Page 190 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
P. 190
também interesse em Miami e em Cuba. Depois da Família Corleone, a sua era talvez a mais
forte de Nova York e mesmo do pais A sua influencia se estendia ate a Sicília. O seu poder se
exercia em toda “boca rica” ilegal. Corria até o boato de que Barzini tinha um pé em Wall Street.
Ele apoiara a Família Tattaglia com dinheiro e influência desde o início da guerra Sua ambição
era suplantar Don Corleone como o mais poderoso e respeitado líder da Máfia no pais e
encampar uma parte do império dos Corleone. Era um homem bem semelhante a Don Corleone,
porém mais moderno, menos artificial, mais negociante. Nunca poderia ser chamado de velho
antiquado e gozava da confiança dos líderes mais novos, mais jovens e mais ousados em
ascensão. Era um homem de grande força pessoal, que agia de modo frio, não tendo nada da
vivacidade de Don Corleone, e era talvez nesse momento o homem mais “respeitado” do grupo.
O último a chegar foi Don Phillip Tattaglia, o chefe da Família Tattaglia, que desafiara
diretamente o poder dos Corleone, apoiando Sollozzo, e quase conseguira êxito. Contudo, o que
bastante curioso, ele era tratado com certo desprezo pelos outros. Por um motivo: sabia-se que se
deixara dominar por Sollozzo. Que de fato fora completamente subjugado por aquele finório
turco. Era considerado o responsável por toda aquela agitação, aquele barulho que afetara tanto a
conduta dos negócios diários das Famílias de Nova York. Além disso, era um almofadinha de
sessenta anos e mulherengo. E tinha ampla oportunidade de mostrar sua fraqueza.
Pois a Família Tattaglia operava com mulheres. Seu negócio principal era a prostituição.
Controlava também a maior parte dos cabarés dos Estados Unidos e podia pôr qualquer artista
em qualquer parte do país. Phillip Tattaglia não tinha escrúpulos em usar da violência para
conseguir o controle de cantores e humoristas promissores e entrar à força nas gravadoras de
discos. Mas a prostituição era a principal fonte da tenda da Família.
Sua personalidade era desagradável para aqueles homens. Ele era um “chorão”, sempre se
queixando das despesas no negócio da Família. As contas de lavanderia, todas aquelas toalhas,
devoravam os lucros (mas a lavanderia que fazia o trabalho era de sua propriedade). As garotas
eram preguiçosas e volúveis, fugindo, cometendo suicídio. Os cáftens eram traiçoeiros e
desonestos, sem qualquer sombra de lealdade. Era difícil encontrar gente que ajudasse. Os
rapazes de sangue siciliano torciam o nariz para esse tipo de trabalho, considerando ser
vergonhoso traficar e maltratar mulheres; aqueles canalhas que cortariam o pescoço de uma
vítima com uma canção nos lábios e um raminho de Páscoa na lapela do paletó. Assim Phillip
Tattaglia se lastimava para ouvintes indiferentes e desdenhosos. O seu maior lamento era
reservado para as autoridades que tinham o poder de conceder e cassar a concessão de licenças
de venda de bebidas alcoólicas em seus cabarés e boates. Ele jurava que tinha feito mais
milionários do que Wall Street com o dinheiro que tinha pago àqueles desonestos guardiões dos
selos oficiais.
De maneira curiosa a sua guerra quase vitoriosa contra a Família Corleone não lhe havia
granjeado o respeito que merecia. Todos sabiam que sua força vinha, primeiro, de Sollozzo e,
depois, da Família Barzini. Também o fato de que com a vantagem da surpresa ele não havia
conseguido a vitória completa era uma prova contra ele. Se tivesse sido mais eficiente, toda essa
complicação poderia ser evitada. A morte de Don Corleone teria significado o fim da guerra.
Era compreensível, desde que ambos perderam filhos na guerra entre eles, que Don
Corleone e Phillip Tattaglia reconhecessem a presença um do outro apenas com um aceno
formal. Don Corleone era o objeto da atenção, os outros homens estudando-o, para verem que
marca de fraqueza fora deixada nele pelos ferimentos e derrotas. O fator enigmático era porque
Don Corleone solicitara paz, depois da morte de seu filho favorito. Era um reconhecimento de
derrota e quase certamente levaria a uma redução de seu poder. Mas eles logo saberiam.
Houve saudações, bebidas foram servidas e quase outra meia hora transcorreu, antes que
Don Corleone tomasse assento à mesa de nogueira envernizada. Discretamente, Hagen sentou-se
na cadeira ligeiramente à esquerda do Don e atrás dele. Isso era o sinal para que os outros Dons
se encaminhassem para a mesa. Seus consigliori sentaram-se imediatamente atrás deles, a fim
de oferecer qualquer conselho quando necessário.
Don Corleone foi o primeiro a falar e agiu como se nada tivesse acontecido. Como se ele não