Page 128 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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— Está bem, menino, você apenas canta para mim, quero ganhar dinheiro com você. Não
  vou procurar dirigir a sua vida. Faça o que você quiser. Está bem, paisan? Tudo o que você tem a
  fazer  é  cantar  para  mim  e  ganhar  dinheiro  para  mim,  agora  que  não  posso  mais  cantar.
  Compreendeu bem, amigo velho?
    Nino endireitou-se.
    —  Vou  cantar  para  você,  Johnny  —  falou  com  a  voz  tão  engrolada,  que  mal  se  podia
  entender. — Sou melhor cantor do que você agora. Sempre cantei melhor do que você, sabe
  disso?
    Enquanto isso, Johnny pensava: assim era a coisa. Reconhecia que, quando tinha a voz sadia,
  Nino  simplesmente  não  era  páreo  para  ele,  e  nunca  o  fora  naqueles  anos  em  que  cantaram
  juntos como meninos. Viu Nino esperando uma resposta, ziguezagueando bêbedo sob o luar da
  Califórnia.
    — Foda-se — disse ele gentilmente, e os dois riram juntos, como nos velhos tempos em que
  eram igualmente jovens.
    Quando Johnny Fontane recebeu a notícia do atentado contra Don Corleone, não só ficou
  preocupado,  mas  também  permaneceu  em  dúvida  sobre  se  o  financiamento  de  seu  filme
  continuava de pé. Tivera vontade de ir a Nova York apresentar os seus respeitos a seu Padrinho
  no hospital, mas aconselharam-no a evitar qualquer publicidade desfavorável, pois isso seria a
  última coisa que Don Corleone poderia querer. Assim ele esperou. Uma semana depois, chegou
  um mensageiro de Tom Hagen. O financiamento continuava de pé, apenas para um filme de
  cada vez.
    Entrementes, Johnny deixou Nino viver a seu próprio modo em Hollywood e na Califórnia, e
  este estava indo muito bem com as jovens estrelinhas. As vezes, Johnny o chamava para saírem
  juntos  à  noite,  mas  nunca  o  pressionava.  Quando  conversaram  sobre  o  atentado  contra  Don
  Corleone, Nino disse a Johnny:
    —  Você  sabe,  uma  vez  pedi  a  Don  Corleone  que  me  conseguisse  um  emprego  em  sua
  organização e ele não me arranjou. Eu estava cansado de dirigir caminhão e queria fazer muita
  grana. Sabe o que ele me respondeu? Falou que todo homem tem apenas um destino e que meu
  destino era ser artista. Queria dizer que eu não podia ser um marginal.
    Johnny  refletiu  nisso  demoradamente.  O  Padrinho  deve  ser  o  sujeito  mais  inteligente  do
  mundo.  Sabia  que  Nino  jamais  podia  ser  um  marginal,  que  logo  se  complicaria  ou  seria
  assassinado, por causa de suas piadas. E como Don Corleone podia saber que ele seria artista?
  Porque, ora bolas, ele imaginava que algum dia eu ajudaria Nino. E como podia ele imaginar
  isso? Por que me insinuaria algo e eu procuraria mostrar a minha gratidão. Naturalmente nunca
  me  pediu  que  fizesse  isso.  Apenas  me  fez  saber  que  se  sentiria  feliz  se  eu  o  fizesse.  Johnny
  Fontane deu um suspiro. Agora, o Padrinho estava ferido, em situação difícil, e podia dizer adeus
  ao  prêmio  da  Academia,  pois  Woltz  estava  trabalhando  contra  ele  e  não  havia  esperança  de
  receber  ajuda  do  outro  lado.  Somente  Don  Corleone  tinha  os  contatos  pessoais  que  podiam
  pressioná-lo  naquele  sentido,  e  a  Família  Corleone  tinha  outras  coisas  em  que  pensar  naquele
  momento. Johnny se oferecera para ajudar e Hagen respondera-lhe com um lacônico “não”.
    Johnny  ocupava-se  com  o  andamento  de  seu  próprio  filme.  O  autor  do  livro  no  qual  se
  baseou o filme em que trabalhara como artista tinha terminado outra novela, e viera à Califórnia
  a convite de Johnny, para tratar diretamente do assunto, sem interferência de agentes ou estúdios.
  O  segundo  livro  se  adaptava  perfeitamente  ao  desejo  de  Johnny.  Ele  não  teria  de  cantar.  A
  novela tinha um enredo picante, muitas mulheres, sexo e havia um papel que para Johnny logo
  pareceu ter sido feito sob medida para Nino. O tipo falava como Nino, agia e até parecia com
  ele.  Era  fantástico!  Tudo  o  que  Nino  teria  de  fazer  era  mover-se  ante  as  câmaras
  cinematográficas com a maior naturalidade.
    Johnny trabalhava depressa. Achava que entendia muito mais de produção cinematográfica
  do que imaginara. Contratou um produtor executivo, um homem que conhecia o assunto, mas
  que  tinha  dificuldade  em  encontrar  trabalho,  porque  estava  na  lista  negra.  Johnny  não  tirou
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