Page 213 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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Finalmente, Jules ficou realmente aborrecido. Procedera como um verdadeiro medico e isso
  tinha sido um prazer. Fizera um grande favor a esse salafrário e Johnny estava se comportando
  como se ele tivesse agido erradamente. Jules disse friamente:
    — Escute, Sr. Fontane, sou formado em medicina, e você pode muito bem me chamar de
  médico e não de menino. E eu lhe dei notícias muito boas. Quando eu o trouxe aqui, estava certo
  de que você tinha uma excrescência maligna na laringe que poderia resultar na extirpação de
  todo o seu aparelho vocal. Ou que o mataria. Estava preocupado com o fato de que talvez tivesse
  de lhe dizer que você era um homem morto. E senti-me muito feliz quando tive de dizer apenas
  “verrugas”. Porque a sua voz de cantor me deu tanto prazer, me ajudou a seduzir garotas quando
  eu  era  mais  moço  e  você  era  um  verdadeiro  artista.  Mas  você  também  é  um  sujeito  muito
  mimado. Pensa que porque é Johnny Fontane não pode ter câncer? Ou um tumor cerebral que
  não se pode operar? Ou um colapso cardíaco? Você pensa que não vai morrer nunca? Bem, tudo
  na vida não é doce música, e se você quer ver uma verdadeira complicação dê uma volta neste
  hospital  e  você  cantará  uma  canção  de  amor  sobre  verrugas.  Assim,  deixe  de  palhaçada  e
  continue  a  fazer  o  que  realmente  deve.  O  seu  Adolphe  Menjou  médico  pode  arranjar-lhe  o
  cirurgião indicado, mas se ele tentar entrar na sala de operações, sugiro que você deve mandar
  prendê-lo por tentativa de homicídio.
    Jules começava a sair do quarto, quando Nino exclamou:
    — Aí, doutor, isso mesmo é o que ele merece que se diga.
    Jules virou-se para ele e perguntou:
    — Você sempre fica “na água” antes do meio-dia?
    — Sem dúvida — respondeu Nino.
    Arreganhou  os  dentes  com  tão  bom  humor  que  Jules  disse  mais  gentilmente  do  que
  pretendia:
    — Você precisa pensar que pode morrer dentro de cinco anos, se continuar assim.
    Nino arrastou-se com dificuldade até Jules, dando uns passos curtos de dança. Pôs os braços
  em  volta  do  médico,  exalando  um  forte  cheiro  de  uísque.  e  deu  uma  gostosa  gargalhada,
  perguntando:
    — Cinco anos? Ainda vou durar tanto tempo assim?
    Um mês depois da operação, Lucy Mancini estava sentada à beira da piscina do hotel de Las
  Vegas, com uma mão segurando um coquetel e com a outra afagando a cabeça de Jules, que
  repousava em seu colo.
    —  Você  não  precisa  reunir  coragem  assim  —  disse  Jules  irritado.  —  Tenho  champanha
  esperando por nós no apartamento.
    — Você tem certeza de que já está bom tão cedo? — perguntou Lucy.
    — Eu sou o médico — respondeu Jules. — Hoje é a grande noite. Você sabe que serei o
  primeiro  cirurgião  na  história  da  medicina  que  vai  provar  os  resultados  de  sua  operação
  cirúrgica? Você sabe, conheço o antes e conhecerei agora o depois. Vou gostar de escrever isso
  para  as  revistas  especializadas.  Vejamos,  “enquanto  o  antes  era  distintamente  agradável  por
  motivos  psicológicos  e  refinamento  do  cirurgião-instrutor,  o  coito  pós-operatório  era
  extremamente  recompensador  rigorosamente  por  motivo  neurológico  —  ele  parou  de  falar
  porque Lucy lhe puxara o cabelo com bastante força para fazê-lo gritar de dor.
    Ela sorriu para ele e disse:
    — Se você não ficar satisfeito esta noite, posso realmente dizer que a culpa é sua.
    — Garanto o meu trabalho. Eu o planejei, embora tenha deixado o velho Kellner fazer o
  labor manual — acentuou Jules. — Agora descansemos um pouco, temos uma longa noite de
  pesquisa pela frente.
    Quando  subiram  para  o  apartamento  deles  —  estavam  agora  vivendo  juntos  —  Lucy
  encontrou uma surpresa à sua espera: uma saborosa ceia, e perto de sua taça de champanha um
  estojo contendo um enorme anel de noivado de brilhantes.
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