Page 203 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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coxas grossas dele. Amavam-se em pé mesmo, no vestíbulo do apartamento, como recordação
do primeiro ato de amor que realizaram juntos, e depois, ele a carregava para o quarto.
Ficavam amando-se na cama. Permaneciam juntos no apartamento, durante dezesseis
horas, completamente nus. Ela preparava-lhe grandes pratos. Às vezes, Sonny recebia
telefonemas sobre negócios, mas ela nunca prestava atenção às palavras. Estava sempre
ocupada, brincando com o corpo dele, acariciando-o, beijando-o, mordendo-o. Quando se
levantava para apanhar uma bebida e andava ao lado dela, Lucy não podia deixar de esticar a
mão para tocar-lhe o corpo nu, segurá-lo, amá-lo, como se o sexo dele fosse um brinquedo
especialmente fabricado, estranho mas inocente, e que provocava os êxtases conhecidos e
surpreendentes. A princípio, Lucy se sentia envergonhada desses excessos de sua parte, mas logo
verificou que agradavam seu amante, que a sua completa escravização à vontade dele o
lisonjeava; Em tudo isso, havia uma inocência animal e, reciprocamente, eram felizes.
Quando o pai de Sonny foi baleado na rua, ela compreendeu, pela primeira vez, que o seu
amante podia estar em perigo. Sozinha, em seu apartamento, Lucy não chorou, mas gemeu em
voz alta. Não tendo vindo vê-la, por quase três semanas, ela passou a tomar pílulas para dormir, a
beber, curtindo a própria angústia. Sentia uma dor física, e seu corpo doía. Quando finalmente
Sonny apareceu, ela ficou agarrada ao corpo dele durante quase todo o tempo. Depois, vinha
pelo menos uma vez por semana, até ser assassinado.
Lucy soube de sua morte através dos relatos dos jornais e, naquela mesma noite, tomou uma
dose maciça de pílulas para dormir. Por algum motivo, as pílulas, em lugar de a matarem,
deixaram-na tão doente, que ela saiu cambaleando pelo vestíbulo de seu apartamento e caiu
desmaiada em frente à porta do elevador, onde foi encontrada e levada para o hospital. Sua
ligação com Sonny não era conhecida por muita gente, assim seu romance mereceu apenas
algumas linhas nos tablóides.
Durante sua permanência no hospital, Tom Hagen foi visitá-la e consolá-la. Tom Hagen foi
quem lhe arranjou emprego no hotel dirigido por Freddie, irmão de Sonny. Tom também lhe
informou que ela receberia uma mesada da Família Corleone, pois Sonny estabelecera isso em
seu testamento. Perguntou-lhe se estava grávida, julgando ter sido esse o motivo por que ela
tomara as pílulas. Lucy respondeu negativamente. Inquiriu-lhe se Sonny viera vê-la naquela
noite fatal, ou telefonara para dizer que iria vê-la. Ela ainda lhe respondeu que não. Sonny não
lhe telefonara. Ela sempre esperava por ele, quando acabava de trabalhar. E contou toda a
verdade a Hagen.
— Ele foi o único homem que amei realmente — confessara. — Não posso amar mais
ninguém.
Ela o viu sorrir, embora também estivesse surpreso.
— Você acha isso tão inacreditável? — perguntou ela. — Não foi ele quem o levou para
casa, quando você era menino?
— Sonny era um ser diferente — respondeu Hagen — quando cresceu isso ainda mais se
acentuou.
— Não para mim — retrucou Lucy — talvez fosse para as outras pessoas.
Sentia-se ainda muito fraca para explicar como Sonny havia sido apenas gentil com ela.
Jamais se mostrava zangado, nem mesmo irritado ou nervoso.
Hagen tomou todas as providências para que ela se mudasse para Las Vegas. Um
apartamento alugado a estava esperando. Ele mesmo a levou ao aeroporto e fê-la prometer que,
se alguma vez se sentisse solitária, ou se as coisas não corressem bem, telefonaria para ele a fim
de ajudá-la como lhe fosse possível.
— Será que o pai de Sonny sabe o que você está fazendo? — perguntou-lhe Lucy hesitante,
antes de subir no avião.
— Estou agindo por ele — respondeu Hagen sorrindo — e também por mim mesmo. Ele é
antiquado nesse assunto e jamais se colocaria contra a mulher legal do filho. Mas sente que você
era apenas uma moça e Sonny devia saber melhor o que estava fazendo. Esse seu negócio de