Page 162 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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E a mãe balançou a cabeça afirmativamente e sorriu.
    Connie contou-lhe como o marido lhe havia tirado o dinheiro do presente de casamento e
  nunca lhe dissera o que fizera com ele. O pai deu de ombros.
    — Eu teria feito o mesmo, se minha mulher fosse tão insolente como você — acrescentou o
  pai.
    Assim, voltou para casa, tanto desnorteada quanto apavorada. Sempre fora a predileta do pai,
  e não podia compreender a frieza dele agora.
    Entretanto,  Don  Corleone  não  foi  tão  indiferente  como  fingira.  Mandou  investigar,
  descobrindo  o  fim  que  Carlo  Rizzi  dera  ao  dinheiro  do  presente  de  casamento.  Ele  havia
  designado  homens  para  trabalharem  no  negócio  de bookmaker  de  Carlo  Rizzi,  os  quais
  comunicariam a Hagen tudo o que ele fazia. Mas Don Corleone não podia intervir. Que se podia
  esperar de um homem que cumprisse seus deveres de esposo com uma mulher cuja família ele
  temesse?  Era  uma  situação  impossível  e  em  que  não  se  atrevia  a  meter-se.  Quando  Connie
  engravidou, convenceu-se do acerto de sua decisão e sentiu que nunca deveria intervir, embora
  Connie se queixasse à mãe de mais alguns bofetões que levava e a mãe se preocupava tanto, que
  contava a Don Corleone.
    Connie chegou a insinuar que queria o divórcio. Pela primeira vez na vida de Connie, o pai se
  zangara com ela.
    — Ele é o pai de seu filho. Como pode uma criança nascer nesse mundo se não tem pai? —
  perguntou a Connie.
    Tomando conhecimento de tudo isso, Carlo Rizzi adquiriu mais confiança em si. Sentia-se
  perfeitamente seguro. De fato, ele se pavoneava entre seus “apontadores” de apostas, Sally Rags
  e  Coach,  da  maneira  como  batia  na  mulher,  quando  ela  o  aborrecia,  e  percebia  o  olhar  de
  respeito deles, ao saberem que ele tinha a coragem de maltratar a filha do grande Don Corleone.
    Entretanto  Rizzi  não  se  sentiria  tão  seguro  se  soubesse  que  quando  Sonny  Corleone  foi
  informado dessas surras, foi atacado de uma fúria assassina e só se conteve por causa da ordem
  enérgica  e  imperiosa  do  próprio  Don  Corleone,  ordem  que  nem  mesmo  Sonny  se  atrevia  a
  desobedecer. Era esse o motivo por que Sonny evitava Rizzi, pois não confiava muito em poder
  controlar o seu temperamento.
    Assim, sentindo-se perfeitamente seguro nessa bela manhã de domingo, Carlo Rizzi cruzou
  velozmente a cidade, da Rua 96 para a zona Este. Ele não vi u o carro de Sonny vir do lado oposto
  na direção de sua casa.
    Sonny  Corleone  deixara  a  proteção  da  alameda  e  passara  a  noite  com  Lucy  Mancini  na
  cidade. Agora, de volta para casa, estava acompanhado de quatro guarda-costas, dois na frente e
  dois atrás. Ele não precisava de guardas ao seu lado, podia encarregar-se de um simples ataque
  direto. Os outros homens andavam em seus próprios carros e tinham apartamentos em cada lado
  do apartamento de Lucy. Era seguro visitá-la, desde que ele não o fizesse com muita freqüência.
  Agora, que estava na cidade, pensou em apanhar a irmã Connie e levá-la a Long Beach. Sabia
  que Carlo devia estar trabalhando no seu “escritório” de bookmaker e o salafrário não arranjaria
  um carro para ela. Assim, daria uma carona à irmã.
    Esperou  os  dois  homens  da  frente  entrarem  no  edifício,  seguindo-os  depois.  Viu  os  dois
  homens de trás frearem o carro atrás do dele e saltarem para olhar as ruas. Sonny mantinha os
  seus próprios olhos bem abertos. Havia uma possibilidade enorme de que os adversários nem
  mesmo soubessem que ele estava na cidade, mas ele era sempre cauteloso. Aprendera isso na
  guerra de 1930.
    Sonny  nunca  usava  elevadores.  Eram  armadilhas  mortais.  Subiu  os  oito  andares  até  o
  apartamento de Connie bem depressa. Bateu na porta dela. Vira o carro de Carlo afastar-se e
  sabia  que  a  irmã  estaria  só.  Não  houve  resposta.  Bateu  novamente  e  depois  ouviu  a  voz
  apavorada e tímida.
    — Quem é? — indagou Connie.
    O pavor na voz da irmã espantou-o. A sua irmãzinha sempre fora viva e arrogante, dura
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