Page 148 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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deseja a minha amizade, assim seja. Mas então devo dizer-lhe que o clima nesta cidade é úmido,
  insalubre, para os napolitanos, sendo aconselhável que você nunca a visite.”
    A arrogância desta carta era calculada. Don Corleone tinha o grupo  de  Capone  em  baixo
  conceito, considerando-os como assassinos estúpidos e óbvios. Seus informantes comunicaram-
  lhe que Capone perdera toda a influência política devido à sua arrogância pública.e à ostentação
  de sua riqueza criminosa. Don Corleone sabia, de fato era positivo, que, sem influência política,
  sem  a  camuflagem  da  sociedade,  o  mundo  de  Capone  e  outros  como  ele  seria  facilmente
  destruído. Sabia que Capone estava a caminho da destruição. Sabia também que a influência de
  Capone não ultrapassava os limites de Chicago, por mais terrível e penetrante que essa influência
  pudesse ser.
    A  tática  surtiu  efeito.  Não  tanto  devido  à  sua  ferocidade,  mas  devido  à  rapidez  fria,  à
  instantaneidade  da  reação  de  Don  Corleone.  Se  o  seu  serviço  de  informações  era  tão  bom,
  qualquer passo que se tentasse dar estaria prenhe de perigo. Era melhor, mais prudente, aceitar a
  oferta de amizade com a sua implícita recompensa. O grupo de Capone respondeu que não se
  meteria na briga.
    As coisas agora estavam equilibradas. E Vito Corleone conquistara um bocado de “respeito”
  em todo o submundo dos Estados Unidos com a humilhação do grupo de Capone. Durante seis
  meses, Don Corleone levou a melhor sobre Maranzano. Atacou os jogos de dados sob a proteção
  desse gangster, localizou o seu maior banqueiro político no Harlem e o “aliviou” do jogo de um
  dia, não somente em dinheiro, mas também em outras coisas. Brigou com os inimigos em todas
  as frentes. Mesmo no setor das roupas feitas, ele enviou Clemenza e seus homens para lutar do
  lado dos sindicalistas contra os capangas pagos por Maranzano e os donos das lojas de vestidos. E
  em todas as frentes seu eficiente serviço de informações e sua organização superior o tornaram
  vencedor. A ferocidade jovial de Clemenza, que Corleone empregava judiciosamente, também
  contribuía para virar a sorte da batalha. E então Don Corleone mandou o regime de Tessio, que
  estava sendo mantido na reserva, atacar o próprio Maranzano.
    Nessa altura, Maranzano havia enviado emissários pedindo paz. Vito Corleone recusou-se a
  recebê-los, esquivando-se deles com base num ou noutro pretexto. Os soldados de Maranzano
  começaram  a  abandonar  o  líder  por  não  desejarem  morrer  por  uma  causa  perdida.  Os
  bookmakers e agiotas passaram a pagar à organização Corleone a sua proteção. A guerra estava
  quase terminada.
    Então,  finalmente,  na  véspera  de  Ano-Novo,  em  1933,  Tessio  penetrou  nas  defesas  do
  próprio Maranzano. Os lugares-tenentes de Maranzano estavam ansiosos para entrar em acordo e
  aceitaram em levar o chefe para o local de sacrifício. Disseram-lhe que tinham combinado uma
  reunião num restaurante do Brooklyn com Corleone e o acompanharam como guarda-costas.
  Deixaram-no  sentado  numa  mesa  axadrezada,  mastigando  lentamente  um  pedaço  de  pão,  e
  fugiram do restaurante quando Tessio e quatro de seus homens entraram. A execução foi rápida
  e certeira. Maranzano, com a boca cheia de pão meio mastigado, foi crivado de balas. A guerra
  terminara.
    O  império  de  Maranzano  foi  incorporado  à  organização  de  Corleone.  Don  Corleone
  estabeleceu  um  sistema  de  tributo,  permitindo que  todos  os  titulares  permanecessem  em  seus
  lugares  de  bookmakers  e  controladores  sindicais.  Em  compensação,  passou  a  ter  apoio  nos
  sindicatos  do  setor  de  roupas  feitas,  o  que  nos  anos  vindouros  se  tornaria  extremamente
  importante.  E  agora  que  havia  resolvido  seus  negócios,  Don  Corleone  viu-se  às  voltas  com
  dificuldades domésticas.
    Santino Corleone, Sonny, estava com 16 anos de idade e uma altura espantosa de 1,80m,
  ombros largos e um rosto grave e um tanto sensual, mas de modo algum afeminado. Porém,
  enquanto Fredo era um menino sossegado e Michael, naturalmente um fedelho, Santino estava
  constantemente  metido  em  complicações.  Vivia  brigando  na  rua,  era  mau  aluno  na  escola  e,
  finalmente, Clemenza, que era o padrinho do rapaz e tinha o dever de falar, veio a Don Corleone
  uma noite e informou-o de que o filho tomara parte num assalto à mão armada, uma aventura
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