Page 160 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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CAPÍTULO 16
CARLO RIZZI sentia-se profundamente magoado. Uma vez casado com uma moça da
Família Corleone, fora posto de lado com um pequeno negócio de bookmaker na Zona Leste de
Manhattan. Estava contando com uma das casas na alameda de Long Beach, sabia que Don
Corleone, quando quisesse, podia fazer mudar dali as famílias dependentes, e ele tinha certeza de
que isso aconteceria e ficaria por dentro de tudo. Contudo, Don Corleone não o estava tratando
corretamente. O “Grande Don”, pensava ele com desprezo. Um velho antiquado que se deixara
surpreender por pistoleiros na rua, como qualquer bandido de terceira classe. Esperava que o
velho salafrário esticasse a canela. Sonny fora seu amigo antigamente e, se se tornasse o chefe
da Família, talvez ele, Rizzi, tivesse uma oportunidade, passasse a ficar por dentro.
Observava a sua mulher servir-lhe o café. Jesus Cristo, que coisa que ela se tornou! Cinco
meses de casados, e ela já estava engordando barbaramente, além de bronquear noite e dia.
lgualzinha a todas aquelas mulher italianas do bairro.
Rizzi estendeu o braço e passou a mão nas nádegas moles e enormes de Connie. Ela sorriu-
lhe.
— Vocé está mais gorda do que uma porca — comentou ele desdenhosamente.
Sentia prazer em ver a mágoa estampada no rosto dela, e as lágrimas correrem-lhe dos
olhos. Ela podia ser filha do Grande Don, mas era mulher dele, era sua propriedade agora, e
podia tratá-la como quisesse. Sentia-se poderoso em pensar que um membro da Família
Corleone era seu capacho.
Agora começava a subjugá-la. Connie tentara guardar para si mesma aquela bolsa cheia do
dinheiro que recebeu como presente de casamento, mas ele lhe dera um bom soco no olho e lhe
arrancara o dinheiro. Tampouco jamais dissera a ela o que tinha feito desse dinheiro. Na
verdade, isso poderia ter-lhe causado alguma amolação. Mesmo agora, não sentia a mais leve
ponta de remorso. Jesus Cristo, ele queimara quase quinze mil dólares nas corridas de cavalo e
com as mulheres de cabarés.
Percebia que Connie olhava para as suas costas, por isso flexionou os músculos, quando
estendeu o braço para alcançar o prato de pãezinhos doces colocado do outro lado da mesa.
Acabara de devorar o seu presunto com ovos, mas era um homem grandão e precisava de um
breakfast reforçado. Sentia-se satisfeito com a impressão que causava à mulher. Diferente do
comum dos maridos carcamanos morenos e cozinheiros, era um tipo louro, de cabelo à
escovinha, com enormes antebraços de pêlo louro, ombros largos e cintura estreita. Sabia que era
fisicamente mais forte do que qualquer um daqueles sujeitos chamados duros que trabalhavam
para a Famfiia. Tais como Clemenza, Tessio, Rocco Lampone e aquele cara Paulie que alguém
tinha eliminado. Ele ignorava tudo a respeito dessa história. Depois, por um motivo qualquer,
pensou em Sonny. De homem para homem, ele podia vencer Sonny, mesmo que o cunhado
fosse um pouco maior e um pouco mais pesado do que ele. Porém, o que o amedrontava era a
fama de Sonny, embora só estivesse acostumado a vê-lo como um rapaz bonachão e brincalhão.
Sim, Sonny era seu “faixa”. Se Don Corleone batesse a bota, talvez as coisas melhorassem.
Tomava o café devagar e matutava. Detestava aquele apartamento. Estava acostumado com
as moradias maiores da Zona Oeste e, daí a pouco, teria de atravessar a cidade para ir para o seu
escritório de bookmaker, a fim de cuidar das apostas do meio-dia. Era domingo, o dia mais ativo
da semana, com o beisebol já em ação, os times de basquetebol de segunda categoria e as
corridas noturnas de cavalo. Gradualmente, percebeu Connie em grande atividade atrás dele e
virou a cabeça para observá-la.
Estava vestindo-se daquele jeito tão vulgar de Nova York e que ele detestava. Um vestido de
seda estampada com flores, cinto, pulseira e brincos espalhafatosos, mangas pregueadas. Parecia
vinte anos mais velha.
— Diabo, onde vai você? — inquiriu ele.
— Ver meu pai em Long Beach — respondeu-lhe friamente. — Ele ainda não pode sair da