Page 189 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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poder,  muitas  atividades  de  franco-atiradores  sem  qualquer  apoio;  escarnecia  da  lei  muito
  descaradamente. Se os membros da Máfia de Chicago eram selvagens, então os de Boston eram
  gavoones, palermas rústicos; rufiões. O nome do Don de Boston era Domenick Panza. Era baixo,
  atarracado e, como disse dele um Don, parecia um ladrão.
    O sindicato de Cleveland, talvez a mais poderosa das organizações rigorosamente do jogo dos
  Estados Unidos, era representado por um homem idoso de aspecto sensível com feições sombrias
  e  cabelo  branco  como  neve.  Era  conhecido,  naturalmente  não  devido  ao  seu  rosto,  como  “o
  judeu”,  porque  se  cercava  de  assistentes  judeus  e  não-sicilianos.  Murmurava-se  até  que  ele
  nomearia um judeu para ser seu consigliori se assim resolvesse. Em todo caso, assim como a
  Família de Don Corleone era conhecida como a Quadrilha irlandesa devido à presença de Tom
  Hagen, assim também a Família de Don Vincent Forlenza era conhecida como a Família Judia,
  com um pouco mais de precisão. Mas ele dirigia uma organização extremamente eficiente e se
  sabia  que  jamais  havia  desmaiado  à  vista  de  sangue,  apesar  de  suas  feições  sensíveis.  Ele
  dominava com mão de ferro, embora usasse luva de veludo.
    Os representantes das cinco Famílias de Nova York foram os últimos a chegar, e Tom Hagen
  ficou impressionado com o aspecto imponente, arrogante, desses cinco homens em comparação
  com os “forasteiros”, os caipiras. Por algum motivo, os cinco Dons de Nova York estavam dentro
  da  velha  tradição  siciliana,  eram  “homens  de  peito  estufado”,  significando,  figuradamente,
  homens  de  poder  e  coragem;  e,  literalmente,  força  física,  como  se  as  duas  coisas  andassem
  juntas,  como  na  verdade  pareciam  ter  feito  na  Sicília.  Os  cinco  Dons  de  Nova  York  eram
  homens  robustos,  corpulentos,  com  cabeças  leoninas  maciças,  feições  grosseiras,  narizes
  carnosos,  bocas  espessas,  faces  sisudas,  enrugadas.  Não  estavam  muito  bem  vestidos  ou
  barbeados; tinham o aspecto de homens ocupados com coisas sérias e despidos de vaidade.
    Havia Anthony Stracci, que controlava a área de Nova Jersey e o embarque nas docas da
  Zona  Oeste  de  Manhattan.  Dirigia  a  jogatina  em  Jersey  e  era  muito  forte  junto  à  máquina
  política  democrática.  Possuía  uma  frota  de  caminhões  de  carga  que  lhe  rendia  uma  fortuna,
  principalmente porque os seus caminhões podiam trafegar com uma enorme sobrecarga, sem
  serem detidos nem multados pelos fiscais de peso das rodovias. Esses caminhões contribuíam
  para estragar as estradas e então a sua firma de construção de rodovias, com contratos lucrativos
  com o Estado, consertava os estragos feitos. Era o tipo da operação financeira que agradava a
  qualquer  homem,  o  próprio  negócio  criando  mais  negócio.  Stracci  também  era  antiquado  e
  jamais  se  metia  no  ramo  da  prostituição,  mas  como  o  seu  negócio  era  nas  docas,  era-lhe
  impossível não envolvê-lo no tráfico de entorpecentes. Das cinco Famílias de Nova York que se
  opunham aos Corleone, a dele era a menos poderosa, mas a que tinha mais disposição.
    A  Família  que  dominava  a  parte  superior  do  Estado  de  Nova  York,  que  providenciava  a
  entrada  clandestina  de  imigrantes  italianos  através  do  Canadá,  controlava  a  jogatina  daquela
  parte do Estado e exercia o poder do veto na concessão de licença estadual para o funcionamento
  de hipódromos, era chefiada por Ottilio Cuneo. Este era um homem de espírito conciliatório, com
  o  rosto  de  um  padeiro  jovial  inteiramente  rústico,  cuja  atividade  legítima  era  uma  grande
  companhia de leite. Cuneo era um desses homens que adorava crianças e levava o bolso cheio de
  balas, na esperança de poder agradar um de seus inúmeros netos ou a prole de seus sócios. Usava
  um chapéu de feltro redondo com a aba virada para baixo em toda a volta, como um chapéu de
  sol de mulher, que alargava o seu rosto já arredondado numa verdadeira máscara de jovialidade.
  Era um dos poucos Dons que nunca fora preso e cujas atividades verdadeiras jamais haviam sido
  objeto de suspeita. Tanto que ele servira em comitês cívicos e fora votado como o “Negociante
  do Ano do Estado de Nova York” pela Câmara de Comércio.
    O  maior  aliado  da  Família  Tattaglia  era  Don  Emilio  Barzini.  Controlava  uma  parte  da
  jogatina no Brooklyn e uma parte no Queens. Tinha alguma ligação com a prostituição. Possuía
  casas de jogo que usavam de falcatruas. Controlava completamente a Staten lsland. Operava um
  pouco nas apostas em jogos esportivos no Bronx e Westchester. Operava também no ramo dos
  entorpecentes Tinha fortes ligações com Cleveland e a Costa Oeste; era um dos poucos homens
  bastante astutos para estar interessado em Las Vegas e Reno as cidades abertas de Nevada. Tinha
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