meio de fazê-lo seria
conseguir que ele ficasse tão implicado nisso que não fosse um honesto capitão de polícia
cumprindo o seu dever mas um policial corrupto metido com bandidos que acabou por merecer
o que lhe aconteceu, como teria acontecido a qualquer sujeito safado. Temos gente da imprensa
na nossa gaveta, a quem podemos dar essa história com provas bastantes para que os jornais
divulguem a notícia detalhadamente. Isso abrandaria as coisas. Que parece isso?
Michael olhou atentamente para os circunstantes. Tessio e Clemenza estavam taciturnos e
recusaram-se a falar. Sonny respondeu com o mesmo sorriso meio esquisito.
— Continue a falar, garoto, você está indo muito bem. Deixemos as crianças falar, como o
velho gostava sempre de dizer. Prossiga, Mike, diga-nos mais alguma coisa.
Hagen estava rindo também um pouco e desviando a cabeça. Michael ficou vermelho.
— Bem, eles querem que eu vá a uma entrevista com Sollozzo. Seremos eu. Sollozzo e
McCluskey por nossa própria conta. Combinem a reunião para daqui a dois dias, depois procurem
fazer os nossos informantes descobrir onde a mesma será realizada. Insistam em que deverá ser
um lugar público, pois não vou permitir que me levem para apartamentos ou casas. Poderá ser
um restaurante ou um bar em plena hora do jantar, ou algo parecido, de forma que eu me sinta
seguro. Eles se sentirão seguros também. Nem Sollozzo imaginará que nos atreveremos a atirar
no capitão. Eles me revistarão quando eu encontrá-los, assim terei de estar desarmado, mas
inventem um meio de passar-me uma arma enquanto eu estiver com eles. Então, liquidarei os
dois.
As quatro cabeças viraram-se e olharam para Michael. Clemenza e Tessio estavam
seriamente espantados. Hagen olhou um pouco triste, mas não surpreso. Ele começou a falar e a
pensar melhor no assunto. Mas Sonny, com sua enorme cabeça de cupido movendo-se de
alegria, irrompeu bruscamente em altas gargalhadas. Eram gargalhadas profundamente
espontâneas, não simuladas. Estava realmente estourando de rir. Ele apontou com o dedo para
Michael, procurando falar por entre arrancos de hilaridade.
— Você, o garoto da escola de alta classe, nunca quis meter-se no negócio da Família. Agora
quer matar um capitão da polícia e o turco somente porque McCluskey lhe amassou a cara. Você
está tomando a coisa em caráter pessoal, isso é apenas negócio e não uma oportunidade para se
vingar. Quer matar esses dois sujeitos só porque apanhou na cara. Isso fui apenas um lance de
dados. Todos esses anos têm sido assim.
Clemenza e Tessio, sem compreender nada, pensando que Sonny estivesse achando graça da
bravata do irmão mais moço em fazer tal proposta, também estavam rindo francamente,
embora de um modo um tanto indulgente para Michael. Só Hagen precavidamente mantinha-se
impassível.