Page 142 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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O que se seguiu então foi inevitável. Uma noite, a mulher de Vito trouxe uma vizinha, uma
viúva, ao apartamento. A mulher era italiana e de cará ter inatacável. Trabalhava arduamente
para manter um lar para os seus filhos sem pai. O filho de 16 anos de idade trazia para casa o seu
envelope de pagamento lacrado, para entregar a ela no estilo da velha Itália; a filha de 17 anos,
que era costureira, fazia o mesmo. Toda a família pregava botões em cartões, à noite, a preço
por peça de trabalho de escravo. O nome da mulher era Signora Colombo.
A mulher de Vito Corleone falou:
— A signora tem um favor a pedir a você. Ela está tendo alguma dificuldade.
Vito Corleone esperava que a mulher lhe pedisse algum dinheiro, o que ele estava disposto a
dar. Mas parece que a Sra. Colombo possuía um cachorro que o seu filho caçula adorava. O
senhorio recebera queixas contra o fato de o cachorro latir à noite e dissera à Sra. Colombo para
se livrar do animal. Ela fingira fazer isso. O senhorio descobrira que ela o enganara e lhe havia
ordenado que desocupasse o apartamento. A mulher prometera dessa vez livrar-se realmente do
cachorro e havia feito isso. Mas o senhorio estava tão zangado que não queria revogar a ordem.
Ela teria de sair ou a polícia seria chamada para pô-la para fora. E o seu pobre menino tinha
chorado muito quando eles deram o cachorro a parentes que viviam em Long Island. Assim, por
um nada, eles perderiam o seu lar.
Vito Corleone perguntou gentilmente à mulher:
— Por que a senhora me pede para ajudá-la?
A Sra. Colombo apontou para a esposa dele.
— Ela me disse para pedir ao senhor.
Ele ficou surpreso. Sua mulher nunca o interrogara sobre a roupa que ele lavara na noite em
que matara Fanucci. Nunca lhe perguntara de onde vinha todo o dinheiro quando ele não estava
trabalhando. Mesmo agora o seu rosto estava impassível. Vito disse para a Sra. Colombo:
— Posso dar-lhe algum dinheiro para ajudá-la a mudar-se, se é isso o que a senhora quer.
A mulher balançou a cabeça, chorando.
— Todas as minhas amigas estão aqui, todas as meninas com quem eu cresci na Itália. Como
posso me mudar para outro lugar onde só há estranhos? Quero que o senhor fale com o senhorio
para deixar que eu fique aqui.
Vito acenou com a cabeça.
— Está feito, então. A senhora não terá de se mudar. Falarei com ele amanhã de manhã.
A sua mulher deu-lhe um sorriso que ele não conhecia, mas que sentiu satisfação em
receber. A Sra. Colombo parecia um pouco em dúvida.
— Tem certeza de que o senhorio vai concordar? — perguntou ela.
— O Signor Roberto? — Vito perguntou com uma voz de surpresa. — Com certeza, ele dirá
“sim”. Ele é um sujeito de bom coração. Assim que eu explicar o que acontece com a senhora
ele ficará com pena de sua desgraça. Agora deixe de se preocupar com isso. Não fique tão
transtornada. Poupe a sua saúde, para o bem de seus filhos.
O senhorio, Sr. Roberto, vinha ao local todo dia para inspecionar os cinco conjuntos de
moradias que ele possuía. Ele era um padrone, um homem que vendia trabalhadores italianos
recém-chegados para as grandes companhias. Um homem educado do Norte da Itália, sentia
apenas desprezo por esses sulistas analfabetos da Sicília e de Nápoles que pululavam como
vermes pelos seus prédios, que atiravam lixo nas áreas internas, que deixavam as baratas e os
ratos roerem as suas paredes sem sequer levantarem a mão para preservarem a propriedade
dele. Não era um homem mau, era um bom marido e pai, mas tinha constante preocupação a
respeito de seus investimentos, a respeito do dinheiro que ele ganhava, a respeito das despesas
inevitáveis decorrentes do fato de ser ele um homem de propriedade, que tinha reduzido os seus
nervos a frangalhos, de forma que vivia num constante estado de irritação. Quando Vito Corleone
o deteve na rua para pedir-lhe que o ouvisse por um minuto, o Sr. Roberto foi frio, mas não rude,