Page 159 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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— Se eu recebesse esta carta e você dissesse a um tribunal de justiça que eu a aceitei, isso
  poderia ser interpretado que eu sabia de sua localização. . Por que você não espera um pouco?
  Tenho certeza de que Mike entrará em contato com você.
    Kay  acabou  de  beber  e  levantou-se  para  partir.  Hagen  acompanhou-a  até  o  corredor  de
  saída, mas quando ele abriu a porta, uma mulher entrou. Era uma mulher baixa e robusta, vestida
  de preto. Kay reconheceu-a como a mãe de Michael.
    — Como vai, Senhora Corleone? — perguntou Kay, estendendo-lhe a mão.
    Os pequenos olhos pretos da mulher fixaram-se sobre ela por um momento, depois o rosto
  enrugado,  duro,  esverdeado  abriu-se  num  sorriso  rápido  de  saudação  que,  contudo,  era  de
  alguma forma curiosa e verdadeiramente amistosa.
    — Ah, você é a pequena de Mike — disse a Sra. Corleone. Ela tinha um sotaque italiano
  carregado, e Kay mal podia compreendê-la. — Você come alguma coisa?
    Kay respondeu que não, querendo dizer que não queria comer nada. Então, a Sra. Corleone
  virou-se furiosamente para Tom Hagen e ralhou com ele em italiano, terminando assim:
    — Você não serviu café a essa pobre moça, seu disgraziato.
    Pegou  Kay  pela  mão  e  conduziu-a  para  a  cozinha.  A  mão  da  senhora  Corleone  estava
  surpreendentemente quente e vigorosa.
    — Tome café e coma alguma coisa, depois alguém a levará para casa. Não quero que uma
  garota distinta como você apanhe o trem.
    Fez  Kay  sentar-se  e  começou  a  movimentar-se  afobadamente  na  cozinha,  arrancando
  violentamente o capote e o chapéu, pendurando-os numa cadeira. Em poucos segundos havia
  pão, queijo e salame na mesa e café no fogão.
    —  Vim  pedir  notícias  de  Mike  —  falou  Kay  timidamente  —  não  sei  onde  ele  está.  O  Sr
  Hagen disse que ninguém sabe seu paradeiro, mas que ele vai aparecer dentro de pouco tempo.
    — Isso é tudo o que podemos dizer a ela agora, mamãe — atalhou rapidamente Hagen.
    A Sra. Corleone lançou-lhe um olhar de fulminante desprezo.
    — Agora você vai-me dizer o que fazer? Meu marido não me diz o que fazer, Deus tenha
  misericórdia dele.
    Ela persignou-se.
    — O Sr. Corleone está passando bem? — perguntou Kay.
    — Muito bem — respondeu a Sra. Corleone. — Muito bem. Ele está ficando velho e muito
  bobo, para deixar que uma coisa como essa aconteça.
    Ela bateu na cabeça da moça com intimidade. Serviu o café e obrigou Kay a comer pão
  com queijo.
    Depois de beberem café, a Sra. Corleone tomou a mão de Kay entre suas mãos morenas, e
  falou tranqüilamente:
    — Mike não vai escrever-lhe, você não vai ter notícias de Mike. Ele vai ficar escondido uns
  dois ou três anos. Talvez mais... talvez muito mais. Volte para a casa de sua família e procure um
  bom rapaz e case-se.
    — A senhora pode mandar entregar isso a ele? — perguntou Kay tirando a carta da bolsa.
    A Sra. Corleone pegou a carta e deu um tapinha na face de Kay.
    — Certamente, certamente — respondeu ela.
    Hagen começou a protestar e ela gritou com ele em italiano. Depois ela Levou Kay até a
  porta.
    — Esqueça Mike, ele não é mais o homem que lhe serve — falou depressa, beijando-lhe o
  rosto.
    Havia um carro esperando por ela, com dois homens em pé na frente.
    Conduziram-na até o hotel em Nova York, sem pronunciar uma só palavra.
    O mesmo fez Kay. Procurava acostumar-se à idéia de que o rapaz que amava ara um frio
  assassino. E isso lhe fora revelado pela fonte mais indiscutível: a mãe dele.
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