Page 79 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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coisa como essa. Isso é negócio. Até o atentado contra o seu pai foi negócio, não uma questão
pessoal. Você deve saber isso agora.
Os olhos de Sonny ainda estavam furiosos.
— Está bem, compreendo tudo isso. Desde que você compreenda que ninguém se
atravessará em nosso caminho quando quisermos Sollozzo.
Sonny virou-se para Tessio.
— Alguma pista de Luca?
Tessio balançou a cabeça.
— Absolutamente nada. Sollozzo deve tê-lo seqüestrado.
Hagen retrucou tranqüilamente:
— Sollozzo não estava preocupado com Luca, o que achei engraçado. Ele é muito esperto
para não se preocupar com um sujeito como Luca. Acho que ele o tirou da jogada, de um jeito
ou de outro.
— Por Deus — murmurou Sonny espero que Luca não esteja lutando contra nós. Isso é a
única coisa de que tenho medo. Clemenza, Tessio, que é que vocês pensam a respeito?
Clemenza respondeu lentamente:
— Qualquer pessoa pode errar, veja Paulie. Mas, no caso de Luca, ele era um homem que
só podia seguir um caminho. O Padrinho era a única coisa em que ele acreditava, o único
homem que ele temia. Mas não somente isso, Sonny, ele respeitava seu pai como ninguém mais
o respeitava, e o Padrinho conquistou o respeito de todo mundo. Não, Luca nunca nos trairia. E
acho difícil acreditar que um homem como Sollozzo, por mais sagaz que fosse, pudesse apanhar
Luca de surpresa. Ele era um homem que desconfiava de tudo e de todos. Estava sempre pronto
para o pior. Penso que talvez ele tenha ido para fora, para algum lugar, por uns dias. A qualquer
momento teremos notícias dele.
Sonny virou-se para Tessio. O caporegime do Brooklyn deu de ombros.
— Qualquer homem pode tornar-se traidor. Luca era muito sensível. Talvez Don Corleone o
ofendesse de algum jeito. Isso pode ser. Penso, contudo, que Sollozzo o apanhou de surpresa. Isso
combina com o que diz o consigliori. Devemos esperar o pior.
Sonny falou a todos eles:
— Sollozzo daqui a pouco ouvirá notícia sobre Paulie Gatto — disse Sonny. dirigindo-se a
todos. — Que influência terá isso nele?
Clemenza respondeu sombriamente:
— Isso o fará pensar. Ele sabe que a Família Corleone não é boba. Compreenderá que teve
muita sorte ontem.
Sonny falou abruptamente:
— Isso não foi sorte. Sollozzo planejou a coisa durante semanas. Eles devem ter seguido o
velho até o seu escritório todo dia observado a sua rotina. Depois subornaram Paulie e talvez
Luca. Pegaram Tom justamente pelo paletó. Fizeram tudo o que queriam. Mas deram azar, não
sorte. Os capangas que eles contrataram não eram bons demais e o velho safou-se muito
rapidamente. Se eles o houvessem matado, eu teria de fazer um trato, e Sollozzo teria vencido.
Por enquanto. Eu teria esperado talvez e o pegaria daqui a cinco, dez anos. Mas não diga que ele
teve sorte, Pete, isso é subestimá-lo. E fizemos isso muito ultimamente.
Um dos capangas trouxe uma terrina de espaguete da cozinha e, depois, pratos, garfos e
vinho. Todos comiam enquanto falavam. Michael olhava embevecido. Ele não comia, nem
tampouco Tom, mas Sonny, Clemenza e Tessio começaram a comer o espaguete umedecendo o
pão no molho. Era quase cômico. Continuaram a discutir.
Tessio não pensava que a perda de Paulie Gatto causaria qualquer transtorno a Sollozzo; de
fato, ele pensava que o turco devia prever isso, na verdade devia ficar satisfeito com isso. Uma
boca inútil fora da folha de pagamento. E não ficaria apavorado com o fato; afinal de contas,
estariam eles em tal situação?