Page 153 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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O chefe dos três homens deu de ombros.
    — A gente deixa o forno tal como está agora. — Apontou para as peças de metal espalhadas
  pelo chão.
    Don Corleone respondeu humildemente:
    — Esperem, vou apanhar o dinheiro.
    Em seguida, saiu para o jardim e disse a Sonny:
    — Escute, há uns homens trabalhando no forno, não entendo o que é que eles querem. Entre
  lá e resolva a questão.
    Não era apenas uma brincadeira; ele pretendia fazer o filho seu subchefe. Isso era uma das
  provas pelas quais um diretor comercial tinha de passar.
    A  solução  de  Sonny  não  agradou  inteiramente  ao  pai.  Foi  muito  direta,  faltou-lhe
  completamente a sutileza siciliana. Ele era a Clava, não a Espada. Pois logo que Sonny ouviu a
  exigência do chefe da turma, pôs os três homens sob a mira de sua arma e fez os seus guarda-
  costas  aplicar-lhes  umas  boas  bordoadas.  Depois,  obrigou-os  a  consertar  o  forno  e  arrumar
  direitinho o porão. Revistou-os e descobriu que eles na realidade eram empregados de uma firma
  empreiteira cuja sede era no Condado de Suffolk. Conseguiu saber o nome do dono da firma. Em
  seguida. levou os três homens a pontapés para o caminhão deles.
    — Não me apareçam mais aqui em Long Beach — gritou para eles. — Eu lhes pendurarei
  os colhões nas orelhas.
    Era  típico  do  jovem  Santino,  antes  que  se  tornasse  mais  velho  e  mais  cruel,  que  ele
  estendesse a sua proteção à comunidade em que vivia. Sonny fez uma visita pessoal ao dono da
  firma empreiteira e disse-lhe que não mandasse nunca mais nenhum de seus homens a Long
  Beach. Logo que a Família Corleone estabelecia sua ligação habitual com a força policial local
  era  informada  de  todas  essas  queixas  e  de  todos  os  crimes  praticados  pelos  elementos
  profissionais.  Em  menos  de  um  ano,  Long  Beach  tornou-se  a  cidade  dentro  de  sua  categoria,
  onde  o  crime  imperava  menos  livremente  nos  Estados  Unidos.  Os  assaltantes  e  valentões
  profissionais recebiam um aviso para não exercerem sua atividade na cidade. Permitia-se que
  cometessem  uma  infração.  Quando  cometiam  a  segunda,  simplesmente  desapareciam.  Os
  embusteiros de consertos de casa, os vigaristas a domicilio, eram delicadamente advertidos de
  que  não  seriam  bem  recebidos  em  Long  Beach.  Os  trapaceiros  que  não  levavam  em
  consideração  a  advertência  eram  surrados  até  ficarem  quase  à  morte.  Os  jovens  desordeiros
  residentes  no  local,  que  não  tinham  respeito  pela  lei  e  pela  autoridade  constituída,  eram
  aconselhados da maneira mais paternal possível a fugirem de casa. Long Beach tornou-se uma
  cidade-modelo.
    O  que  impressionava  a  Don  Corleone  era  a  validade  legal  dessas  falcatruas  de  vendas.
  Evidentemente, havia um lugar para um homem de seu talento nesse outro mundo que esteve
  fechado para ele quando era um rapaz honesto. Ele tomou as medidas necessárias para entrar
  nesse mundo.
    E assim vivia feliz na alameda de Long Beach, consolidando e ampliando seu império, até
  que, quando terminou a guerra, o turco Sollozzo rompeu a paz e mergulhou o mundo de Don
  Corleone em sua própria guerra, e o levou para a cama do hospital.
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