Page 84 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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Não  havia  ninguém  do  lado  de  fora  da  porta.  Diabo,  onde  se  achavam  os  dois  detetives  que
  deviam estar ali para guardar e interrogar o velho? Diabo, onde se achava o pessoal de Tessio e
  Clemenza? Haveria alguém dentro do quarto? Mas a porta estava aberta. Michael entrou. Havia
  uma  figura  deitada  na  cama,  e  pelo  luar  de  dezembro  que  se  infiltrava  pela  janela,  Michael
  conseguiu ver o rosto do pai. Mesmo agora estava impassível, o peito superficialmente levantado
  com a sua respiração irregular. Tubos pendurados na forca de aço ao lado da cama iam até o seu
  nariz. No chão havia um jarro de água recebendo os venenos esvaziados do seu estômago pelos
  outros  tubos.  Michael  permaneceu  ali  por  alguns  momentos  para  se  assegurar  de  que  o  pai
  passava bem, depois saiu do quarto.
    — Meu nome é Michael Corleone — disse à enfermeira — quero ficar sentado com meu
  pai. Que aconteceu aos detetives que deviam estar guardando o velho?
    A  enfermeira  era  uma  pequena  muito  bonita,  denotando  um  ar  de  autoconfiança  e
  segurança.
    — Ah, o seu pai recebia muitas visitas, isso atrapalhava o serviço do hospital — respondeu
  ela. — A polícia veio e fez todos eles saírem há coisa de dez minutos. Depois, há apenas cinco
  minutos, tive de chamar os detetives ao telefone para um alarma de emergência na polícia, e
  assim, eles partiram também. Mas não se preocupe, estou cuidando bem do seu pai e posso ouvir
  qualquer som vindo do seu quarto. Por isso é que deixamos a porta aberta.
    — Muito obrigado — retrucou Michael. — Vou ficar sentado com ele um pouco. Está bem?
    —  Apenas  por  alguns  minutos  e  lamento  que  tenha  de  mandá-lo  logo  embora.  Ë  o
  regulamento, você sabe — respondeu a enfermeira, sorrindo.
    Michael voltou para o quarto do pai. Tirou o fone do gancho e pediu à telefonista do hospital
  que o ligasse com a casa de Long Beach, com o aparelho da sala do escritório do canto. Sonny
  respondeu. Michael falou em voz baixa:
    — Sonny, estou aqui no hospital, cheguei atrasado. Sonny, não há ninguém aqui. Nenhum dos
  homens de Tessio. Nenhum detetive na porta. O velho estava completamente desprotegido.
    Sua voz tremia.
    Houve um longo silêncio e depois ele ouviu a voz de Sonny em tom baixo e impressionante:
    — Isso é o golpe de Sollozzo de que você falou.
    — Isso foi o que pensei também — retrucou Michael. — Mas como ele conseguiu que os
  tiras todos saíssem daqui, e para onde foram? Que aconteceu aos homens de Tessio? Jesus, será
  que o patife do Sollozzo tem o Departamento de Polícia de Nova York na gaveta também?
    — Tenha calma, garoto. — A voz de Sonny era tranqüilizadora. — Tivemos sorte novamente
  pelo fato de você ir visitar o hospital tão tarde. Permaneça no quarto do velho. Tranque a porta
  por  dentro.  Terei  alguns  homens  aí,  dentro  de  quinze  minutos,  assim  que  eu  der  alguns
  telefonemas. Mantenha-se aí firme e não fique apavorado. Está bem, garoto?
    — Não ficarei apavorado — respondeu Michael.
    Pela primeira vez desde que tudo tinha começado, sentiu uma raiva furiosa subir dentro dele,
  um ódio frio pelos inimigos de seu pai.
    Desligou  o  telefone  e  tocou  a  campainha  chamando  a  enfermeira.  Resolveu  usar  o  seu
  próprio raciocínio e não levar em conta as ordens de Sonny. Quando a enfermeira entrou, ele
  disse:
    — Não quero que você se assuste, mas temos que mudar meu pai agora mesmo. Para outro
  quarto ou outro andar. Você pode desligar todos esses tubos para que possamos levar a cama
  para fora daqui?
    — Isso é ridículo — disse a enfermeira. — Temos de obter permissão do médico.
    — Você leu sobre o meu pai nos jornais — falou Michael rapidamente. — Você viu que não
  há ninguém aqui hoje à noite para protegê-lo. Eu soube agora que alguns homens estão vindo
  para o hospital, a fim de matá-lo. Por favor, acredite em mim e ajude-me.
    Ele podia ser extraordinariamente persuasivo quando queria.
    — Não precisamos desligar os tubos — replicou a enfermeira. — Podemos levar o aparelho
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