Page 113 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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conseguiu-me o papel no filme, não sei como. Mas eu queria que ele ficasse fora do resto.
    Em seguida, voltou para o sofá. Sentia-se muito cansado. Virginia perguntou:
    — Por que você não dorme no quarto de hóspedes esta noite, em lugar de ir para casa? Você
  pode tomar o breakfast com as meninas e não precisará ir para casa tão tarde da noite. Detesto
  pensar em você tão sozinho naquela casa. Você não sente solidão?
    — Não fico muito tempo em casa — respondeu Johnny.
    Ela deu uma gargalhada e disse:
    — Então, você não mudou muito — fez uma pausa e acrescentou: — Posso arrumar o outro
  quarto?
    — Por quê? Não posso dormir no seu?
    Ela ficou vermelha.
    — Não — respondeu.
    Virginia sorriu para ele e ele sorriu para ela. Ainda eram amigos.
    Quando  Johnny  acordou  na  manhã  seguinte  já  era  tarde,  percebeu  isso  pelo  sol  que
  penetrava  através  das  venezianas  abaixadas.  Nunca  entrava  assim,  a  não  ser  que  já  fosse  de
  tarde. Ele gritou:
    — Alô, Ginny, ainda tenho direito ao breakfast?
    E ele ouviu a voz da mulher responder de longe:
    — Espere um segundo.
    E, de fato, ele esperou apenas um segundo. Virginia devia ter tudo pronto, quente no forno, a
  bandeja já esperando, porque, quando Johnny acendeu o seu primeiro cigarro, a porta do quarto
  se abriu e suas duas filhinhas entraram empurrando o carrinho do breakfast.
    Elas estavam tão bonitas que o comoveram. Suas faces se mostravam brilhantes e claras, os
  olhos arregalados de curiosidade, demonstrando o desejo intenso de correr para ele. Usavam o
  cabelo preso à moda antiga em longas tranças e traziam vestidos antiquados e sapatos de verniz
  branco. Ficaram paradas junto ao carrinho observando o pai que apagava o cigarro e esperaram
  que  ele  as  chamasse  e  as  recebesse  de  braços  abertos.  Então  correram  para  ele.  Johnny
  comprimiu o seu rosto entre as duas faces saudáveis e cheirosas das duas meninas e roçou a sua
  barba de forma que elas gritaram. Virginia apareceu na porta do quarto e empurrou o carrinho
  para junto do ex-marido para que ele pudesse comer na cama. Sentou-se ao lado dele na beira
  da cama, pondo café na xícara, e passando manteiga na torrada. As duas meninas sentaram-se
  no  sofá  do  quarto  observando-o.  Já  estavam  com  bastante  idade  agora  para  brincar  de  atirar
  travesseiros ou de ser lançadas para o alto. Elas já estavam alisando o cabelo desalinhado. Oh,
  meu Deus, pensou ele, daqui a pouco estarão bem crescidas, e os rapazes de Hollywood estarão
  dando em cima delas.
    Johnny dividia a torrada e o bacon com elas à proporção que comia, dando-lhes goles de
  café. Era um hábito ainda do tempo em que cantava com . a banda e raramente comia com as
  filhas,  de  modo  que  elas  gostavam  de  partilhar  a  comida  dele  quando  ele  tomava  as  suas
  refeições em horas esquisitas como o breakfast à tarde ou a ceia pela manhã. A modificação no
  horário da comida era um prazer para as meninas — comer bife com batatas fritas às sete horas
  da manhã, bacon com ovos à tarde.
    Somente Virginia e alguns amigos íntimos sabiam o quanto ele adorava as filhas. Esse fora o
  pior  ponto  do  divórcio.  A  única  coisa  pela  qual  ele  havia  lutado  era  a  sua  posição  de  pai  em
  relação às crianças. De um modo muito astuto, fez Virgínia compreender que não gostaria que
  ela casasse novamente, não porque tivesse ciúmes dela, mas porque temia pela sua posição de
  pai.  Ele  estabelecera  que  o  dinheiro  fosse  pago  a  ela  de  modo  tal  que  seria  enormemente
  vantajoso financeiramente não casar de novo. Ficava subentendido que ela poderia ter amantes
  desde  que  eles  não  se  metessem  em  sua  vida  doméstica.  Mas  nesse  ponto  ele  tinha  absoluta
  confiança nela. Virgínia sempre fora excessivamente tímida e antiquada em questão de sexo. Os
  gigolôs  de  Hollywood  não  conseguiam  lavrar  nenhum  tento  quando  começavam  a  cortejá-la
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