Page 156 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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três últimas semanas?
Esta pergunta foi o suficiente para fazê-la compreender a situação. Há três semanas
passadas, lera os jornais de Boston com suas manchetes, sobre o assassinato de um capitão da
polícia de Nova York e um contrabandista de narcóticos chamado Virgil Sollozzo. Um jornal
dissera que isso era um episódio da guerra entre quadrilhas, na qual estava metida a Família
Corleone.
— Não — Kay balançou a cabeça — a última vez que o vi, ele ia ver o pai no hospital. Isso
foi talvez há coisa de um mês.
— Sabemos tudo a respeito desse encontro — atalhou o outro detetive com voz áspera. — A
senhorita o viu, ou teve alguma notícia dele desde então?
— Não — respondeu Kay.
— Se a senhorita tem algum contato com ele — falou o Detetive Phillips com voz delicada
— nós gostaríamos de saber. É muito importante falarmos com Michael Corleone. Devo preveni-
la de que se a senhorita entrar em contato com ele, poderá meter-se numa situação perigosa. Se
a senhorita ajudá-lo de alguma forma, poderá complicar-se seriamente.
— Por que não devo ajudá-lo? — perguntou Kay, endireitando-se na cadeira. — Nós vamos
casar, gente casada ajuda uma a outra.
Foi o Detetive Siriani que respondeu a ela.
— Se a senhorita ajudá-lo, poderá ser acusada de cúmplice de crime. Estamos procurando o
seu namorado porque ele matou um capitão da polícia de Nova York e mais um informante com
quem o oficial da polícia estava conversando. Sabemos que foi Michael Corleone quem atirou
neles.
Kay deu uma gargalhada, mas uma gargalhada tão espontânea, tão incrédula, que os
policiais ficaram impressionados.
— Mike não faria uma coisa como essa — retrucou ela. — Ele nunca teve nada em comum
com a família. Quando fomos ao casamento da irmã dele, era evidente que ele era tratado como
um estranho, quase com a mesma indiferença com que eu fui tratada. Se está escondido agora, é
só para que não haja publicidade em torno dele, para que o seu nome não seja arrastado com
tudo isso. Mike não é um gangster. Eu o conheço melhor do que vocês ou do que qualquer outra
pessoa. É um rapaz muito distinto para fazer uma coisa tão desprezível como cometer um
assassinato. É a pessoa mais respeitadora da lei que eu conheço, nunca soube que ele mentia.
— Há quanto tempo a senhorita o conhece? — indagou o Detetive Phillips gentilmente.
— Há mais de um ano — respondeu Kay, surpreendendo-se quando os dois homens
sorriram.
— Acho que existem algumas coisas que a senhorita precisa saber — disse o Detetive
Phillips. — Na noite em que ele deixou a senhorita, foi para o hospital. Quando saiu dali, teve
uma discussão com um capitão da polícia que fora ao hospital, a serviço. Ele atacou esse oficial
da polícia e levou a pior. De fato, ele sofreu uma fratura do maxilar e perdeu alguns dentes. Seus
amigos levaram-no para a casa da Família Corleone, em Long Beach. Na noite seguinte, o
capitão da polícia com quem ele brigara foi mortalmente baleado e Michael Corleone
desapareceu. Sumiu. Temos os nossos contatos, os nossos informantes. Todos eles apontam
Michael Corleone, mas não temos provas suficientes para um tribunal de justiça. O garçom que
testemunhou os disparos não reconheceu um retrato de Mike, mas pode reconhecê-lo em pessoa.
E temos o motorista de Sollozzo, que se recusa a falar, mas podemos fazê-lo falar se tivermos
Michael Corleone em nosso poder. Assim, todo o nosso pessoal o está procurando, bem como o
FBI e um mundo de gente. Até agora, não tivemos sorte. Desse modo, pensamos que talvez a
senhorita fosse capaz de nos dar alguma pista.
— Não acredito numa palavra disso — acrescentou Kay friamente.
Porém, sentiu-se um tanto pesarosa, ao saber que a notícia de que Mike tivera o maxilar
fraturado podia ser verdadeira. Não que isso pudesse levar Mike a cometer um assassinato.
— Promete nos comunicar se Mike entrai em contato com a senhorita? — inquiriu Philips.