Page 143 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
P. 143
pois qualquer um desses sulistas podia enfiar uma faca no indivíduo que o irritasse, embora esse
rapaz parecesse ser um sujeito calmo.
— Signor Roberto — disse Vito Corleone — a amiga de minha mulher, uma viúva pobre sem
um homem para protegê-la, contou-me que por algum motivo recebeu ordem para se mudar do
seu apartamento no edifício de propriedade do senhor. Ela está desesperada. Não tem dinheiro,
não tem amigas, a não ser as que vivem aqui. Eu disse a ela que falaria com o senhor, que o
senhor é um homem sensato que agiu assim por algum mal-entendido. Ela livrou- se do animal
que causou toda a confusão e, assim, por que não deve ela ficar? De um italiano para outro, peço
ao senhor que atenda ao favor.
O Signor Roberto estudava o homem postado diante de si. Viu um tipo de estatura média,
mas de constituição forte, um camponês, mas não um bandido, embora ele tão irrisoriamente
tivesse ousado chamar-se de italiano. O senhorio deu de ombros.
— Já aluguei o apartamento a outra família por um preço mais alto — retrucou. — Não
posso decepcionar essa família em benefício de sua amiga.
Vito Corleone acenou com a cabeça numa compreensão razoável.
— Quanto mais por mês? — perguntou ele.
— Cinco dólares — respondeu o Sr. Roberto.
Isso era mentira. O apartamento ferroviário, com quartos escuros, era alugado por doze
dólares por mês à viúva, e o Sr. Roberto não conseguiria arrancar mais do que isso do novo
inquilino.
Vito Corleone tirou um maço de notas do bolso e destacou três notas de dez dólares.
— Aqui está o aumento de seis meses adiantado. O senhor não precisa falar com ela sobre
isso, ela é uma mulher orgulhosa. Procure-me dentro de seis meses. Mas naturalmente o senhor
deixará que ela fique com o cachorro.
— Não me diga — retrucou o Sr. Roberto. — E quem diabo é você para me dar ordens!
Tome cuidado com os seus modos ou você será obrigado a voltar a andar no seu burrinho lá nas
ruas da Sicília.
Vito levantou as mãos surpreso.
— Estou apenas pedindo isso. Nunca se sabe quando se vai precisar de um amigo, não é
verdade? Receba esse dinheiro como sinal de minha boa vontade e tome a sua própria decisão.
Eu não me atreveria a brigar por causa disso. — Meteu o dinheiro na mão do Sr. Roberto. —
Faça.me esse pequeno favor, receba o dinheiro e pense no assunto. Amanhã de manhã, se o
senhor quiser devolver o dinheiro, por quem é, faça-o. Se o senhor quiser a mulher fora de sua
casa, como posso impedir o senhor? Afinal de contas, a propriedade é sua. Se o senhor não quer o
cachorro lá, eu compreendo. Eu mesmo não gosto de animais. — Bateu de leve no ombro do Sr.
Roberto. — Faça-me esse serviço, sim? Não esquecerei isso. Informe-se com seus amigos da
redondeza sobre mim, eles lhe dirão que sou um homem que sabe mostrar sua gratidão.
Mas naturalmente o Sr. Roberto já começara a compreender. À tardinha, ele fez suas
investigações sobre Vito Corleone. Não esperou até a manhã seguinte. Bateu na porta de
Corleone naquela mesma noite, desculpando-se pelo adiantado da hora, e aceitou um copo de
vinho oferecido pela Signora Corleone. Assegurou a Vito Corleone que tudo tinha sido um
horrível mal-entendido, que naturalmente a Signora Colombo podia continuar no apartamento e
naturalmente podia ficar com o cachorro. Quem eram esses miseráveis inquilinos para se
queixarem do barulho de um pobre animal, quando pagavam um aluguel tão baixo? No fim,
puxou os trinta dólares que Vito Corleone lhe tinha dado e os pôs sobre a mesa dizendo da
maneira mais sincera:
— A sua bondade em ajudar essa pobre viúva me envergonhou e desejo mostrar que eu
também pratico a caridade cristã. O aluguel dela continuará a ser o que era.
Todos os interessados desempenharam essa comédia com perfeição. Vito serviu mais vinho,
pediu à mulher que trouxesse bolos, apertou a mão do Sr. Roberto e elogiou o seu boníssimo
coração. O Sr. Roberto suspirou e respondeu que ter travado conhecimento com um homem