Page 88 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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— Você quer apresentar queixa contra quem fez isso em você? — perguntou.
    Michael  tinha  dificuldade  para  falar.  As  suas  mandíbulas  não  se  juntavam,  mas  ele
  conseguiu murmurar:
    — Eu escorreguei — respondeu. — Escorreguei e caí.
    Ele viu o capitão  lançar-lhe  um  olhar  triunfante  e  tentou  responder  a  esse  olhar  com  um
  sorriso. A todo custo, queria esconder a deliciosa frieza extrema que controlava seu cérebro, a
  corrente de ódio extraordinariamente frio que lhe percorria o corpo. Não queria que ninguém
  percebesse como se sentia no momento. Como Don Corleone também não o faria. Depois sentiu
  que o transportavam para o hospital e perdeu os sentidos.
    Quando acordou na manhã seguinte, verificou que a sua mandíbula tinha sido costurada com
  fio metálico e que perdera quatro dentes do lado esquerdo da boca. Hagen estava sentado ao lado
  de sua cama.
    — Eles me anestesiaram’? — perguntou Mike.
    —  Sim  —  respondeu  Hagen.  —  Tiveram  de  arrancar  alguns  fragmentos  de  osso  de  suas
  gengivas  e  imaginaram  que  doeria.  Além  disso,  você  estava  praticamente  sem  sentidos,  de
  qualquer forma.
    — Há mais alguma anormalidade comigo? — perguntou Michael.
    — Não — respondeu Hagen. — Sonny quer você fora daqui, isto é, quer você na casa de
  Long Beach. Você acha que pode ir?
    — Certamente — retrucou Michael. — Papai está bem?
    Hagen ficou vermelho.
    — Penso que agora já resolvemos o problema. Contratamos uma de detetives particulares e
  temos toda a área vigiada. Darei mais detalhes a você quando entrarmos no carro.
    Assentaram-se  no  banco  traseiro.  Clemenza  estava  na  direção.  Michael  sentia  a  cabeça
  estalando.
    — Então, que diabo aconteceu realmente ontem à noite, vocês conseguiram descobrir?
    — Sonny tinha um homem de confiança — respondeu Hagen calmamente — esse detetive
  Philips,  encarregado  de  proteger  você.  Ele  nos  deu  a  informação.  O  capitão  da  polícia,
  McCluskey, é um sujeito que tem levado “bola” alta desde o tempo em que era simples guarda.
  Nossa  Família  tem-lhe  pago  um  bocado  de  dinheiro.  É  ganancioso  e  falso,  não  se  podendo
  confiar nele. Mas Sollozzo deve ter pago a ele uma enorme quantia. McCluskey prendeu todos os
  homens de Tessio que estavam dentro e fora do hospital, logo depois das horas de visita. Não
  adiantou nada que alguns deles estivessem armados. Em seguida, McCluskey retirou os detetives
  que oficialmente mantinham guarda na porta de Don Corleone. Alegou que precisava deles e que
  outros tiras viriam ocupar o lugar dos que haviam ido embora, mas isso não aconteceu. Conversa
  fiada. Ele foi pago para deixar Don Corleone “descoberto”. E Phillips disse que ele é o tipo do
  sujeito persistente. Sollozzo deve ter-lhe dado uma fortuna, para início de conversa, e prometido
  quantias astronômicas para o futuro.
    — Isso que me aconteceu foi publicado nos jornais?
    — Não — respondeu Hagen. — Conseguimos abafar a notícia. Ninguém quer que isso venha
  ao conhecimento público. Nem a polícia. Nem nós.
    — Ótimo — retrucou Michael. — Aquele rapaz Enzo se safou bem?
    — Sim — respondeu Hagen. — Foi mais esperto do que você. Quando os tiras chegaram, ele
  desapareceu.  Diz  ele  que  agüentou  firme  com  você  quando  o  carro  de  Sollozzo  passou.  é
  verdade?
    — Sim — retrucou Michael. — Ele é um bom menino.
    —  Tomaremos  conta  do  rapaz  —  disse  Hagen.  —Está  se  sentindo  bem?  —  Seu  rosto
  denotava preocupação. — Você está com um aspecto horrível.
    — Estou bem — retrucou Michael. — Qual era o nome desse capitão da polícia?
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