Page 111 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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Johnny tirou o paletó e os sapatos e desapertou a gravata, enquanto ela se sentava na cadeira
  diante dele com um risinho grave no rosto.
    — É engraçado — comentou ela.
    —  O  que  é  engraçado?  —  perguntou  ele,  bebendo  o  café  e  derramando  um  pouco  na
  camisa.
    — O grande Johnny Fontane sentir-se incapaz de arranjar uma mulher — disse ela.
    —  O  grande  Johnny  Fontane  tem  muita  sorte  quando  ainda  consegue  levantar  o  bruto  —
  retrucou ele.
    Não era comum que ele fosse tão grosseiro. Ginny perguntou:
    — Há realmente alguma coisa séria?
    Johnny riu sarcasticamente para ela.
    — Tive um encontro com uma garota no meu apartamento e ela me repudiou. E, você sabe,
  senti um alívio.
    Para sua surpresa, ele viu um ar de raiva perpassar o rosto de Virginia.
    — Não se preocupe com essas vagabundinhas — disse ela. — Ela deve ter pensado que esse
  era o meio de fazer você se interessar por ela.
    E Johnny compreendeu com satisfação que Virginia estava de fato zangada com a garota
  que o havia rejeitado.
    — E, com os diabos — disse ele. — Estou cansado dessa porcaria. Tenho de criar juízo um
  dia. E agora que não posso mais cantar penso que terei dificuldades com as mulheres. Nunca tive
  com a minha aparência, você sabe.
    —  Você  sempre  teve  melhor  aparência  pessoalmente  do  que  em  fotografia  —  disse  ela
  lealmente.
    Johnny balançou a cabeça.
    —  Estou  engordando  e  ficando  careca.  Diabo,  se  esse  filme  não  me  tornar  famoso
  novamente, é melhor aprender a assar pizzas. Ou talvez vamos pôr você no cinema, você está
  com ótima aparência.
    Virginia parecia ter trinta e cinco anos de idade. Uns bons trinta e cinco anos, mas trinta e
  cinco anos. E como ela havia centenas em Hollywood. As moças novas e bonitas invadiam a
  cidade  como  formigas,  permanecendo  por  um  ou  dois  anos.  Algumas  delas  tão  bonitas  que
  podiam fazer o coração de um homem quase parar de bater até que abrissem a boca, até que as
  esperanças  de  êxito  obscurecessem  a  beleza  de  seus  olhos.  As  mulheres  comuns  jamais
  poderiam competir com elas no que diz respeito ao físico. E podia-se falar tudo o que se quisesse
  sobre encanto, inteligência, elegância, porte; a beleza natural dessas garotas suplantava tudo o
  mais. Talvez se não houvesse tantas delas, haveria oportunidade para uma mulher comum, de
  aspecto atraente. E como Johnny Fontane podia possuir todas elas, ou quase todas, Virginia sabia
  que  ele  estava  dizendo  aquilo  apenas  para  lisonjeá-la.  Ele  sempre  fora  distinto  nesse  ponto.
  Sempre fora cortês para com as mulheres, mesmo no auge da fama, mostrando-se atencioso,
  segurando o isqueiro para seus cigarros, abrindo porta para elas. Fazia isso com todas as garotas,
  mesmo com aquelas com quem passava apenas uma noite, ou com aquelas de quem não sabia
  nem o nome.
    Virginia sorriu para ele de modo amistoso.
    —  Você  já  me  fez  trabalhar  no  cinema,  Johnny,  lembra-se?  Por  doze  anos.  Você  não
  precisa passar a conversa em mim.
    Ele deu um suspiro e estirou-se no sofá.
    — Não estou brincando, Ginny, você está com uma boa aparência. Eu queria estar com uma
  aparência tão boa quanto você.
    Virginia não respondeu. Viu que ele estava deprimido.
    — Você acha que o filme ficou bom? Ele fará algum bem a você? — indagou ela.
    Johnny acenou com a cabeça.
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