Page 61 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
P. 61

Eles freqüentemente brigavam quando eram mais jovens.
    Sonny deu de ombros.
    — Escute, menino, fiquei preocupado quando não pude encontrá-lo naquela cidade caipira.
  Não que eu desse a mínima importância se eles o massacrassem, mas eu não gostava da idéia de
  ter de levar a notícia á velha. Eu tinha de dar-lhe a notícia sobre o papai.
    — Como recebeu ela a notícia? — perguntou Michael.
    — Bem — respondeu Sonny. — Ela já passou por isso antes. Eu também. Você era ainda
  muito  pequeno  para  tomar  conhecimento  disso,  e  depois  coisas  se  tomaram  muito  calmas
  enquanto você crescia. — Fez uma pausa e depois continuou: — Ela está no hospital com o velho.
  Ele vai ficar bom.
    — Que tal irmos até o hospital? — perguntou Michael,
    Sonny balançou a cabeça em negação e respondeu secamente:
    — Não posso deixar esta casa até que tudo esteja terminado.
    O  telefone  tocou.  Sonny  apanhou-o  e  ouviu  atentamente.  Enquanto  ele  ouvia,  Michael
  aproximou-se  lentamente  da  escrivaninha  e  deu  uma  olhadela  para  o  bloco  amarelo  no  qual
  Sonny  estivera  escrevendo.  Havia  uma  lista  de  sete  nomes.  Os  três  primeiros  eram  Sollozzo,
  Phillip Tattaglia e John Tattaglia. Foi um rude golpe para Michael interromper Sonny e Tessio
  quando eles estavam preparando uma lista de homens que deviam ser assassinados.
    Depois de desligar, Sonny voltou-se para Thereza Hagen e Michael, dizendo:
    — Vocês dois podem esperar lá fora? Tenho um trabalho com Tessio que temos de acabar.
    — Esse telefonema foi sobre Tom? — perguntou Thereza.
    Ela falou de modo quase truculento, mas estava chorando de medo. Sonny pôs o braço em
  volta dela e conduziu-a até a porta.
    — Juro que ele vai se sair bem — disse ele. — Espere na sala de estar. Sairei daqui assim
  que souber qualquer coisa.
    Fechou a porta atrás dela. Michael sentara-se numa das grandes poltronas de couro. Sonny
  deu-lhe um rápido olhar penetrante e foi sentar-se na cadeira da escrivaninha.
    — Você fica me rondando, Mike — declarou Sonny — você vai ouvir coisas que não quer.
    Michael acendeu um cigarro.
    — Posso ajudar — retrucou.
    — Não, você não pode — replicou Sonny. — O velho ficaria danado da vida se eu deixasse
  você se meter nisso.
    Michael levantou-se e gritou.
    —  Seu  crápula  nojento,  ele  é  meu  pai.  Não  permitem  que  eu  ajude?  Posso  ajudar!  Não
  preciso sair para matar gente, mas posso ajudar. Pare de me tratar como um irmãozinho. Estive
  na guerra. Fui ferido, lembra-se? Matei alguns japoneses. Que diabo você pensa que vou fazer
  quando você massacrar alguém? Desmaiar?
    Sonny arreganhou os dentes para ele.
    — Daqui a pouco você vai querer que eu levante as mãos. Está bem, fique aqui, você pode
  atender o telefone. — Voltou-se para Tessio: — Essa chamada que acabo de receber deu-me a
  informação  que  a  gente  precisava.  —  Depois  dirigiu-se  a  Michael:  Alguém  deve  ter  traído  o
  velho.  Pode  ter  sido  Clemenza,  pode  ter  sido  Paulie  Gatto,  que  hoje  esteve  muito
  convenientemente doente. Sei a resposta agora, vamos ver se você é mesmo esperto, Mike, você
  que está na escola. Quem se vendeu a Sollozzo?
    Michael sentou-se novamente e reclinou-se confortavelmente na poltrona de couro. Pôs-se a
  pensar em tudo muito cuidadosamente, Clemenza era um caporegime na estrutura da Família
  Corleone. Don Corleone o tinha feito milionário e eles eram amigos íntimos há mais de vinte
  anos.  Clemenza  ocupava  um  dos  cargos  mais  poderosos  da  organização.  Que  poderia  ganhar
  traindo  Don  Corleone?  Mais  dinheiro?  Ele  era  bastante  rico,  mas  os  homens  são  sempre
  gananciosos. Mais poder? Vingança por algum insulto imaginário por alguma desconsideração?
   56   57   58   59   60   61   62   63   64   65   66