Page 83 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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Michael riu com os dentes arreganhados, desabotoou o paletó e o conservou aberto.
    — Olhe, não uso revólver — respondeu.
    Ela deu uma gargalhada.
    Estava ficando tarde e eles subiram para o quarto. Kay misturou uma bebida para os dois e
  sentou-se no colo dele, enquanto bebiam. Debaixo do vestido da moça tudo era seda até que a
  mão de Michael tocou a pele afogueada de sua coxa. Caíram de costas na cama e amaram-se
  vestidos mesmo, as suas bocas bem coladas, Quando acabaram, permaneceram quietos, sentindo
  o calor de seus corpos queimando através de suas roupas.
    — Isso é o que vocês soldados chamam de “um serviço rápido”? — murmurou Kay.
    — Sim — respondeu Michael.
    — Não é mau — disse Kay com uma voz ponderada.
    Eles cochilaram até que Michael de repente se levantou apreensivo e olhou o relógio.
    — Diacho! — exclamou ele. — Já são quase dez horas. Preciso ir até o hospital.
    Foi ao banheiro lavar-se e pentear o cabelo. Kay veio atrás dele e passou-lhe os braços pela
  cintura.
    — Quando é que vamos casar? — perguntou ela.
    — Quando você quiser — respondeu Michael. — Logo que a situação da minha família se
  acalmar e meu velho ficar bom. Acho que é melhor você explicar as coisas aos seus pais.
    — Que é que devo explicar? — perguntou Kay tranqüilamente.
    Michael correu o pente pelo cabelo.
    — Diga apenas que você conheceu um cara valente, bonito, de origem italiana. Notas altas
  em Dartmouth. Medalhas por bravura durante a guerra. Honesto. Trabalhador. Mas o pai é um
  chefe da Máfia que tem de matar gente má, às vezes subornar altos funcionários do governo e
  que, no desempenho de suas funções, recebeu ele próprio uma descarga de balas. Mas isso nada
  tem a ver com o filho trabalhador e honesto. Você acha que pode lembrar- se de tudo isso?
    Kay soltou as mãos do corpo dele e encostou-se na porta do banheiro.
    — Ele é isso realmente? — perguntou. Ele realmente... fez uma pausa — mata gente?
    Michael acabou de pentear o cabelo.
    — Não sei, na verdade — respondeu. — Ninguém sabe com certeza. Mas não seria surpresa
  para mim.
    Antes que ele saísse do quarto, ela perguntou:
    — Quando o verei novamente?
    Michael beijou-a.
    — Quero que você vá para casa e pense bem no assunto, naquela sua cidadezinha do interior
  — disse. — Não quero ver você envolvida nesse negócio de jeito algum. Depois das férias de
  Natal, estarei de volta à escola e nos encontraremos lá em Hanover. Está bem?
    — Está bem — respondeu ela.
    Kay observou-o sair pela porta, viu-o dar adeus antes de entrar no elevador. Nunca se sentira
  tão ligada a ele, nunca o amara tanto, e se alguém lhe dissesse que ela levaria três anos para vê-
  lo novamente, não seria capaz de suportar a angústia dessa notícia.
    Quando Michael saltou do táxi em frente ao Hospital Francês, ficou surpreso ao ver que a rua
  estava completamente deserta. Ao entrar no hospital, ficou mais surpreso ainda por encontrar o
  saguão vazio. Caramba, que diabo estavam fazendo Clemenza e Tessio? De fato, eles não tinham
  freqüentado  a  Academia  Militar  de  West  Point,  mas  sabiam  bastante  sobre  tática  para
  estabelecer postos avançados. Alguns dos seus homens deviam estar no saguão pelo menos.
    Até os visitantes retardatários tinham ido embora, eram quase 9:30 da noite. Michael agora
  estava nervoso e atento. Não se preocupou em parar na mesa de informações, já sabia o número
  do  quarto  do  pai  lá  em  cima  no  quarto  andar.  Tomou  o  elevador  automático.  Achou  muito
  esquisito que ninguém o detivesse até que chegasse à sala das enfermeiras no quarto andar. Mas
  passou direto sem dar resposta à pergunta que lhe fizeram e encaminhou-se para o quarto do pai.
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