Page 135 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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O tapete era uma rica peça de lã vermelha. Vito Corleone ficou espantado com a
generosidade de Clemenza. Os dois juntos enrolaram o tapete; em, seguida Clemenza pegou
numa ponta do rolo enquanto Vito pegava na outra. Levantaram-no e começaram a carregá-lo
na direção da porta.
Nesse momento, a campainha do apartamento tocou. Clemenza imediatamente deixou cair o
tapete e correu para a janela. Puxou a cortina ligeiramente para o lado, e o que ele viu fê-lo
sacar o revólver de dentro do paletó. Foi somente aí que o espantado Vito Corleone percebeu que
estavam roubando o tapete do apartamento de um estranho.
A campainha tocou novamente. Vito foi até perto de Clemenza para poder ver o que estava
acontecendo. Na porta havia um polícia uniformizado. Enquanto observavam, viram o polícia dar
um último toque na campainha da porta e depois dar de ombros e descer a escada de mármore e
seguir rua afora.
Clemenza deu um grito de satisfação e disse:
— Vamos embora.
Clemenza apanhou a sua ponta do tapete e Vito pegou a sua. O polícia mal tinha dobrado a
esquina e eles já saíam pela pesada porta de carvalho e caminhavam pela rua com o tapete entre
eles. Meia hora mais tarde estavam cortando o tapete para caber na sala de estar do apartamento
de Vito Corleone. Tinham ainda deixado um bom pedaço da peça para o quarto de dormir.
Clemenza trabalhava com desenvoltura, e dos bolsos de seu largo paletó, mal assentado (mesmo
então ele gostava de usar roupas folgadas, embora não fosse tão gordo), tirava as ferramentas
necessárias para cortar o tapete.
O tempo passava, mas as coisas não melhoravam. A família Corleone não podia comer o
bonito tapete. Muito bem, não havia trabalho, sua mulher e filhos deviam morrer de fome. Vito
apanhou alguns pacotes de mantimento com seu amigo Genco, enquanto pensava como resolver
a situação. Finalmente, foi procurado por Clemenza e Tessio, outro rapaz que era um mau
elemento da redondeza. Eram homens que pensavam bem dele, da maneira pela qual ele se
conduzia, e sabiam que ele estava desesperado. Propuseram lhe que se tornasse membro da
quadrilha deles, que se especializara em atacar caminhões de vestidos de seda depois que eram
carregados na fábrica da Rua 31. Não havia risco. Os motoristas dos caminhões eram
trabalhadores ajuizados que à vista de uma arma de fogo voavam para a calçada como anjos,
enquanto os assaltantes levavam o caminhão para ser descarregado no armazém de um amigo.
Uma parte da mercadoria era vendida a um atacadista italiano, e o restante vendido de porta em
porta nas zonas residenciais — Arthur Avenue, no Bronx, Mulberry Street, e distrito de Chelsea,
em Manhattan — tudo a famílias italianas pobres à procura de uma pechincha, cujas filhas
jamais poderiam dar-se ao luxo de comprar vestidos tão finos pelo preço real. Clemenza e Tessio
precisavam de Vito para dirigir o caminhão, pois sabiam que ele dirigira o caminhão de entrega
do armazém dos Abbandando. Em 1919, bons motoristas eram raríssimos.
Contra a própria vontade, Vito Corleone aceitou a oferta. O argumento decisivo foi o de que
ele arranjaria pelo menos mil dólares como sua parte no trabalho. Porém seus jovens
companheiros pareciam-lhe impetuosos, o plano de trabalho era duvidoso, a distribuição do
saque, malfeita. Todo o sistema de ação deles era muito deficiente para o seu gosto. Mas ele os
considerava rapazes direitos, bons. O corpulento Peter Clemenza inspirava segurança, e o
franzino e sério Tessio também.
O próprio trabalho processou-se sem qualquer dificuldade. Vito Corleone não sentiu medo,
para grande espanto seu, quando os seus dois camaradas puxaram as armas e fizeram o
motorista saltar do caminhão. Ficou também impressionado com a frieza de Clemenza e Tessio.
Não se mostraram nervosos, mas ao contrário brincaram com o motorista dizendo-lhe que se ele
se comportasse como um bom rapaz mandariam alguns vestidos para a mulher dele. Como Vito
achava que era estupidez vender ele mesmo os vestidos, resolveu entregar toda a sua parte do
roubo a um receptador, apurando apenas setecentos dólares, o que era uma soma enorme em
1919.
No dia seguinte, Vito Corleone foi detido na rua por Fanucci, que usava uma roupa creme e