Page 198 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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estaria esperando por ele.
Don Corleone tirara o paletó e a gravata e estava deitado no sofá. Seu rosto severo
apresentava sinais de cansaço. Fez um gesto para que Hagen se sentasse e perguntou:
— Bem, Consigliori, você desaprova algum dos meus atos de hoje?
Hagen levou tempo para responder.
— Não — disse ele. — Mas não acho isso coerente, não acho de acordo com a sua natureza.
Você diz que não quer descobrir como Santino foi morto nem quer vingança. Não acredito nisso.
Você deu a sua palavra de que queria a paz e manterá a paz, mas não posso acreditar que você
dê a seus inimigos s vitória que eles parecem ter obtido hoje. Você construiu um magnífico
enigma que não sou capaz de resolver; assim, como posso aprovar ou desaprovar?
Um olhar de contentamento se estampou no rosto de Don Corleone.
— Bem, você me conhece melhor do que qualquer outra pessoa. Mesmo que você não seja
siciliano, fiz de você um siciliano. Tudo o que você diz é verdade, mas há uma solução e você a
compreenderá antes que a coisa chegue ao fim. Você concorda que todos têm de aceitar a
minha palavra e que eu a manterei. E quero que as minhas ordens sejam obedecidas fielmente.
Mas, Tom, a coisa mais importante é que temos de fazer Michael voltar para casa o mais cedo
possível. Conserve isso em primeiro lugar em sua mente e em seu trabalho. Explore todos os
caminhos legais, não me importo quanto dinheiro você tem de gastar. Ele terá de estar
completamente seguro quando voltar para casa. Consulte os melhores advogados sobre direito
criminal. Eu lhe darei os nomes de alguns juízes que lhe concederão uma audiência particular.
Até aquele momento, teremos de estar realmente prevenidos contra todas as traições.
— Como você — retrucou Hagen — não estou tão preocupado com a prova concreta, mas,
sim, com a prova que eles forjarão. Também algum amigo do capitão poderá matar. Michael
depois que ele for preso. Poderão matá-lo dentro da prisão ou arranjar para que um dos presos o
faça. Como vejo a coisa, não podemos nem admitir que ele seja preso ou acusado.
Don Corleone deu um suspiro.
— Eu sei, eu sei. Esta é a dificuldade. Mas não podemos perder muito tempo. Há
complicações na Sicília. Os rapazes de lá não querem mais ouvir os mais velhos e alguns dos
homens deportados para a América são muito difíceis de ser manobrados pelos Dons antiquados.
Michael pode ser apanhado nesse meio tempo. Tomei algumas precauções contra isso, e ele
ainda tem uma boa cobertura, mas esta cobertura não pode durar sempre. Este foi um dos
motivos que me levaram a fazer a paz. Barzini tem amigos na Sicília e eles estão começando a
farejar a pista de Michael. Isso lhe fornece uma das respostas para o seu enigma. Tive de fazer a
paz para garantir a segurança de meu filho. Nada mais podia fazer.
Hagen não se preocupou em perguntar a Don Corleone como ele havia obtido essa
informação. Isso nem sequer o surpreendeu, e era verdade que resolvia parte do enigma.
— Quando eu me encontrar com o pessoal de Tattaglia para estabelecer os detalhes, devo
insistir em que todos os seus intermediários do tráfico de entorpecentes sejam limpos? Os juízes
ficarão um pouco intranqüilos quanto a dar sentenças leves a um homem com ficha na polícia.
Don Corleone deu de ombros.
— Eles devem ser bastante espertos para pensar nisso. Mencione apenas esse fato, mas não
insista nele. Faremos o possível, mas se eles usarem um verdadeiro cocainômano e ele for
apanhado não levantaremos sequer um dedo. Diremos a eles apenas que nada pode ser feito.
Mas Barzini é um homem que saberá isso sem que ninguém lhe diga. Você percebeu como ele
nunca se comprometeu nesse negócio, como é difícil notar-se que ele está interessado nisso. É
um homem que nunca está no lado perdedor
— Você quer dizer que ele estava atrás de Sollozzo e de Tattaglia todo o tempo? — perguntou
Hagen surpreso.
Don Corleone deu um suspiro.
— Tattaglia é um cáften. Ele jamais poderia derrotar Santino. Este é o motivo por que não
preciso saber o que aconteceu. Basta saber que Barzini estava por trás disso.