Page 157 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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Kay balançou a cabeça negativamente.
— Sabemos que vocês dois estiveram dormindo juntos — acrescentou grosseiramente o
Detetive Siriani Temos os registros dos hotéis e testemunhas. Se deixarmos essa informação
chegar ao conhecimento dos jornais, seu pai e sua mãe se sentirão muito mal. Gente respeitável,
como realmente é, eles não gostarão de saber que a filha andou dormindo com um gangster. Se a
senhorita não falar a verdade agora mesmo, chamarei seu velho aqui e contarei tudo direitinho a
ele.
Kay olhou para o detetive espantada. Em seguida, se levantou, foi até a porta do gabinete e
abriu-a. Avistou o pai em pé à janela da sala de estar, fumando o seu cachimbo.
— Papai, você pode vir até aqui? — gritou ela então.
Ele virou-se, sorriu para ela e veio caminhando para o gabinete. Quando atravessou a porta,
passou o braço em torno da cintura da filha e encarou os detetives dizendo:
— Às suas ordens, cavalheiros.
Vendo que ficaram mudos, Kay disse friamente ao Detetive Siriani:
— Conte tudo direitinho a ele, meu senhor.
Siriani ficou vermelho.
— Sr. Adams, vou contar-lhe isso, para o próprio bem de sua filha. Ela anda se misturando
com um mau elemento que, temos motivo para acreditar, matou um oficial da polícia. Estou
dizendo a ela que pode complicar-se seriamente se não cooperar conosco. Mas parece que ela
não compreende como toda essa questão é séria. Talvez o senhor possa falar com ela.
— Isso é absolutamente inacreditável — respondeu o Sr. Adams delicado.
Siriani moveu o queixo.
— Sua filha e Michael Corleone têm saído juntos há mais de um ano. Têm pernoitado juntos
em hotéis, registrados como marido e mulher. Michael Corleone está sendo procurado para ser
interrogado sobre o assassinato de um oficial da polícia. Sua filha se recusa a nos dar qualquer
informação que nos possa ajudar. Estes são os fatos. O senhor pode achá-los incríveis, mas posso
provar tudo isso.
— Não duvido de sua palavra, cavalheiro — retrucou o Sr. Adams gentilmente. — O que
acho inacreditável é que minha filha possa estar seriamente complicada. A não ser que os
senhores estejam sugerindo que ela é uma... — aqui o seu rosto adquiriu uma gravidade duvidosa
— uma “rameira”, acreditoque é assim que se chama.
Kay olhou para o pai espantada. Sabia que ele estava brincando à sua maneira solene, e
ficou surpresa ao notar que ele encarava a coisa toda de modo tão superficial.
— Contudo — acrescentou o Sr. Adams com firmeza – podem ficar certos de que se esse
rapaz aparecer por aqui, eu comunicarei imediatamente a sua presença às autoridades. Como
fará também a minha filha. Agora, se os senhores nos perdoam, o almoço está esfriando.
Conduziu os homens para fora da casa, com toda a cortesia, e fechou a porta nas costas deles
de modo gentil, mas com firmeza. Tomou Kay pelo braço e levou-a para a cozinha distante,
situada nos fundos da casa.
—Venha, querida, sua mãe está servindo o nosso almoço.
Quando chegaram à cozinha, Kay estava chorando silenciosamente, para aliviar-se da
tensão, ante a demonstração de afeto incondicional do pai. Na cozinha, a mãe não tomou
conhecimento do seu choro, e Kay compreendeu que o pai devia ter-lhe falado a respeito dos
dois detetives. Sentou-se no seu lugar e a mãe a serviu em silêncio. Quando os três estavam à
mesa, o pai pronunciou a sua rápida oração de graças com a cabeça abaixada.
A Sra. Adams era uma mulher baixa e robusta, sempre bem vestida, e com o cabelo sempre
penteado. Kay nunca a vira desalinhada. A mãe também sempre estivera um tanto
desinteressada por ela, mantendo-a a certa distância. E assim o fazia agora.
— Kay, deixe de ser tão trágica. Tenho certeza de que tudo não passa de muito espalhafato
em torno de nada. Afinal de contas, o rapaz estava freqüentando Dartmouth, não podia estar