Page 150 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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negócio do pai, nem muito brilhante, nem muito ansioso, contente por ter um trabalho leve.
    Entrementes, seu companheiro de infância e irmão semi-adotivo Tom Hagen freqüentava a
  faculdade. Fredo estava ainda na escola secundária; Michael, o irmão menor, cursava a escola
  primária, e a irmãzinha Connie era um fedelho de quatro anos de idade. A família há muito se
  mudara  para  um  edifício  de  apartamentos  no  Bronx.  Don  Corleone  estava  considerando  a
  possibilidade de comprar uma casa em Long Island, mas queria enquadrar isso em outros planos
  que estava formulando.
    Vito  Corleone  era  um  homem  de  visão.  Todas  as  grandes  cidades  da  América  estavam
  travando  uma  luta  tremenda  no  submundo.  Guerrilhas  rebentavam  em  toda  parte,  “maus
  elementos” ambiciosos procuravam arrancar para si um pedaço do império; homens como o
  próprio  Corleone  procuravam  garantir  as  suas  fronteiras  e  os  seus  negócios  de  extorsão.  Don
  Corleone  via  que  os  jornais  e  as  entidades  governamentais  estavam  usando  esses  assassinatos
  para  conseguir  leis  cada  vez  mais  rigorosas,  para  empregar  métodos  policiais  mais  severos.
  Previu  que  a  indignação  pública  podia  até  levar  à  suspensão  do  processo  democrático,  o  que
  poderia ser fatal para ele e sua gente. Seu próprio império, internamente, se achava seguro. Ele
  resolveu estabelecer a paz entre todas as facções em guerra em Nova York e depois no país
  inteiro.
    Não tinha ilusões sobre a periculosidade de sua missão. Passou o primeiro ano encontrando-
  se com os diferentes chefes das quadrilhas de Nova York, fundando os alicerces, sondando-os,
  propondo  esferas  de  influência  que  seriam  honradas  por  um  conselho  confederado
  voluntariamente  ligado.  Mas  havia  inúmeras  facções,  inúmeros  interesses  especiais  que
  entravam  em  conflito.  Um  acordo  era  impossível.  Como  outros  grandes  governantes  e
  legisladores da história, Don Corleone resolveu que a ordem e a paz eram impossíveis até que se
  reduzisse o número de Estados reinantes a uma quantidade controlável.
    Havia cinco ou seis “Famílias” muito poderosas para serem eliminadas. Mas o resto — os
  terroristas  da  Mão  Negra,  os  agiotas  franco-atiradores,  os bookmakers  valentes  que  operavam
  sem a adequada, isto é, paga, proteção das autoridades legais —. teria de desaparecer. E assim
  ele montou o que foi com efeito uma guerra colonial contra essa gente e lançou todos os recursos
  da organização Corleone contra ela.
    A  pacificação  da  área  de  Nova  York  levou  três  anos  e  teve  algumas  recompensas
  inesperadas. A princípio, tomou a forma de azar. Um grupo de assaltantes irlandeses enfurecidos,
  que Don Corleone marcara para ser exterminado, quase leva a melhor com um simples golpe de
  audácia. Por sorte, e com uma bravura suicida, um desses pistoleiros irlandeses furou o cordão
  de proteão de Don Corleone e deu-lhe um tiro no peito. O assassino foi imediatamente crivado de
  balas, mas o mal estava feito.
    Contudo,  isso  deu  a  Santino  Corleone  sua  oportunidade.  Com  o  pai  fora  de  ação,  Sonny
  assumiu o comando de uma tropa, seu próprio regime, com o posto de caporegime, e como um
  jovem  não-anunciado  Napoleão  mostrou  a  sua  genialidade  para  a  guerrilha  urbana.  Mostrou
  também uma crueldade impiedosa, cuja falta era o único defeito que se podia atribuir a Don
  Corleone como conquistador.
    De 1935 a 1937, Sonny Corleone ganhou reputação como o mais astuto e implacável algoz
  que o submundo já conhecera. Contudo, no que diz respeito ao simples terror, mesmo ele foi
  eclipsado pelo homem pavoroso chamado Luca Brasi.
    Foi Brasi que perseguiu o resto dos pistoleiros irlandeses e, sem ajuda de ninguém, eliminou
  todos  eles.  Foi  Brasi,  operando  sozinho  quando  uma  das  seis  poderosas  Famílias  procurou
  intrometer-se  e  tornar-se  protetora  dos  independentes,  que  assassinou  o  chefe  dessa  Família
  como uma advertência. Pouco depois, Don Corleone restabeleceu-se de seu ferimento e fez a
  paz com essa Família.
    Em  1937,  a  paz  e  a  harmonia  reinavam  em  Nova  York,  exceto  no  que  dizia  respeito  a
  pequenos incidentes, pequenos mal-entendidos que eram, naturalmente, às vezes fatais.
    Tal  como  os  governantes  das  cidades  antigas,  que  mantinham  vigilância  sobre  as  tribos
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