Page 192 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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status quo antigo, que não perderia nada apesar de ter levado a pior durante o último ano.
Contudo, foi Emilio Barzini quem respondeu a Don Corleone, não Tattaglia. Foi sucinto e
objetivo sem ser rude ou afrontoso.
— Isso tudo é verdade — afirmou Barzini. — Porém há um pouco mais. Don Corleone é
bem modesto. O fato é que Sollozzo e os Tattaglia não podiam entrar no novo negócio deles sem
a assistência de Don Corleone. Na realidade a sua desaprovação os prejudicou. Isso é culpa sua.
O fato é que juízes e políticos que aceitariam favores de Don Corleone, mesmo quanto a
entorpecentes, não concordariam em ser influenciados por qualquer outra pessoa quando o
negócio fosse narcótico. Sollozzo não podia operar se não tivesse alguma garantia de que seu
pessoal não seria molestado. Todos nós sabemos disso. Do contrário, seríamos homens pobres. E
agora que aumentaram as penalidades, os juízes e os promotores públicos regateiam bastante
quando um elemento nosso se complica com o tráfico de entorpecentes. Mesmo um siciliano
condenado a vinte anos pode quebrar a omertà e acabar falando muita coisa. Isso não pode
acontecer. Don Corleone controla toda a máquina. A sua recusa em nos deixar usá-la não é um
ato de amizade. Ele tira o pão da boca de nossas famílias. Os tempos mudaram, não é mais como
antigamente, quando todo mundo podia seguir o seu próprio caminho. Se Corleone controla todos
os juízes de Nova York, então deve dividi-los conosco ou permitir que os usemos. Certamente
pode apresentar uma conta por tais serviços, não somos comunistas, afinal de contas. Mas tem de
permitir que tiremos água do poço. A coisa é assim muito simples.
Quando Barzini acabou de falar houve um silêncio. As linhas agora estavam traçadas, não se
podia voltar ao status quo anterior. O mais importante era que Barzini, ao falar, dissera que, se a
paz não fosse feita, ele abertamente se uniria aos Tattaglia na sua guerra contra os Corleone. E
assinalara um ponto de distinção. A vida e a fortuna deles dependiam de que se prestassem
serviços uns aos outros, e a negação de um favor pedido por um amigo era um ato de agressão.
Favores não eram pedidos levianamente e assim não podiam ser levianamente recusados.
Don Corleone, finalmente, tomou a palavra para responder:
— Meus amigos — começou.— não recuso por despeito. Todos vocês me conhecem.
Quando foi que já recusei um ajuste de negócio? Isso simplesmente não está em minha natureza.
Mas tive de recusar desta vez. Por quê? Por que penso que esse negócio de entorpecentes nos
destruirá nos próximos anos. Há um retraimento muito forte contra tal tráfico neste país. Não é
como uísque, jogo ou mesmo mulheres, que a maior parte das pessoas quer e os pezzonovanti da
Igreja e do governo os proíbem. Mas os entorpecentes são perigosos para toda pessoa ligada a
eles. Pode comprometer todos os outros negócios. E deixem-me dizer que me sinto lisonjeado
pela crença de que sou tão poderoso com os juízes e os funcionários da justiça; eu queria que isso
fosse verdade. Tenho realmente alguma influência, mas muita gente que respeita meu conselho
pode perder esse respeito se os entorpecentes se meterem nessa relação. Tem medo de se ver
envolvida em tal negócio e tem fortes ressentimentos contra ele. Mesmo muitos policiais que nos
ajudam na jogatina e em outras coisas se recusariam a nos ajudar em entorpecentes. Portanto,
pedir-me que preste um serviço nessa questão é pedir-me que preste um desserviço a mim
mesmo. Mas estou disposto a fazer até mesmo isso se todos vocês acharem conveniente a fim de
se acertarem outras coisas.
Quando Don Corleone acabou de falar, a sala ficou muito menos tensa, com mais sussurros e
conversações. Ele recuara no ponto principal. Oferecia sua proteção a qualquer empreendimento
organizado para o tráfico de entorpecentes. Don Corleone estava, com efeito, concordando quase
inteiramente com a proposta original de Sollozzo, desde que ela fosse endossada por todo o grupo
ali reunido. Compreendia-se que ele jamais participaria da fase operacional, tampouco investiria
seu dinheiro. Simplesmente usaria sua influência protetora junto ao aparelho legal. Mas isso era
uma concessão formidável.
O Don de Los Angeles, Frank Falcone, tomou a palavra para responder.
— Não há meio de impedir que a nossa gente entre nesse negócio. Ela entra por sua própria
conta e se complica. Há muito dinheiro nisso e é difícil resistir. Assim, é mais perigoso se não
entrarmos nele. Pelo menos se o controlarmos podemos protegê-lo melhor, organizá-lo melhor,