Page 58 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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CAPÍTULO 3
    CONTANDO com o motorista, havia quatro homens no carro com Hagen. Puseram-no no
  assento traseiro, no meio dos dois homens que o tinham acompanhado na rua. Sollozzo sentou-se
  na frente. O homem à direita de Hagen passou-lhe o braço pelo corpo e inclinou o chapéu de
  Hagen sobre os seus olhos para que ele não pudesse ver.
    — Não mova nem mesmo o dedo mindinho — disse ele.
    Foi uma viagem curta que não durou mais de vinte minutos, e quando saltaram do carro,
  Hagen  não  pôde  reconhecer  o  itinerário  devido  à  espessa  escuridão.  Conduziram-no  a  um
  apartamento de subsolo e fizeram-no sentar numa cadeira de cozinha de costas retas. Sollozzo
  sentou-se  na  mesa  da  cozinha  no  lado  oposto  a  ele.  O  seu  rosto  escuro  tinha  um  aspecto
  peculiarmente rapace.
    — Não quero que você fique com medo — declarou Sollozzo. — Sei que você não pertence
  ao grupo violento da Família. Quero que você ajude os Corleone e que me ajude também.
    As mãos de Hagen tremiam quando ele pôs um cigarro na boca. Um dos homens trouxe
  uma garrafa de uísque e serviu-lhe uma dose numa xícara de café de porcelana. Hagen ingeriu a
  bebida ardente com prazer. Deu-lhe firmeza nas mãos e tirou-lhe a fraqueza das pernas:
    — Seu chefe está morto — comunicou Sollozzo. Fez uma pausa, surpreso com as lágrimas
  que rolaram dos olhos de Hagen. Depois prosseguiu: — Nós o liquidamos no lado de fora de seu
  escritório, na rua. Assim que recebi a notícia, eu o apanhei. Você tem de restabelecer a paz entre
  mim e Sonny.
    Hagen  não  respondeu.  Estava  surpreso  com  sua  própria  dor.  E  com  um  sentimento  de
  desolação misturado com o seu medo de morrer. Sollozzo voltou a falar:
    — Sonny ficou entusiasmado pela minha proposta. Não é verdade? Você sabe que é a coisa
  acertada a se fazer também. Narcóticos é o próximo bom negócio. Há tanto dinheiro a se ganhar
  nisso que qualquer pessoa pode ficar rica em poucos anos. Don Corleone era um velho antiquado,
  seu tempo tinha passado, mas ele não sabia. Agora ele está morto, nada pode fazê-lo ressuscitar.
  Estou disposto a fazer uma nova proposta, quero que você fale com Sonny para aceitá-la.
    — Você não tem qualquer chance — retrucou Hagen. — Sonny virá atrás de você com tudo
  o que lhe for possível.
    — Isso vai ser a primeira reação dele — disse Sollozzo impacientemente. — Você precisa
  dar-lhe conselhos sensatos. A Família Tattaglia está por trás de mim com todo o seu pessoal. As
  outras  Famílias  de  Nova  York  vão  fazer  tudo  o  que  for  possível  para  evitar  uma  guerra  em
  grande escala entre nós. A nossa guerra tem de prejudicar a eles e a seus negócios. Se Sonny
  resolver topar o negócio, as outras Famílias do país acharão que isso não é da conta delas, até
  mesmo os amigos mais antigos de Don Corleone.
    Hagen  de  cabeça  baixa  fixava  os  olhos  em  suas  próprias  mãos,  sem  responder.  Solozzo
  prosseguiu persuasivamente;
    — Don Corleone estava-se esquivando. Nos velhos tempos, eu jamais poderia chegar até ele.
  As outras Famílias perderam a confiança nele porque ele fez de você seu consigliori e você nem
  mesmo é italiano, muito menos siciliano. Se isso se tornar uma guerra total, a Família Corleone
  será esmagada e todo mundo perde, inclusive eu. Preciso dos contatos políticos da Família mais
  do  que  preciso  mesmo  do  dinheiro.  Assim,  fale  com  Sonny,  fale  com  os  caporegime s;  você
  poupará muito derramamento de sangue.
    Hagen estendeu a sua xícara de porcelana pedindo mais uísque.
    —  Vou  tentar  —  replicou.  —  Mas  Sonny  é  teimoso.  E  mesmo  Sonnny  não  é  capaz  de
  dissuadir Luca. Você tem de se preocupar com Luca. Eu terei de me preocupar com Luca, se
  apresentar a sua proposta.
    — Eu cuidarei de Luca — retrucou Sollozzo calmamente. — Você cuida de Sonny e dos
  outros dois meninos. Escute, você pode dizer-lhes que Freddie poderia ter sido eliminado hoje
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