Page 196 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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chamado Rocco Lampone, chegaram à alameda de Long Beach. Quando entraram na casa, Don
Corleone disse a Hagen:
— Nosso motorista, esse tal de Lampone, mantenha o olho nele. É um sujeito que merece
coisa melhor, penso eu.
Hagen não compreendeu esta observação. Lampone não dissera uma só palavra durante o
dia todo, nem sequer lançara um olhar para os dois homens do assento traseiro. Abrira a porta
para Don Corleone, o carro estava em frente do banco quando eles saíram, fizera tudo
corretamente, mas nada mais do que qualquer motorista bem treinado certamente faria.
Evidentemente, o olho de Don Corleone percebera algo que ele não vira.
Don Corleone dispensou Hagen e disse-lhe para voltar depois da ceia, aconselhando-o a
aproveitar o tempo e descansar um pouco, pois eles teriam uma longa noite de discussão. Disse
também a Hagen que fizesse Clemenza e Tessio estarem presentes. Deviam chegar às 10 horas
da noite, não antes. Hagen deveria informar Clemenza e Tessio sobre o que acontecera na
reunião.
Às dez horas, Don Corleone estava esperando os três homens em seu escritório, a sala do
canto da casa, com sua biblioteca jurídica e telefone especial. Havia uma bandeja com garrafas
de uísque, gelo e soda. Don Corleone deu as suas instruções.
— Fizemos a paz esta tarde — disse ele. — Empenhei a minha palavra e a minha honra, e
isso deve ser bastante para todos vocês. Mas nossos amigos não merecem tanta confiança, assim
devemos manter todos eles ainda sob nossa vigilância. Não queremos mais pequenas e sujas
surpresas.
Don Corleone voltou-se para Hagen e perguntou:
— Você deixou os reféns Bocchicchio irem embora?
Hagen acenou com a cabeça afirmativamente.
— Telefonei para Clemenza assim que cheguei em casa.
Don Corleone virou-se para o maciço Clemenza. O caporegime acenou com a cabeça
afirmativamente.
— Eu os soltei. Diga-me uma coisa, Padrinho, é possível que um siciliano seja tão estúpido
como os Bocchicchio fingem ser?
Don Corleone deu uma pequena risada.
— Eles são bastante espertos para ter um bom meio de vida. Por que é necessário ser mais
esperto do que isso? Não são os Bocchicchio que causam as complicações deste mundo. Mas, é
verdade, eles não têm a cabeça de um bom siciliano.
Estavam todos com uma disposição de ânimo calma, agora que a guerra tinha acabado, O
próprio Don Corleone preparou as bebidas e trouxe uma para cada homem. Bebeu a sua
tranqüilamente e acendeu um charuto.
— Não quero que se faça nada para descobrir o que aconteceu com Sonny, isso está
combinado e deve ser esquecido. Quero toda a cooperação com as outras Famílias, mesmo que
elas se tornem um pouco gananciosas e não obtenhamos a parte que realmente nos compete nas
transações. Não quero que nada rompa essa paz, qualquer que seja a provocação, enquanto não
descobrirmos um meio de trazer Michael de volta. E quero que isso seja a primeira coisa na
cabeça de vocês. Lembrem-se disto, quando ele voltar deve estar em segurança absoluta. Não
me refiro aos Tattaglia ou aos Barzini. O que me preocupa é a polícia. Certamente, podemos
destruir toda prova concreta contra ele; o garçom não vai depor, nem aquele espectador ou
pistoleiro ou seja lá o que for. A prova concreta é o que menos nos preocupa, pois sabemos tudo
sobre ela. O que nos deve preocupar é a prova falsa que a polícia pode forjar porque os seus
informantes lhe garantiram que Michael Corleone é o homem que matou o capitão. Muito bem.
Temos de pedir que as cinco Famílias façam tudo o que puderem para anular essa crença da
polícia. Todos os seus informantes que trabalham com a polícia devem surgir com novas
histórias. Acho que depois do meu discurso desta tarde eles compreenderão que é do interesse
deles que façam assim. Mas isso não é o bastante. Temos de surgir com alguma coisa especial