Page 151 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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bárbaras  que  rondavam  seus  muros,  assim  também  Don  Corleone  mantinha  um  olhar  atento
  sobre os negócios do mundo fora do seu. Notou a ascensão de Hitler, a queda da Espanha, a
  valentia da Alemanha contra a Inglaterra em Munique. Não se deixando ofuscar por esse mundo
  exterior, viu claramente a aproximação da guerra mundial e compreendeu suas implicações. Seu
  próprio mundo ficaria mais inexpugnável do que antes. Não somente isso, fortunas podiam ser
  feitas  em  tempo  de  guerra  por  gente  esperta  e  de  previsão.  Mas  para  fazer  isso,  a  paz  devia
  reinar em seu domínio, enquanto a guerra campeava no mundo exterior.
    Don  Corleone  levou  sua  mensagem  através  dos  Estados  Unidos.  Conferenciou  com
  compatriotas em Los Angeles, São Francisco, Cleveland, Chicago, Filadélfia, Miami e Boston. Ele
  era o apóstolo da paz do submundo e, em 1939, obtendo mais êxito do que qualquer papa, havia
  conseguido um acordo efetivo entre as mais poderosas organizações do submundo do país. Tal
  como a Constituição dos Estados Unidos, esse acordo respeitava plenamente a autoridade interna
  de cada membro em seu Estado ou cidade. O acordo abrangia apenas esferas de influência e um
  trato para garantir a paz no submundo.
    E assim, quando a II Guerra Mundial irrompeu em 1939, quando os Estados Unidos entraram
  no  conflito  em  1941,  o  mundo  de  Vito  Corleone  estava  em  paz,  em  ordem,  plenamente
  preparado para colher a safra de ouro em igualdade de condições com todas as outras indústrias
  da progressista América. A Família Corleone tinha seu domínio sobre o fornecimento, no câmbio
  negro, de cupões de racionamento de alimentos e de gasolina, e até prioridades para viagens.
  Podia ajudar a conseguir contratos de guerra e depois ajudar a conseguir, no câmbio negro, os
  materiais  para  aquelas  firmas  de  confecção  de  roupas  feitas  que  não  podiam  obter  matéria-
  prima  suficiente  porque  não  tinha  contratos  com  o  governo.  Podia  até  conseguir  que  todos  os
  jovens de sua organização, aqueles em idade de ser convocados para o Exército, fossem isentos
  de  lutar  na  guerra  estrangeira.  Fazia  isso  com  o  auxílio  de  médicos  que  aconselhavam  os
  preparados  farmacêuticos  que  deviam  ser  tomados  antes  do  exa  me  físico,  ou  colocando  os
  rapazes em posições isentas de convocação nas indústrias de guerra.
    E assim Don Corleone podia orgulhar-se de sua atividade como dirigente. Seu mundo era
  seguro para aqueles que lhe haviam jurado lealdade; outros homens que acreditavam na lei e
  ordem estavam morrendo aos milhões. A única coisa que lhe causara grande contrariedade foi
  que o seu próprio filho, Michael Corleone, recusou-se a ser ajudado, insistiu em se apresentar
  como voluntário para servir o seu país. E, para espanto de Don Corleone, assim fizeram alguns
  dos outros rapazes da organização. Um dos homens, procurando explicar isso a seu caporegime,
  disse:
    — Este país tem sido bom para mim.
    Depois  que  essa  história  foi  contada  a  Don  Corleone,  ele  retrucou  raivosamente  para  o
  caporegime:
    — Eu fui bom para esse rapaz.
    As coisas podiam tornar-se desagradáveis para essa gente, mas, como ele havia perdoado
  seu  filho  Michael,  devia  perdoar  também  os  outros  rapazes  que  haviam  interpretado
  erroneamente o seu dever para com o seu Don e eles mesmos.
    No término da II Guerra Mundial, Don Corleone sabia que o seu mundo teria novamente de
  mudar os seus processos, que teria de se enquadrar mais ajustadamente aos processos do outro
  mundo  maior.  Ele  acreditava  que  podia  fazer  isso  sem  qualquer  prejuízo  econômico  ou
  financeiro.
    Não havia motivo para  essa  crença  em  sua  própria  experiência.  O  que  o  pusera  na  pista
  certa foram dois negócios pessoais. No começo de sua carreira, o então jovem Nazorine, que era
  apenas um ajudante de padeiro que pretendia se casar, viera pedir-lhe auxilio. Ele e sua futura
  esposa,  uma  boa  moça  italiana,  tinham  economizado  dinheiro  e  pago  a  elevada  quantia  de
  trezentos dólares a um atacadista de móveis que lhe fora recomendado. Esse atacadista deixara-
  os  escolher  tudo  o  que  quiseram  para  mobiliar  o  futuro  apartamento  do  casal.  Um  lindo
  dormitório de material de primeira com duas cômodas e abajures. Também uma sala de estar
  com  um  sofá  bem  estofado  e  poltronas,  tudo  forrado  com  um  lindo  pano  com  fio  de  ouro.
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