Page 163 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
P. 163

como qualquer pessoa da família. Que diabo acontecera a ela?
    — É Sonny — respondeu eles
    O ferrolho de dentro moveu-se para trás, a porta se abriu e Connie se atirou em seus braços
  soluçando.  Ele  ficou  tão  surpreso,  que  permaneceu  algum  tempo  ali  parado.  Afastou-a  um
  pouco, viu o rosto dela inchado e compreendeu o que havia acontecido.
    Desprendeu-se dela para descer correndo as escadas e ir atrás do marido. A raiva inflamou-
  o, contorcendo-lhe o rosto. Connie viu a raiva e agarrou-se a ele, não o deixando ir, fazendo-o
  entrar no apartamento. Agora, ela chorava de terror. Conhecia o temperamento do irmão mais
  velho e tinha medo. Nunca se queixara a ele, por esse motivo. Fê-lo então entrar no apartamento
  com ela.
    — Foi culpa minha — disse. — Comecei a brigar com Carlo e tentei bater nele e assim ele
  bateu em mim. Carlo de fato não queria bater em mim com tanta força. Eu fui em cima dele.
    O rosto de cupido de Sonny controlou-se.
    —  Você  vai  ver  o  velho  hoje?  —  Ela  não  respondeu.  —,  Pensei  que  você  fosse  —
  acrescentou — por isso passei aqui para lhe dar uma carona. Eu já estava na cidade.
    Ela balançou a cabeça.
    — Não quero que me vejam desse jeito. Vou na próxima semana.
    — Está bem — respondeu Sonn
    Ele pegou o telefone da cozinha e discou um número.
    — Estou chamando um médico para vir aqui dar uma olhada e ver o que pode fazer por
  você. No seu estado, você precisa tomar cuidado. Quantos meses faltam para ter o filho?
    — Dois meses — respondeu Connie. — Sonny, por favor, não faça nada. Por favor, não
  faça.
    Sonny deu uma gargalhada, mas seu rosto demonstrava claramente a sua intenção.
    — Não se preocupe, não farei seu filho órfão antes de ele nascer — acrescentou.
    Deixou o apartamento depois de beijá-la de leve na face incólume.
    Na rua 112, da zona Este, uma longa fila de carros estava estacionada em linha dupla em
  frente de uma confeitaria que era a sede da banca de apostas de Carlo Rizzi. Na calçada em
  frente  da  confeitaria,  pais  brincavam  de  pegar  bola  com  crianças  pequenas  que  eles  tinham
  trazido para passear na manhã de domingo e para fazer-lhes companhia, enquanto faziam suas
  apostas. Quando viram Carlo Rizzi aproximar-se, pararam de jogar bola e compraram sorvete pa
  ra os guris, a fim de mantê-los quietos. Então, começaram a estudar os jornais que traziam os
  lançadores iniciais, procurando escolher as apostas de beisebol para o dia.
    Carlo entrou na sala grande dos fundos da confeitaria. Seus dois “apontadores”, um sujeito
  pequeno e franzino chamado Saily Rags e um tipo forte chamado Coach, já estavam esperando
  para começar as suas atividades. Tinham seus enormes blocos pautados em frente deles prontos
  para apontar as apostas. Num cavalete de pau, estava um quadro-negro com os nomes das 16
  equipes da divisão principal escritos a giz, dois a dois, para mostrar quem jogava contra quem.
  Junto a cada par de equipes havia um quadradozinho para se escrever a cotação.
    — O telefone da confeitaria está interceptado hoje? — perguntou Carlo a Coach.
    Coach balançou a cabeça.
    — Não, o telefone continua a não estar interceptado.
    Carlo foi até o telefone da parede e discou um número. Sally Rags e Coach observavam-no
  impassivamente, enquanto ele anotava os “informes”, a cotação de todos os jogos de beisebol
  programados  para  aquele  dia.  Observavam-no,  enquanto  ele  desligava  o  telefone  e  se  dirigia
  para o quadro-negro e escrevia a giz a cotação de cada jogo. Embora Carlo não soubesse, eles já
  ha viam obtido os “informes” e estavam conferindo o seu trabalho. Na primeira semana de sua
  atividade ali, Carlo cometera um erro ao transpor a cotação para o quadro-negro e criou o sonho
  de todos os jogadores, o “intermediário”. Isto é, apostando na cotação dele e depois apostando
   158   159   160   161   162   163   164   165   166   167   168