Page 145 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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filhos, que, graças a Deus, já estavam bem crescidos e em condições de tomar conta do negócio
  e chegar a um acordo com a Companhia de Azeite Genco Pura.
    Mas os grandes homens não nascem grandes, tornam-se grandes, e era isso o que acontecia
  com Vito Corleone. Quando a Lei Seca foi aprovada e o álcool proibido de ser vendido, Vito
  Corleone deu o passo final de um negociante tipicamente comum, um tanto cruel, para se tornar
  um  grande  Don  no  mundo  do  empreendimento  criminoso.  Não  aconteceu  num  dia,  não
  aconteceu num ano, mas, no fim do período da Lei Seca e começo da Grande Depressão, Vito
  Corleone se tornara o Padrinho, o Don, Don Corleone.
    Isso começou de modo bem casual. Nessa época, a Companhia de Azeite Genco Pura tinha
  uma frota de seis caminhões de entrega. Por intermédio de Clemenza, Vito Corleone entrou em
  contato com um grupo de contrabandistas italianos que traziam bebidas alcoólicas e uísque do
  Canadá. Precisavam de caminhões e entregadores para distribuir seu produto em Nova York.
  Entregadores  que  fossem  de  confiança,  discretos  e  tivessem  alguma  determinação  e  força.
  Queriam  pagar  a  Vito  Corleone  pela  utilização  de  seus  caminhões  e  de  seus  homens.  A
  remuneração era tão grande que Vito Corleoiie reduziu drasticamente seu negócio de azeite para
  usar os caminhões quase exclusivamente para o serviço dos contrabandistas de bebidas. Isso a
  despeito do fato de que esses cavalheiros tinham feito a sua oferta acompanhada de uma ameaça
  delicada.  Mas  mesmo  então  Vito  Corleone  era  um  homem  tão  circunspecto  que  não  se
  considerou  insultado  com  a  ameaça,  nem  se  zangou,  tam  pouco  recusou  uma  oferta  bastante
  lucrativa por causa disso. Avaliou a ameaça, achou-a pouco convincente, e o seu conceito dos
  seus novos parceiros baixou porque eles tinham sido tão estúpidos para usar ameaças onde não
  havia a menor necessidade. Isso era uma informação útil a ser ponderada no devido momento.
    Ele prosperou novamente. Porém, mais importante ainda, adquiriu conhecimento, contatos e
  experiência. E acumulou boas ações como um banqueiro acumula valores mobiliários. Pois nos
  anos seguintes ficou claro que Vito Corleone não era apenas um homem de talento, mas, a seu
  modo, um gênio.
    Tornou-se  o  protetor  das  famílias  italianas  que  se  estabeleciam  com  pequenos  bares
  clandestinos em suas próprias casas, vendendo uísque a quinze centavos o copo a trabalhadores
  solteiros. Tornou-se padrinho do filho caçula da Sra Colombo quando o menino recebeu a crisma
  e deu um belo presente de uma moeda de ouro de vinte dólares. Entrementes, desde que era
  inevitável  que  alguns  dos  seus  caminhões  fossem  detidos  pela  polícia,  Genco  Abbandando
  contratou um excelente advogado com muitos elementos de contato no Departamento da Polícia
  e  no  Judiciário.  Um  sistema  de  gratificações  foi  estabelecido  e  logo  a  organização  Corleone
  passou  a  ter  uma  “folha”  enorme,  a  lista  de  funcionários  habilitados  a  receber  uma  quantia
  mensal. Quando o advogado procurou reduzir a lista, alegando a grande despesa, Vito Corleone
  tranqüilizou-o.
    — Não, não — disse ele. — Mantenha todo mundo nela, mesmo as pessoas que não nos
  podem ajudar agora. Acredito na amizade e quero mostrar a minha amizade primeiro.
    À medida que o tempo passava, o império de Corleone se tornava maior, mais caminhões
  eram  agregados  à  frota,  a  “folha”  se  tornava  maior.  Também  os  homens  que  trabalhavam
  diretamente para Tessio e Clemenza aumentavam em número. Toda a coisa estava se tornando
  difícil  de  controlar.  Finalmente  Vito  Corleone  concebeu  um  sistema  de  organização.  Deu  a
  Clemenza e Tessio, isto é, a cada um dos dois, o título de caporegime, ou capitão, e aos homens
  que trabalhavam sob as ordens deles a graduação de solda dos. Designou Genco Abbandando seu
  conselheiro,  ou consigliori.  Pôs  camadas  de  isolamento  entre  ele  mesmo  e  qualquer  ato
  operacional.  Quando  dava  uma  ordem  era  a  Genco  ou  a  um  dos  seus  caporegimes  a  sós.
  Raramente  tinha  testemunha  para  ouvir  qualquer  ordem  que  ele  desse  a  qualquer  um  deles.
  Depois separou o grupo de Tessio e o fez responsável pelo Brooklyn. Mais tarde também separou
  Tessio de Clemenza e tornou claro com o decorrer dos anos que não queria que os dois homens
  se ligassem nem sequer socialmente, a não ser quando absolutamente necessário. Explicou isso
  ao mais inteligente, Tessio que compreendeu imediatamente a intenção de Corleone embora este
  explicasse a coisa como sendo uma medida de segurança contra a lei. Tessio compreendeu que
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