Page 144 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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como  Vito  Corleone  restituía-lhe  a  fé  na  natureza  humana.  Finalmente,  separaram-se
  efusivamente um do outro. O Sr. Roberto, com os nervos em pandarecos por ter escapado por
  um triz, pegou o bonde para a sua casa no Bronx e foi dormir. Só reapareceu no local três dias
  depois.
    Vito Corleone era agora um “homem de respeito” nas redondezas. Era reputado como sendo
  um membro da Máfia da Sicília. Um dia, um homem que mantinha jogos de cartas num quarto
  mobiliado veio a ele e voluntariamente começou a pagar-lhe vinte dólares por semana pela sua
  “amizade”.  Vito  tinha  apenas  de  visitar  o  jogo  uma  ou  duas  vezes  por  semana  para  que  os
  jogadores compreendessem que estavam sob sua proteção.
    Os comerciantes que tinham problemas com rapazes desordeiros pediam-lhe para intervir.
  Ele assim fazia e era convenientemente recompensado. Logo passou a ter renda, enorme para a
  época e o lugar, de cem dólares por semana. Desde que Clemenza e Tessio eram seus amigos,
  seus aliados, Vito tinha de dar a cada um deles parte do dinheiro, mas isso ele fazia sem que lhe
  pedissem. Finalmente resolveu entrar no negócio de importação de azeite com seu companheiro
  de infância, Genco Abbandando. Genco cuidaria do negócio, da importação do azeite da Itália,
  da compra ao preço adequado, da armazenagem no estabelecimento do pai. Clemenza e Tessio
  seriam  os  vendedores.  Iriam  a  todas  as  mercearias  italianas  de  Manhattan,  em  seguida  às  do
  Brooklyn, depois às do Bronx, para persuadir os merceeiros a estocar o azeite Genco Pura. (Com
  sua modéstia típica, Vito Corleone recusou-se a dar o seu próprio nome à marca do produto.)
  Vito naturalmente seria o chefe da firma desde que estava fornecendo a maior parte do capital.
  Também  seria  chamado  em  casos  especiais  em  que  merceeiros  resistissem  às  conversas  de
  venda de Clemenza e Tessio. Então Vito Corleone usaria os seus próprios poderes de persuasão.
    Durante os anos seguintes, Vito Corleone levou a vida plenamente satisfatória de um pequeno
  comerciante  inteiramente  dedicado  a  consolidar  sua  empresa  comercial  numa  economia
  dinâmica e em expansão. Ele era um pai e marido dedicado, mas tão ocupado que não podia
  devotar muito de seu tempo à família. À proporção que o azeite Genco Pura se tornava o óleo
  italiano importado mais vendido na América, a sua organização expandia-se rapidamente. Como
  qualquer bom negociante, começou a compreender os benefícios de suplantar os concorrentes
  vendendo por preço mais baixo, dificultando-lhes a distribuição por persuadir os merceeiros a
  estocar menos das marcas deles. Como qualquer bom negociante, Vito visava a conseguir um
  monopólio  forçando  os  concorrentes  a  abandonar  o  campo  ou  fundir-se  com  a  sua  própria
  companhia. Contudo, desde que se iniciara relativamente fraco, economicamente, desde que não
  acreditava  na  publicidade,  confiando  apenas  na  palavra  falada,  e  desde  que,  para  dizer  a
  verdade, seu azeite não era melhor do que o dos seus competidores, ele não podia usar os golpes
  decisivos  comuns  dos  negociantes  legítimos.  Tinha  de  confiar  na  força  de  sua  própria
  personalidade e na sua reputação de “homem de respeito”
    Embora  sendo  um  homem  moço,  Vito  Corleone  tornou-se  conhecido  como  um  “homem
  sensato”.  Nunca  pronunciava  uma  ameaça.  Sempre  usava  a  lógica,  que  era  realmente
  irresistível. Sempre assegurava que o outro cara teria a sua parte de lucro. Ninguém perdia. Ele
  fazia isso, naturalmente, por meios óbvios. Como muitos negociantes de gênio, ele entendia que a
  concorrência  livre  era  ruinosa,  o  monopólio  era  eficiente.  E  assim  simplesmente  procurava
  conseguir  esse  monopólio  eficiente.  Havia  atacadistas  de  azeite,  no  Brooklyn,  homens  de
  temperamento  irritável,  teimosos,  contrários  à  razão,  que  se  recusavam  a  perceber,  a
  reconhecer, a visão de Vito Corleone, mesmo depois que ele tinha explicado tudo a eles com a
  maior paciência e os mínimos detalhes. Com esses homens, Vito Corleone levantava os braços
  em  desespero  e  mandava  Tessio  ao  Brooklyn  para  instalar  o  quartel-general  e  resolver  o
  problema. Armazéns eram incendiados, caminhões carregados de azeite eram propositadamente
  tombados e o líquido oleoso se espalhava formando lagos nas ruas calçadas do cais. Um homem
  impetuoso,  um  milanês  arrogante  com  mais  fé  na  polícia  do  que  um  santo  tinha  em  Cristo,
  realmente procurara as  autoridades  para  apresentar  queixa  contra  seus  compatriotas  italianos,
  infringindo a lei de dez séculos da omertà. Mas antes que a questão pudesse ir um pouco adiante,
  o atacadista desapareceu, para nunca mais ser visto, abandonando sua dedicada esposa e três
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