Page 138 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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Deixe que ele lhe peça o dinheiro. Mas não lhe pague. E de forma alguma discuta com Fanucci.
  Diga  apenas  que  você  vai  arranjar  o  dinheiro  e  entregar  a  mm  para  dar  a  ele.  Deixe  que
  compreenda que você deseja pagar o que ele pede. Não regateie. Eu discutirei o preço com ele.
  Não há vantagem em fazê-lo ficar zangado conosco, se ele é um homem tão perigoso como
  você diz.
    Deixaram a coisa nesse pé. No dia seguinte, Clemenza falou com Fanucci para ter a certeza
  de que Vito não estava inventando a história. Depois Clemenza foi ao apartamento de Vito e deu-
  lhe os duzentos dólares. Olhou curiosamente para Vito Corleone e perguntou:
    — Fanucci me disse que não aceitaria nada inferior a trezentos dólares, como você vai fazê-
  lo aceitar menos?
    —  Certamente  isso  não  lhe  interessa  —  respondeu  Vito  Corleone  tranqüilamente.  —
  Lembre-se apenas de que lhe prestei um serviço.
    Tessio veio mais tarde. Foi mais reservado do que Clemenza, mais esperto, mais manhoso e
  também mais conformado. Sentia que faltava algo, algo não muito claro. Ele estava um pouco
  preocupado e disse a Vito Corleone:
    — Tome cuidado com esse patife da Mão Negra, ele é astucioso como um padre. Quer que
  eu esteja aqui quando você lhe entregar o dinheiro, como testemunha?
    Vito Corleone balançou a cabeça. Nem sequer se preocupou em responder. Apenas pediu a
  Tessio:
    — Diga a Fanucci que lhe pagarei o dinheiro aqui em minha casa às nove horas da noite.
  Vou ter de dar a ele um copo de vinho e falar, argumentar com ele para aceitar uma quantia
  menor.
    Tessio balançou a cabeça.
    — Você não vai ter muita sorte. Fanucci nunca recua.
    — Vou argumentar com ele — retrucou Vito Corleone.
    Isso  se  tornaria  uma  frase  famosa  nos  anos  vindouros.  Tornar-se-ia  o  matraquear  de
  advertência  antes  de  um  ataque  mortal.  Quando  Corleone  se  tornou  um  Don  e  pedia  aos
  adversário  para  se  sentarem  e  argumentarem  com  ele,  eles  compreendiam  que  era  a  última
  oportunidade para resolverem uma questão sem derramamento de sangue e assassinato.
    Vito Corleone falou com a mulher para descer com os dois filhos, Sonny e Fredo, para a rua
  depois  da  ceia  e  não  permitir  de  modo  algum  que  subissem,  enquanto  ele  não  lhe  desse
  permissão.  A  mulher  devia  ficar  de  guarda  na  porta  do  apartamento.  Ele  tinha  um  negócio
  particular a resolver com Fanucci que não podia ser interrompido. Viu o ar de medo estampado
  no rosto da esposa e ficou zangado. Então disse calmamente a ela:
    — Você pensa que casou com um idiota?
    Ela não respondeu. Não respondeu porque estava com medo, agora não de Fanucci, mas de
  seu marido. Ele se estava transformando visivelmente ante seus olhos, hora a hora, num homem
  que irradiava uma força perigosa. Toda a vida fora calmo, falando pouco, mas sempre gentil,
  sempre sensato, o que era extraordinário num rapaz siciliano. O que ela estava vendo agora era a
  mu dança de sua personalidade. Estava deixando de ser um joão-ninguém inofensivo para iniciar
  o seu próprio destino. Ele havia iniciado tarde, estava com 25 anos de idade, mas devia iniciar
  com vigor.
    Vito Corleone tinha resolvido matar Fanucci. Fazendo isso, ele teria mais setecentos dólares
  em caixa. Os trezentos dólares que ele próprio teria de pagar ao terrorista da Mão Negra, os
  duzentos de Tessio e os duzentos de Clemenza. Se não matasse Fanucci, teria de pagar ao homem
  setecentos dólares ali na bucha. Fanucci vivo não valia para ele essa importância. Não pagaria
  setecentos dólares para manter Fanucci vivo. Se Fanucci precisasse de setecentos dólares para
  uma operação, a fim de salvar a vida, ele não daria a Fanucci o dinheiro para pagar ao cirurgião.
  Não tinha nenhuma dívida de gratidão com Fanucci, eles não eram parentes consangüíneos, ele
  não gostava de Fanucci. Por que, então, devia dar a Fanucci setecentos dólares?
    E seguia-se inevitavelmente que, desde que Fanucci desejava tomar setecentos dólares dele
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