Page 133 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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CAPÍTULO 14
DON CORLEONE era um verdadeiro homem com a idade de 12 anos. Baixo, moreno,
franzino, vivendo na estranha aldeia de Corleone, de aspecto mourisco, na Sicília, seu verdadeiro
nome era Vito Andolini, mas quando alguns estranhos vieram matar o filho do homem que
tinham assassinado, a mãe mandou o menino para a América, a fim de ficar com amigos. E na
nova terra ele mudou o nome para Corleone, visando a manter alguma ligação com a sua aldeia
natal. Foi uma das poucas atitudes sentimentais que realizaria na vida.
Na Sicília, no fim do século, a Máfia era o segundo governo, sendo muito mais poderosa do
que o governo oficial de Roma. O pai de Vito Corleone se viu envolvido numa rixa com outro
aldeão que levou o caso à Máfia. O pai não quis se submeter e, numa briga pública, matou o
chefe local da Máfia. Uma semana depois, ele próprio foi encontrado morto, seu corpo
dilacerado por cargas de lupara. Um mês depois do enterro, pistoleiros da Máfia vieram fazer
perguntas sobre o menino Vito. Tinham resolvido que ele estava muito perto de se tornar adulto e
que poderia procurar vingar a morte do pai nos anos vindouros, O menino de 12 anos. Vito, foi
escondido por parentes e embarcado para a América. Aí ficou aos cuidados dos Abbandando,
cujo filho Genco se tornaria posteriormente consigliori de seu Don.
O rapazinho Vito foi trabalhar no armazém dos Abbandando na Nona Avenida, na zona de
Nova York. Aos 18 anos de idade casou-se com uma garota recém-chegada da Sicília, de apenas
16 anos, uma ótima cozinheira e boa dona-de-casa. Instalaram-se numa casa da Décima
Avenida, perto da Rua 35, apenas a poucos quarteirões do lugar em que Vito trabalhava, e dois
anos depois nascia-lhes o primeiro filho, Santino, chamado por todos os seus amigos Sonny
(Filhinho) devido à sua devoção ao pai.
Nas imediações vivia um homem chamado Fanucci. Era um italiano pesadão, de aspecto
feroz, que usava finas roupas, invariavelmente claras, e um chapéu creme. Esse homem era
considerado como pertencente à Mão Negra, uma ramificação da Máfia que extorquia dinheiro
das famílias e dos donos de lojas e armazéns sob ameaça de violência física. Contudo, como
quase todos os habitantes das redondezas, eles próprios eram violentos, e as ameaças de ataque
corporal de Fanucci só surtiam efeito com os casais idosos que não tinham filhos homens para
defendê-los. Alguns comerciantes pagavam-lhe quantias insignificantes por uma questão de
conveniência. Contudo, Fanucci era também um inimigo mortal de outros criminosos, os
indivíduos que vendiam ilegalmente a loteria italiana ou que mantinham jogos de azar em suas
próprias casas, O armazém dos Abbandando fornecia.lhe uma pequena contribuição, isso apesar
dos protestos do jovem Genco, que dizia ao pai que resolveria o caso com Fanucci. O pai o
proibiu. Vito Corleone observava tudo isso sem se sentir de qualquer maneira envolvido na
questão.
Um dia, Fanucci foi atacado por três rapazes que lhe cortaram a garganta de uma a outra
orelha, não tão profundamente para matá-lo, mas o bastante para. assustá-lo e fazê-lo sangrar
um bocado. Vito viu Fanucci fugir de seus atacantes, com o talho circular jorrando sangue. O que
nunca esqueceu foi a cena de Fanucci segurando o chapéu creme por baixo do queixo para
aparar o sangue que escorria. Como se não quisesse manchar a roupa ou não quisesse que vissem
seu rosto ensangüentado.
Entretanto, esse ataque acabou se transformando num benefício para Fanucci. Os três
rapazes não eram assassinos, mas apenas valentões resolvidos a dar-lhe uma lição e a fazê-lo
parar de perseguir os outros criminosos. Mas Fanucci provou ser um assassino. Algumas semanas
depois, o rapaz que utiizara a faca contra Fanucci foi morto a bala, e as famílias dos outros dois
rapazes pagaram-lhe uma indenização para fazê-lo desistir da vingança. Depois disso, as
contribuições se tornaram cada vez maiores, e Fanucci se tornou sócio dos jogos de azar das
redondezas. Quanto a Vito Corleone, isso nada lhe interessava. Esqueceu tudo a respeito,
imediatamente.
Durante a I Guerra Mundial, quando a importação de azeite se tornou difícil, Fanucci