Page 63 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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não tem utilidade para eles. Podem soltá-lo ou matá-lo, dependendo de como Sollozzo se sinta no
momento. Se o matassem, seria apenas para nos mostrar que eles realmente querem negociar,
procurando assim nos coagir.
— O que levou Sollozzo a pensar que podia fazer um trato com você? — perguntou Michael
calmamente.
Sonny ficou vermelho e não respondeu por um momento. Depois falou:
— Tivemos uma reunião há alguns meses, Sollozzo veio a nós com uma proposta sobre
narcóticos. O velho rejeitou-a. Mas, durante a reunião, soltei um pouco a língua, mostrei que
queria fazer o acordo. O que é exatamente a coisa errada a fazer; se há algo que o velho sempre
me martelou na cabeça é nunca agir dessa forma, deixar que outras pessoas percebam que há
uma divergência de opinião na Família. Assim, Sollozzo pensa que se ele eliminar o velho, tenho
de entrar no negócio de narcóticos com ele. Morrendo o velho, o poder da Família fica reduzido
pelo menos à metade. Eu teria de lutar pela vida, de qualquer modo, para manter todos os
negócios que o velho conseguiu reunir. Os narcóticos são o próximo bom negócio, devemos
entrar nele. E o atentado contra o velho é simplesmente negócio, nada pessoal. Por uma questão
de negócio, eu faria um trato com ele. Na certa, Sollozzo nunca me deixa ria chegar muito perto,
procuraria garantir-se para que eu nunca pudesse usá-lo como alvo, caso eu o quisesse. Mas ele
também sabe que, uma vez que aceitei o trato, as outras Famílias nunca me deixariam começar
uma guerra, alguns anos depois, só por vingança. Além disso, a Família Tattaglia está por trás
dele.
— Se eles tivessem eliminado o velho, o que faria você? — perguntou Michael.
— Sollozzo é um homem morto — respondeu Sonny simplesmente. — Não me importo o
que vai custar. Não me importo se vamos ter de lutar com todas as cinco Famílias de Nova York.
A Família Tattaglia vai ser riscada do mapa. Não me importo se todos nós vamos levar a breca
juntos.
— Isso não é o processo pelo qual papai agiria — atalhou Michael.
Sonny fez um gesto violento.
— Sei que não sou o homem que ele era. Mas eu lhe digo isso e ele lhe dirá também. Quando
chega o momento de agir realmente, posso trabalhar tão bem quanto qualquer outra pessoa, à
queima-roupa. Sollozzo sabe disso e também o sabem Clemenza e Tessio. Eu “estreei” quando
tinha dezenove anos, a última vez que a Família teve uma guerra, e fui urna grande ajuda para o
velho. Não me preocupo agora. E a nossa Família está jogando tudo num negócio como esse. Eu
gostaria que pudéssemos entrar em contato com Luca.
Michael perguntou curiosamente:
— Luca será tão duro, como eles dizem? Será que é tão bom?
Sonny acenou a cabeça afirmativamente.
— Ele pertence a uma classe especial. Vou mandá-lo eliminar os três Tattaglia. Eu próprio
cuidarei de Sollozzo.
Michael moveu-se inquietamente em sua poltrona. Olhou para o irmão mais velho.
Lembrou-se de que Sonny era, às vezes, casualmente bruto, mas essencialmente bondoso. Um
ótimo sujeito. Não parecia natural ouvi-lo falar dessa maneira, era bastante desagradável ver a
lista de nomes que ele havia escrito, homens para serem executados, como se ele fosse algum
imperador romano recém-coroado. Ele estava contente por não fazer verdadeiramente parte de
tudo isso, por saber que o pai estava vivo e que ele próprio não teria de envolver-se em casos de
vingança. Ele ajudaria, atendendo o telefone, mandando recados e mensagens. Sonny e o velho
podiam cuidar de si mesmos, especialmente com Luca por trás deles.
Nesse momento, ouviu uma mulher gritar na sala de estar. Oh, Cristo, pensou Michael,
parecia ser a mulher de Tom. Correu para a porta e abriu-a. Todos na sala estavam em pé. E
perto do sofá Tom Hagen abraçava apertadamente Thereza, com o rosto desconcertado. Thereza
estava chorando e soluçando, e Michael compreendeu que o grito que ouvira tinha sido o dela
pronunciando com alegria o nome do marido. Enquanto Michael observava, Tom Hagen