Page 202 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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CAPÍTULO 22
    LUCY MANCINI, um ano após a morte de Santino, ainda sentia muita falta dele, sofrendo a
  sua ausência mais do que qualquer amante em um romance. Seus sonhos não eram tão insípidos
  como  os  de  uma  colegial,  e  seus  anseios  não  eram  os  de  uma  esposa  dedicada.  Não  estava
  desolada  pela  perda  do  “companheiro  de  sua  vida”,  nem  sentia  falta  dele  pelo  seu  caráter
  destemido.  Não  tinha  lembranças  ternas  de  natureza  sentimental,  de  adoração  juvenil  de  um
  herói,  de  seu  sorriso,  ou  do  brilho  engraçado  dos  seus  olhos  quando  ela  dizia  alguma  coisa
  carinhosa ou espirituosa.
    Não. Sentia a falta dele por um motivo mais importante. É que ele fora o único homem no
  mundo que conseguira fazer seu corpo sentir o ato de amor. Em sua juventude e ingenuidade,
  ainda acreditava que fora o único homem capaz de fazer isso.
    Agora, um ano depois, tomava seu banho de sol no refrescante clima de Nevada. Em sua
  companhia, um jovem franzino e louro brincava com os dedos dos seus pés. Estavam ao lado da
  piscina do hotel naquela tarde de domingo e, apesar de tanta gente ali presente, a mão do rapaz
  acariciava sua coxa nua.
    — Ó Jules, pare — pediu Lucy. — Pelo menos, pensei que os médicos não fossem tão bobos
  assim.
    — Eu sou um médico de Las Vegas.
    Coçou-lhe a parte interna da coxa e admirou-se como aquilo podia excitá-la tão fortemente.
  Demonstrava  isso  no  rosto,  embora  procurasse  ocultá-lo.  Realmente,  era  uma  garota  muito
  primitiva,  ingênua.  Por  que  ele  não  podia  fazê-la  entregar-se?  Ele  tinha  de  agir  logo,  não  se
  importando absolutamente com um amor perdido que jamais poderia ser substituído. Aqui, ele
  sentia o calor da pele dela que estava exigindo o calor de outro corpo. O Dr. Jules Segal decidiu
  que daria a grande investida naquela noite, no seu apartamento. Desejava que ela se entregasse
  sem qualquer artimanha, mas, se houvesse alguma, ele seria o homem indicado para isso. Tudo
  no interesse da ciência, é claro. E, além disso, essa pobre garota estava morrendo de desejo.
    — Jules, pare, por favor, pare — pediu Lucy novamente, com a voz trêmula.
    Jules atendeu imediatamente.
    — Está bem, querida — respondeu ele.
    Pôs  a  cabeça  no  colo  dela,  e  usando-lhe  as  coxas  macias  como  travesseiro,  tirou  uma
  soneca. Divertiu-se com suas contorções, com o calor que emanava de seu corpo, e quando ela
  pôs  a  mão  na  cabeça  dele  para  alisar-lhe  o  cabelo,  Jules  agarrou-lhe  o  pulso  brincando  e
  segurou-o amorosa mas firmemente, para sentir-lhe a pulsação. Estava aos galopes. Conquista-
  la-ia naquela noite e resolveria o mistério, fosse qual fosse. Cheio de confiança, o Dr. Jules Segal
  caiu no sono.
    Lucy observava o pessoal em torno da piscina. Jamais poderia ter imaginado que sua vida se
  modificasse  tanto,  em  menos  de  dois  anos.  Nunca  se  arrependera  de  sua  “bobagem”,  no
  casamento  de  Connie    Corleone.  Era  a  coisa  mais  admirável  que  lhe  tinha  acontecido,  e  ela
  sentira aquilo inúmeras vezes em seus sonhos. Como sentira vezes sem conta nos meses que se
  seguiram.
    Sonny visitava-a uma vez por semana; às vezes duas. Nos dias que precediam a visita dele,
  seu corpo ficava num verdadeiro tormento. A paixão que um nutria pelo outro era da maneira
  mais  elementar,  desprovida  de  poesia  ou  de  intelectualismo.  Era  o  amor  na  forma  mais
  grosseira, amor puramente carnal.
    Quando  Sonny  telefonava  para  avisar-lhe  que  ia  lá,  ela  se  certificava  se  havia  bastante
  bebida no apartamento e bastante comida para a ceia e para o breakfast, porque, geralmente, ele
  só  iria  embora  numa  hora  adiantada  da  manhã  seguinte.  Tanto  Sonny  como  Lucy  buscavam
  sentir o máximo prazer em suas relações. Sonny tinha a sua própria chave, e quando ele entrava,
  ela se atirava nos seus braços robustos. Eles eram brutalmente primitivos. Durante o primeiro
  beijo, apalpavam-se reciprocamente, ele a erguia no ar e ela envolvia suas pernas em torno das
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