Page 206 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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culpa.
    —  Você  se  sentiria  extremamente  insultada  se  eu,  pelo  menos,  nem  tentasse  —  retrucou
  Jules.
    E Lucy teve de dar uma gargalhada, porque era verdade.
    Nos  meses  seguintes,  tornaram-se  bons  amigos.  Não  faziam  amor,  por  que  Lucy  não
  permitia. Ela viu que Jules estava intrigado com sua recusa, mas não se magoara, como acontece
  com a maioria dos homens. Isso fê-la confiar ainda mais nele. Lucy descobriu que, por trás de
  seu aspecto profissional de médico, ele era brincalhão ao extremo e despreocupado. Nos fins de
  semana, Jules dirigia um carro adaptado nas corridas da Califórnia. Quando tirava férias, ia para
  o interior do México, um país selvagem, dizia ele, onde os estrangeiros eram assassinados por
  causa  de  seus  sapatos  e  a  vida  era  tão  primitiva  como  há  mil  anos  passados.  Por  simples
  casualidade,  Lucy  soube  que  Jules  era  cirurgião  e  tivera  ligação  com  um  famoso  hospital  de
  Nova York.
    Tudo isso e o fato de ele ter aceitado o emprego no hotel a intrigavam grandemente. Quando
  ela lhe perguntou acerca disso, respondeu:
    — Você me conta o seu segredo profundo e lhe contarei o meu.
    Lucy  corou  e  nunca  mais  tocou  no  assunto.  Jules  tampouco  insistiu  nele.  Essa  amizade
  continuou fervorosa e leal como jamais ela poderia imaginar.
    Agora,  sentada  ao  lado  da  piscina  com  a  cabeça  loura  de  Jules  no  colo,  Lucy  sentia  um
  irresistível  ternura  por  ele.  Suas  costas  doíam  e,  sem  perceber,  seus  dedos  friccionavam
  sensualmente a pele do pescoço dele. Jules parecia estar dormindo, não percebendo aquilo, e ela
  se excitava, justamente por senti-lo em contato com ela. De repente, ele ergueu a cabeça do seu
  colo e pôs-se de pé. Tomou-a pela mão e levou-a por cima da grama até a calçada de cimento.
  Seguiu-o  docilmente,  mesmo  quando  Jules  a  fez  entrar  numa  das  casas  onde  ficava  o  seu
  apartamento particular. Entraram e ele serviu enormes doses de bebidas para ambos. Depois do
  sol abrasador e dos seus próprios pensamentos sensuais, e bebida subiu-lhe à cabeça e fê-la tonta.
  Jules passou os braços em torno dela e os seus corpos, nus exceto pelas escassas roupas de banho
  que usavam, apertaram-se fortemente um de encontro ao outro. Lucy murmurava “não”, sem
  qualquer convicção em sua voz, e Jules não lhe dava atenção. Prontamente, ele arrancou-lhe o
  soutien para poder acariciar os enormes seios e beijá-los; depois, tirou-lhe as calças de banho e,
  enquanto o fazia, beijava-lhe o corpo, sua barriga redonda e as partes internas de suas coxas.
  Pôs-se de pé, procurando tirar o seu próprio calção de banho, abraçando-a. Já nus e abraçados
  fortemente, deitaram-se na cama, e ela o sentiu penetrar-lhe. Isso foi o bastante, apenas o leve
  toque, para que ela atingisse o clímax e, então, no segundo seguinte, pôde ver os movimentos de
  seu corpo, para surpresa sua. Sentiu a tremenda vergonha que tivera antes de conhecer Sonny,
  mas Jules puxava seu corpo para a borda da cama, pondo suas pernas numa certa posição e ela o
  deixava controlar os seus membros; então, ele estava penetrando-lhe novamente e beijando-a;
  desta vez, Lucy pôde senti-lo e perceber que Jules também caminhava para o clímax.
    Quando ele saiu de seu corpo, Lucy encolheu-se num canto da cama e começou a chorar.
  Sentia-se extremamente envergonhada. Ficou surpresa, quando ouviu Jules rir suavemente.
    — Você, sua bárbara carcamana, por que você levou esses meses todos me recusando? Sua
  boba! — murmurou Jules.
    Dissera “sua boba” com tanto afeto, que Lucy se voltou para ele.
    — Você é medieval, você é positivamente medieval — falou ele, apertando-a contra o seu
  corpo.
    Sua voz era suavemente confortante, enquanto ela continuava a chorar.
    Jules acendeu um cigarro e colocou-o na boca de Lucy, para que ela se engasgasse com a
  fumaça e parasse de chorar.
    — Agora, ouça-me — pediu ele — se você tivesse tido uma educação moderna decente,
  com uma cultura familiar que fizesse parte do século XX, seu problema teria sido resolvido há
  anos. Agora deixe-me dizer qual é o seu problema: não é ser feia, nem ter uma pele ruim e nem
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