Page 208 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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lhes  uma  curetagem  como  qualquer  mulher  raspa  uma  frigideira.  Freddie  Corleone  é  um
  verdadeiro terror. Pela minha conta, ele já emprenhou umas quinze garotas desde que estou aqui.
  Estou  pensando  seriamente  em  manter  com  ele  uma  conversa  de  pai  para  filho  sobre  sexo.
  Especialmente porque já tive de tratá-lo três vezes de gonorréia e uma de sífilis. Freddie é do tipo
  que não gosta de usar qualquer preventivo ou proteção.
    Jules parou de falar. Havia sido deliberadamente indiscreto, coisa que ele nunca fora, para
  que Lucy soubesse que outras pessoas, inclusive alguém que ela conhecia e temia como Freddie
  Corleone, tinham também segredos vergonhosos.
    — Pense nisso como um pedaço de elástico no seu corpo que perdeu a elasticidade — disse
  Jules. — Cortando um pedacinho, ele se torna mais apertado, mais vigoroso.
    — Vou pensar nisso — respondeu Lucy, mas tinha certeza de que realizaria aquilo, tinha
  confiança em Jules Depois ela pensou em outra coisa. — Quanto custará?
    Jules franziu as sobrancelhas.
    —  Não  tenho  aqui  a  aparelhagem  necessária  para  uma  operação  como  essa  e  não  sou
  especialista no assunto. Mas tenho um amigo em Los Angeles que é um bamba no assunto e tem
  a aparelhagem do melhor hospital. De fato, ele aperta todas as estrelas do cinema, quando essas
  senhoras descobrem que ter o rosto e os seios erguidos não é o suficiente para fazer um homem
  amá-las. Ele me deve alguns favores, de modo que não custará nada. Eu faço os abortos das
  clientes  dele.  Escute,  se  não  fosse  contra  a  ética  eu  lhe  daria  o  nome  de  algumas  artistas
  extremamente sensuais do cinema que fizeram a operação.
    Ela ficou imediatamente curiosa.
    — Oh, vamos, diga — pediu ela. — Diga.
    Seria um delicioso assunto de conversação e uma das coisas que agradavam a Jules era que
  assim ela pudesse mostrar seu pendor feminino pelo mexerico sem que ele risse daquilo.
    —  Eu  lhe  contarei  se  você  jantar  comigo  e  passar  a  noite  em  minha  companhia  —
  respondeu  Jules.  —  Temos  um  bocado  de  tempo  perdido  para  recuperar  por  causa  de  sua
  idiotice.
    Lucy sentiu uma imensa satisfação por ele ser assim tão generoso e re trucou:
    — Você não precisa dormir comigo, sabe que não sentirá prazer da maneira como estou
  agora.
    Jules explodiu na gargalhada.
    — Sua boba, sua grande boba. Você nunca ouviu falar em outro modo de fazer amor, muito
  mais antigo, muito mais civilizado? Será que você é assim tão inocente?
    — Oh, isso? — respondeu ela.
    — Oh, isso? — remedou ele. — Garotas distintas não fazem isso, homens viris não fazem
  isso. Mesmo no ano de 1948. Bem, querida, posso levar você à casa de uma velhinha exatamente
  aqui em Lãs Vegas que era a caftina mais moça do bordel mais popular nos velhos tempos do
  Oeste, lá por 1880, penso eu. Ela gosta de falar nos velhos tempos. Você sabe o que ela me disse?
  Que aqueles pistoleiros, aqueles cowboys másculos, viris, de tiro certeiro pediam às garotas que
  lhes proporcionassem um “gozo à francesa”, o que nós médicos chamamos felação, o que você
  chama, “oh, isso?” Você pensou alguma vez em fazer “oh, isso?” com o seu querido Sonny?
    Pela primeira vez, ela realmente o surpreendeu. Virou-se para Jules com o que ele poderia
  pensar apenas que fosse o sorriso da Mona Lisa (seu espírito científico imediatamente voando até
  a  tangente,  poderia  ser  essa  a  solução  desse  mistério  que  já  dura  séculos?)  e  respondeu
  calmamente:
    — Eu fazia tudo com Sonny.
    Era a primeira vez que ela admitia uma coisa como essa para alguém.
    Duas semanas depois, Jules Segal estava na sala de operações do hospital de Los Angeles
  observando o seu amigo Dr. Frederick Kellner executar a sua especialidade. Antes de Lucy ser
  anestesiada, Jules inclinou-se sobre ela e murmurou-lhe no ouvido:
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