Page 195 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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Família ninguém levantará um dedo contra qualquer homem aqui presente sem causa justa e a
  mais  extrema  provocação.  Estou  disposto  a  sacrificar  meus  interesses  comerciais  pelo  bem
  comum. Esta é a minha palavra, minha palavra de honra, e os que estão aqui presentes sabem
  que eu nunca a traí.
    Continuou Don Corleone:
    —  Mas  tenho  um  interesse  egoísta.  Meu  filho  mais  moço  teve  de  fugir,  acusado  do
  assassinato de Sollozzo e de um capitão de polícia. Devo agora arranjar para que ele volte para
  casa com segurança, livre de todas essas falsas acusações. Isso é uma coisa que me diz respeito e
  farei esse arranjo. Talvez eu deva encontrar os verdadeiros culpados ou talvez deva convencer as
  autoridades de sua inocência, talvez as testemunhas e os informantes desdigam suas mentiras.
  Mas repito que isso é uma coisa que me diz respeito e acredito que conseguirei trazer meu filho
  para casa.
    E concluiu:
    — Mas permitam-me dizer isto. Sou um homem supersticioso, um defeito ridículo, mas devo
  confessá-lo aqui. E assim se algum acidente infeliz ocorrer ao meu filho caçula, se algum oficial
  da polícia acidentá-lo, baleá-lo, se ele enforcar-se na prisão, se novas testemunhas aparecerem
  para depor contra ele, minha superstição me fará sentir que foi o resultado da má vontade que
  algumas pessoas aqui presentes ainda alimentam a meu respeito. Permitam-me que eu vá mais
  longe. Se meu filho for atingido por um raio de relâmpago culparei algumas das pessoas aqui
  presentes. Se seu avião cair no mar ou seu navio afundar sob as ondas do oceano, se ele pegar
  uma febre mortal, se seu automóvel for colhido por um trem, tamanha é a minha superstição que
  porei a culpa na má vontade que algumas pessoas aqui presentes alimentam. Senhores, essa má
  vontade, esse azar, eu jamais esquecerei. Mas, à parte isso, permitam-me jurar pela alma de
  meus netos que eu jamais romperei a paz que estabelecemos. Afinal de contas, somos ou não
  melhores do que esses pezzonovanti que mataram milhões e milhões de homens no decorrer de
  nossa existência?
    Pronunciadas  estas  palavras,  Don  Corleone  afastou-se  de  seu  lugar  e  saiu  da  mesa,
  encaminhando-se para onde estava sentado Don Phillip Tattaglia.
    Este levantou-se para saudá-lo e os dois homens se abraçaram, beijando-se reciprocamente
  na face. Os outros  Dons  presentes  à  sala  aplaudiram  e  levantaram-se  para  apertar  a  mão  de
  quem  estivesse  por  perto  e  para  felicitar  Don  Corleone  e  Don  Tattaglia  pela  nova  amizade
  estabelecida por eles. Não seria talvez a amizade mais calorosa do mundo, eles não mandariam
  saudações  de  boas  festas  um  para  o  outro,  mas  não  se  matariam  mutuamente,  Isso  já  era
  bastante amizade neste mundo, tudo o que era necessário.
    Como seu filho Freddie estava sob a proteção da Família Molinari no Oeste, Don Corleone
  demorou-se com o Don de São Francisco depois da reunião para agradecer-lhe. Molinari disse o
  bastante a Don Corleone para que ele compreendesse que Freddie lá estava em seu ambiente,
  era feliz e se tornara como que um conquistador de mulheres. Ele era um gênio para dirigir um
  hotel,  assim  parecia.  Don  Corleone  balançou  a  cabeça  admirado,  como  fazem  muitos  pais
  quando  são  informados  sobre  aptidões,  até  então  ignoradas,  possuídas  pelos  filhos.  Não  era
  verdade  que  às  vezes  as  maiores  infelicidades  traziam  recompensas  imprevistas?  Ambos
  concordaram que isso de fato era assim. Entrementes, Don Corleone tornou claro ao Don de São
  Francisco que era devedor daquele grande serviço prestado, a fim de proteger Freddie. Por tanto,
  informava-o  de  que  exerceria  a  sua  influência  para  que  as  importantes  comunicações
  telegráficas  sobre  as  corridas  estivessem  sempre  à  disposição  de  seu  pessoal,  quaisquer  que
  fossem as modificações na estrutura de poder nos anos vindouros, uma garantia importantissima,
  já que a luta em torno desse ponto era uma constante ferida aberta, complicada pelo fato de que
  o  pessoal  de  Chicago  mantinha  um  domínio  autoritário  sobre  aquilo.  Mas  Don  Corleone  tinha
  também  influência  naquela  terra  de  bárbaros  e  assim  a  sua  promessa  era  um  presente
  valiosíssimo.
    Já era noite, quando Don Corleone, Tom Hagen e o motorista e guarda-costas, um homem
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